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'Metade de mim foi junto com ele, metade de mim está debaixo da lama', diz pai de vítima de Brumadinho

Há 21 dias, o aposentado Wilson Francelino Caetano, 64, acorda em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte com a angústia da incerteza. Logo em seguida, em uma viagem de aproximadamente uma hora e meia, ele vai para Brumadinho, onde o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, provocou, até então, 166 mortos e deixou 155 desaparecidos. Um dessas vítimas não encontradas é o mecânico de manutenção Luís Paulo Caetano, 31, filho de Wilson. Ele trabalhava na Vale para uma empresa terceirizada.

Foto: Mariella Guimarães Foto: Mariella Guimarães

“Eu só penso nele. Metade de mim foi junto com ele. Metade de mim está debaixo da lama”, lamenta o pai, que todos os dias caminhar cerca de 4 km no entorno do lama, na esperança de que os bombeiros achem o corpo do filho. “Fico lá olhando, andando pelas beiradas da lama, sempre na esperança de encontrar alguma coisa”, conta.

Se as buscas forem encerradas, o aposentado já tomou uma decisão. “Vou trazer uma barraca e vou armá-la no meio da lama. Vou ficar lá, nem que eu acabe meu restinho de vida aqui, pois é lá que o meu filho está. Então, é lá que eu tenho que ficar. Não importa o que vai acontecer comigo”, afirma o aposentado, que há dois dias toma remédios controlados por causa da pressão, que ficou desregulada, segundo ele. “Acho que é de tanta preocupação que isso está acontecendo comigo”, acredita.

Wilson acompanha as buscas das 7h às 17h30. “Corro para um canto, corro para outro, pelejo daqui, pelejo dali. Alguém vai ter que me devolver o meu filho para eu chegar em casa e falar com a mulher: ‘Encontrei nosso filho. Temos notícia dele. Nós vamos enterrálo’”, desabafa o aposentado. “Eles podem me entregar os ossos dele que eu quero. O cemitério do meu filho não pode ser essa lama. Eu o criei em Nova Lima e é lá que ele tem que ser enterrado”, lembra o aposentado, que diz ter perdido a esperança de reencontrar o filho com vida logo no segundo dia de buscas.

Na caminhada dessa quarta (13), ele disse ter encontrado um caminhão-guincho, no meio da lama, com as rodas para cima. “Pesa mais de 18 toneladas e foi arrastado pela lama. Imagina um ser humano? Imagina o meu filho? Onde ele foi parar?”, questiona. Para ele, é difícil descrever o sentimento de um pai que perde o filho. “Não é dor. É um abafamento 24 horas por dentro que eu não desejo para ninguém. Eu perdi o meu pai e não chega a um terço do que estou sentindo aqui. O meu filho é um pedaço renovado de mim”, chorou.

Com O Tempo



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