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Sugestão para o fim de semana: 'A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata' é um original da Netflix para você se encantar

Terminada a Segunda Guerra Mundial, os poucos habitantes da ilha britânica de Guernsey tentam retomar a vida, enquanto superam as perdas de entes queridos. Um deles encontra, por acaso, um endereço dentro de um livro, e decide escrever para essa pessoa. Como uma garrafa lançada ao mar em pedido de ajuda, a carta chega à escritora Juliet (Lily James), igualmente solitária na cidade de Londres, em pleno bloqueio criativo, e sentindo-se pouco reconhecida por seu trabalho. Logo, os marginais se encontram, criando uma nova família para além dos laços de sangue.

Foto: Reprodução/Internet/ Foto: Reprodução/Internet/

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata promove a união entre as diferenças como forma de superar as cicatrizes da guerra. O roteiro, baseado no livro de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, propõe o término das desavenças entre britânicos e alemães, entre camponeses e moradores da cidade, entre as novas e antigas gerações. O palco da reunião é a curiosa sociedade do título, cujo nome improvisado preservou a menção à receita remetendo à pobreza dos tempos de ocupação alemã. De certo modo, a torta é uma cicatriz ostentada com orgulho pelos sobreviventes. Ninguém aprova o sabor do prato, que precisa de muito álcool para ser digerido - mesmo assim, ele é preparado a cada nova reunião. Bela ideia do texto, aliás, propondo lidar o trauma de modo direto, ainda que simbólico.

Em termos de paixão pela literatura, o drama mostra-se pouco aprofundado. Nunca conhecemos os talentos de Juliet como escritora, e os títulos lidos pelos participantes da sociedade são escolhidos por acaso, de modo intercambiável. O filme está muito mais preocupado com seus inúmeros conflitos, incluindo os flashbacks de guerra, a construção do romance amoroso entre Juliet, o noivo Mark (Glen Powell) e o novo pretendente Dawsey (Michiel Huisman), o desenvolvimento dos conflitos locais em Guernsey, o segredo escondido por Elizabeth (Jessica Brown Findlay). A narrativa soa apressada, como de costume nas adaptações de romances. No entanto, consegue equilibrar uma quantidade impressionante de temas e personagens.

No que diz respeito à qualidade das imagens, o diretor Mike Newell oferece um conjunto bastante competente, ainda que impessoal. Ele sabe explorar os belos cenários da ilha pitoresca, sem exageros, enquanto extrai atuações competentes de seu elenco – sempre ajuda ter atores do nível de Tom Courtenay e Penelope Wilton no grupo – e abraça a sentimentalidade de modo comedido. Os novos espectadores podem estar acostumados em produções deste nível na tela da televisão, mas ainda surpreende os cinéfilos tradicionais a descoberta da obra apenas em home video e plataformas virtuais. O filme é pensado para cinema, com escopo de tela grande em termos de direção de arte, fotografia e montagem.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata remete aos romances históricos que costumavam chegar aos nossos cinemas décadas atrás, ao estilo de O Sorriso de Mona Lisa, também dirigido por Newell. Neste caso, o amor subverte só um pouco os padrões, para não chocar o público médio, ao passo que violência é contraposta a uma generosa dose de otimismo. Em outras palavras, são obras amplas o suficiente para falar de toda a sociedade sem cutucá-la de fato, com um texto que defende mais valores do que uma política propriamente dita. As profundas transformações de cada personagem, neste caso, parecem afetar somente eles mesmos: o resto da ilha de Guernsey, de Londres e de outros locais afetados pela guerra permanecem iguais.

Apesar de os rumos do romance e do drama serem previsíveis, o filme oferece uma noção de afeto e um senso de comunidade muito válidos nos tempos atuais. Newell equilibra amores improváveis e ingenuidade na medida certa para servir um feel good movie sobre as feridas da batalha mais sangrenta do século XXI.

Com Adoro Cinema



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