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Entrevista: Rapper MV Bill fala sobre exclusão, violência e drogas

MV Bill vem a Sete Lagoas na próxima segunda-feira, 15, para participar do projeto “Sempre um Papo”. No evento o rapper fala sobre as realidades retratadas em seus três livros: “Falcão - Mulheres e o Tráfico” de 2007, que é a continuação de um projeto pioneiro que resultou no documentário e no livro “Falcão - Meninos do Tráfico”, lançado em 2006 e “Cabeça de Porco”, de 2005 parceria do antropólogo Luiz Eduardo Soares.

Foto: boavistaja.comFoto: boavistaja.com

SeteLagoas.com.br: Qual a relação entre a exclusão social, a violência e o tráfico de drogas?

Essa pergunta pode ter muitas respostas. Inclusive posso responder que não existe relação, vai depender muito do ponto da discussão. Vou fazer a opção aqui em dizer que a exclusão social leva uma pessoa para um estado pessoal de não se importar com nada, pois sua família, sua identidade, seus valores estão socialmente mortos. As drogas, ou melhor, a comercialização das drogas, seja em qual cargo for, traz delinquencia, mas traz, valores, visibilidade, dinheiro e sobre tudo dignidade para quem não tinha nada, e por isso tem disputa de espaço, tensões, guerras e violência.
Bem, construi um caminho na resposta para justificar a minha escolha por dizer que existe relação entre as três palavras. Mas eu poderia desconstruir essa lógica também.

SeteLagoas.com.br: Quais papéis as mulheres desempenham na indústria do tráfico de drogas, direta ou indiretamente, retratadas no livro “Falcão - Mulheres e o Tráfico” de 2006

A mãe é o pilar de todas as famílias na favela esse papel é mais profundo devido a grande ausência do pai. 47% das mulheres de favelas são as únicas provedoras dos lares, é ela que assume esse papel de pai e mãe, nesse ambiente aumenta o amor por elas junto com a sua responsabilidade moral e ética.
Mas mais passaram a ser símbolos que estão acima do bem e do mal, por isso esse sentimento generalizado por elas tem sido fundamental para contar o avanço de uma violência que só para de crescer.

SeteLagoas.com.br: A exibição do documentário “Falcão - Meninos do Tráfico” expôs uma realidade até então desconhecida ou ignorada pela população que não vive nas favelas, o que mudou desde então?

O tráfico e a violência, assim como a corrupção, não acabam por conta de denúncia contra eles. Não mostramos essa realidade achando que acabaria o problema, pois sabemos que é uma questão de modelo social, de consumo crescente de drogas, da falta de uma política clara para essas questões e até mesmo da falta de um modelo segurança pública capaz de frear esse monstro.
Mostramos porque queríamos pautar esse assunto sob um outro olhar, do acusado. Não do acusador. E, por isso, esse filme fez diferença. Pois o asfalto passou a refletir, por exemplo, se é ou não injusto prender uma criança por estar vendendo drogas para um casal de doutores. Afinal, num caso desses , quem é a vitima?

SeteLagoas.com.br: Como a cultura, como a hip-hop, tem ajudado ou pode ajudar a mudar essa realidade?

A proximidade do hip hop com a favela permite um permanente dialogo e cria um mercado capaz de absorver jovens para o próprio movimento, permitindo que eles produzam e se manifeste via uma cultura que o valoriza. Esse diálogo é capaz de juntar pessoas e quando as pessoas se juntam as mudanças são inevitáveis

SeteLagoas.com.br: A dependência de drogas deve ser tratada como uma questão de segurança pública, de saúde pública ou através de políticas sociais?

A complexidade desse tema é tão grande que parece que falar sobre ele é perda de tempo. O fato é que o consumo só aumenta, a violência aumenta e o combate a ela também se intensifica. Isso só faz aumentar as tensões nas ruas. Todos os setores são responsáveis por esse tema ou por suas consequências.

SeteLagoas.com.br: Como os moradores de uma cidade como Sete Lagoas, e a sociedade em geral, podem atuar na mudança de cenários de miséria associados a dependência química e a criminalidade?

O equilíbrio social, uma distribuição de renda em grande escala é o caminho, já que vivemos num país capitalista e todos querem a chance de ter a mesma coisa. Quanto às drogas o primeiro passo é decidir e definir o que é droga, para não ficarmos condenando o uso de algumas e tolerando outras. Talvez hoje seja o momento de fazer um debate sobre a descriminalização mais sério e responsável.
Mas para o traficante terá muita diferença, ele vai continuar no ramo, só que deixará de ser traficante e vai virar praieiro. Se houver alguém disposto a comprar, haverá alguém se arriscando para vender.

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Serviço
Sempre Um Papo com MV Bill
Data: 15 de setembro, segunda-feira, às 19h30
Local: auditório do Unifemm - Av. Marechal Castelo Branco, 2.765 – Bairro Santo Antônio
Informações: (31) 3261.1501– www.sempreumpapo.com.br

 



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