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Professora de área carente de São Paulo está entre os 10 finalistas do Nobel da Educação

Com seu projeto ‘Robótica com Sucata’, que já ajudou a tirar mais de 1 tonelada de lixo das ruas de São Paulo, Débora Garofalo foi selecionada entre mais de 10 mil candidatos do mundo inteiro e está entre os 10 melhores professores do mundo. Agora, a professora de Língua Portuguesa, que ensina tecnologia numa área carente da capital paulista, vai representar o país no 'Global Teacher Prize' 2019, o 'Nobel da Educação', que tem prêmio de US$ 1 milhão.

Débora Garofalo ensina matérias de tecnologia em uma área carente de São Paulo, cercada por quatro favelas famosas pela violência. — Foto: DivulgaçãoDébora Garofalo ensina matérias de tecnologia em uma área carente de São Paulo, cercada por quatro favelas famosas pela violência. — Foto: Divulgação

Em entrevista, Débora conta que ficou muito emocionada com a indicação e que já tem planos para a “pequena fortuna”, caso seja a vencedora: reinvestir o dinheiro e levar a robótica para outros cantos do país. “Já fico imaginando uma comunidade ribeirinha de Manaus recebendo o laboratório e podendo vivenciar essa aprendizagem”, diz, parecendo ainda não acreditar na indicação.

A professora, que trabalha com crianças entre 6 e 14 anos, já conta com uma carreira premiada: foi “professor destaque” pela Secretaria Municipal de Educação SP em 2018 e vencedora na temática “Especial”, do Prêmio Professores do Brasil, também em 2018.

Sua metodologia foi incluída nas diretrizes de formação do CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira) e virou referência para professores de todo o país. Débora também foi finalista de Aprendizagem Criativa da Fundação Lemann/MIT Media Lab e do Prêmio Claudia na categoria “políticas públicas”.

No meio disso tudo, Débora ainda encontra tempo para terminar um mestrado e dar palestras e treinamentos por todo o Brasil. Mas a indicação ao “Global Teacher Prize” trouxe ainda mais reconhecimento. “Depois da indicação, sem dúvida a visibilidade aumentou muito! Vejo secretarias de educação querendo que eu vá fazer a formação docente. E eu acredito que esse é o caminho. O professor também precisa ser despertado para essa aprendizagem”.

- Como você recebeu a notícia de que estava no Top 10 de professores do mundo?

Estava em casa e recebi uma mensagem da Fundação Varkey, que gostariam de falar comigo. Eles me ligaram, fizeram algumas perguntas, naquele ar de mistério e de repente, com um grande público reunido na Argentina me deram a notícia: eu era uma Top 10. Foi uma imensa alegria, ver todos reunidos, aplaudindo. Chorei muito, já que eu não esperava essa notícia.

Depois de passar pelo Top 50 e ver o quanto esses professores têm trabalhos maravilhosos, ver nosso trabalho entre os 10 é uma alegria muito grande!

- E você já tem planos para o caso de ganhar o prêmio de US$ 1 milhão?

Pensei nesse prêmio desde o primeiro momento. Não por ter uma expectativa, afinal já estou muito feliz de ter chegado até aqui, mas se realmente formos contemplados eu gostaria de investir esse dinheiro em cada canto do país, para poder multiplicar esse trabalho de robótica com sucata. Levar esse aprendizado para onde ele não exista. Já fico imaginando uma comunidade ribeirinha de Manaus recebendo o laboratório e podendo vivenciar essa aprendizagem.

- As pessoas acham que tecnologia é só um computador. E esse é um ponto importante no seu trabalho, de mostrar que é muito mais que isso. Você acha que esse é um diferencial?

Acho que a grande diferença do trabalho não é o ensino de robótica, mas você poder olhar para a comunidade e intervir nela, numa educação realmente pautada na questão da sustentabilidade, principalmente pela questão da falta de recursos no nosso país. Eu sempre procuro manifestar publicamente meu desejo de que isso se torne uma política pública, para que o Brasil possa vivenciar esse ensino de robótica em toda a rede pública.

Débora Garofalo em sala de aula em São Paulo. — Foto: DivulgaçãoDébora Garofalo em sala de aula em São Paulo. — Foto: Divulgação

- Você tem essa proposta forte, que é de intervir na comunidade, e não deixar a educação como algo restrito à sala de aula. Como isso muda a aprendizagem dos alunos?

É poder trabalhar outra forma de conceber a aprendizagem. É pegar todas as áreas do conhecimento, que até então são muito desconectadas ainda dentro de uma sala de aula, e aplicá-las em cima de um problema real, social, existente. E usar isso na comunidade, intervindo, mudando, e gerenciando o trabalho da robótica, que é tão importante hoje em dia, pela questão das competências socioemocionais, pela colaboração, e pela empatia.

- Muita gente ainda tem em mente que o ensino, e mesmo as inovações no ensino, tendem a ficar sempre restritos à sala de aula. É possível mudar isso?

É uma nova abordagem. É poder tirar o aluno da passividade. O aluno que por anos participou desse processo apenas como receptor de conhecimento, agora ele pode atuar, se envolver dentro dessa aprendizagem, e construir algo significativo não só para ele, mas para que ele já vá fazendo essa vivência de mundo como um cidadão global. Esse é um outro grande ponto forte do trabalho: a possibilidade de replicação. Não é algo que precise de muito investimento para que ocorra. Parte somente de uma transformação dos atores que vivenciam a educação.

- Desde a indicação do Top 50, você conseguiu alguma visibilidade maior do seu projeto, como por exemplo treinar professores em outras unidades, outros estados?

Eu já vinha fazendo um pouco desse trabalho de formação de professores, de forma gratuita, desde 2016, quando tudo ficou conhecido nacionalmente. Eu me propus a isso já por ter visto os resultados, e vale lembrar que é um trabalho vivo, ainda em atividade, que eu espero que prossiga por um bom tempo. Mas depois da visibilidade após a indicação para o prêmio, sem dúvida aumentou muito! Vejo secretarias de educação interessadas, querendo que eu vá fazer a formação docente. E eu acredito que esse é o caminho. O professor também precisa ser despertado para essa aprendizagem. Nós não somos formados para trabalhar com tecnologia. É necessário também que o professor desperte. E uma forma para ele despertar é ele vivenciando essa aprendizagem, para que ele tenha uma parceria com seus alunos.

- E você está tendo tempo, no meio disso tudo, de documentar seu projeto, os sucessos, as dificuldades?

Estou finalizando o mestrado esse ano. E vou poder dar sequência a esse trabalho justamente estudando e levando isso para a academia. Eu acredito que esse é um dos caminhos importantes para que isso ocorra. O professor em sala de aula, e a gente falha por isso, não consegue registrar. E por isso é importante retornar, voltar a estudar, documentar. Eu brinco que vou ser uma eterna estudante. Não para por aí, na sala de aula.

E eu vejo a escola pública muito isolada. Escola pública não é ilha. Nós precisamos das universidades na escola pública assim como os professores precisam ter voz em outros lugares além da escola. É assim que a gente constrói uma educação sólida.

- Você já teve convites para divulgação do trabalho fora do país?

Em 2017 eu fui contatada pelo Ministério da Educação, querendo que eu fizesse uma apresentação para o consulado da Finlândia, que se encantou pelo trabalho. Eles tentaram investir, mas por um problema de verba não aconteceu. Recebi muito apoio, muito suporte, para que eu pudesse continuar - justamente nessa parte de formação docente.

O que gerou mais interesse foi sair do tradicional, ver as crianças experimentando, exercendo a criatividade, a inventividade, de forma livre. (...) Recentemente eu tive um aluno que voltou à escola para dizer que havia ingressado na USP em Física - ele havia começado o 9º ano com a gente, no nosso projeto. Nosso objetivo é mostrar que não é o lugar que determina o que essas crianças podem ser. E que essas crianças podem ser o que elas quiserem, elas podem ter as mesmas condições de qualquer outra criança. A escola tem esse papel, de estimular todas essas vivências. É na escola que é permitido testar, vivenciar, testar hipóteses, então precisamos trazer um aprendizado diferenciado para essas crianças.

- E qual seria sua mensagem para os professores que não entraram na lista final, para aqueles que têm um projeto, que planejam mudar algo na educação, não para ganhar prêmios, mas para inovar?

O recado que eu gostaria de deixar para os professores é: continuem com resiliência. Muitas das soluções que nós estamos buscando em educação, muitos professores já fazem no dia a dia. E o único caminho que pode mudar uma sociedade é o da educação. Então, a cada professor, meu sincero agradecimento. Aos meus professores, que passaram pela minha vida, meu agradecimento. Que todos se sintam representados por essa grande premiação, por mostra que temos competência para apresentar uma educação de qualidade em nosso país.

Com G1



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