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Rio Paraopeba sofre com poluição e rejeitos da Vale a poucos metros da nascente

A pouco mais de 200 metros da BR-040, rodovia que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, perto de uma escola abandonada e de um sítio com quinze vacas e algumas galinhas, está uma das nascentes do Paraopeba, afluente do São Francisco, contaminado pela onda de rejeitos da Vale após rompimento de barragem em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

 Foto: Thais Pimentel/G1/ Uma das nascentes do Rio Paraopeba se esconde em meio à mata na zona rural de Cristiano Otoni Foto: Thais Pimentel/G1/ Uma das nascentes do Rio Paraopeba se esconde em meio à mata na zona rural de Cristiano Otoni

A água brota em meio à vegetação densa de Cana do reino, distrito de Cristiano Otoni, cidade de cinco mil habitantes, localizada na Região Central de Minas Gerais. Perto dali parte da água foi represada, uma alternativa destinada às criações de animais. Porém, ela tem sido usada para outro fim.

“O esgoto todo vai parar ali. É bem sujo”, disse Vander Patrício, morador de uma das cerca de dez casas do vilarejo. Ninguém ali usa a água do Paraopeba para consumo. “É muito pouco que sai da nascente. A gente usa um poço artesiano”, contou.

Do outro lado da rodovia, uma fazenda guarda outras nove nascentes. Não há placa ou outra sinalização que informe que ali também é o berço do Paraopeba. Mas de acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, o local foi cercado no dia 22 de março pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) para garantir a preservação das nascentes.

O rio percorre 546 quilômetros até chegar à represa de Três Marias, em Felixlândia, na Região Central. Lá ele deságua no Rio São Francisco. Sua bacia cobre 12 mil km² e abrange 35 municípios.

O Paraopeba já começa a sofrer com a poluição dois quilômetros abaixo da nascente, já na cidade Cristiano Otoni.

“Todo o esgoto é lançado no rio. Nós já assinamos um acordo com a Copasa para a implementação de uma estação de tratamento. Ainda não sei quando isso vai acontecer”, disse o prefeito José Élcio (PSB). Segundo o município, o Ministério Público cobra obras de saneamento de 2008.

De acordo com relatório do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) de 2018, o índice de qualidade do Paraopeba é considerado um dos piores do estado já na altura de Conselheiro Lafaiete, a 22 quilômetros das nascentes. O nível é o "muito ruim" por causa do lançamento de esgoto doméstico e resíduos de indústrias de laticínios.

 Foto: Prefeitura de Cristiano Otoni/Divulgação/ Uma das nove nascentes do Paraopeba encontradas em fazenda de Cristiano Otoni Foto: Prefeitura de Cristiano Otoni/Divulgação/ Uma das nove nascentes do Paraopeba encontradas em fazenda de Cristiano Otoni

Mas nada se compara com a situação observada a 130 quilômetros do berço do rio. Em Brumadinho, o Paraopeba ganhou uma coloração alaranjada no dia 25 de janeiro, quando a Barragem do Córrego do Feijão se rompeu. O rio foi tomado pela onda de rejeitos da mina da Vale. De acordo com último balanço da Defesa Civil, 241 mortes foram confirmadas. Vinte e nove pessoas estão desaparecidas.

Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, não há condições de vida aquática em 305 quilômetros do Rio Paraopeba , desde Brumadinho até sua foz, em Felixlândia, quando ele se encontra com o São Francisco.

Os indicadores de qualidade também mostraram que não há condições de uso da água. Dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim e 12 péssimo.

Porém, o Ibama e o IEF afirmam que os rejeitos não atingiram o reservatório da Hidrelétrica de Três Marias, na Região Noroeste de Minas e Gerais, e nem o Rio São Francisco.

Foto: Thais Pimentel/G1/ Comportas da unidade de captação de água do Paraopeba não funcionam desde o rompimento Foto: Thais Pimentel/G1/ Comportas da unidade de captação de água do Paraopeba não funcionam desde o rompimento

Sistema Paraopeba

Desde o 25 de janeiro, a captação no Rio Paraopeba, em Brumadinho, foi interrompida pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) por causa do nível de turbidez da água após o rompimento da mina da Vale.

As comportas que fazem parte do sistema de captação, que normalmente ficariam cobertas pela água, estão secas desde janeiro. O Paraopeba era responsável por 30% do abastecimento de cinco milhões de pessoas em Belo Horizonte e região metropolitana.

A captação era realizada desde 2015. A obra, considerada na época a solução para o risco de racionamento na capital mineira, custou R$ 128,4 milhões aos cofres do estado. Ela foi concluída em seis meses.

 Foto: Thais Pimentel/G1/ Rio Paraopeba em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte Foto: Thais Pimentel/G1/ Rio Paraopeba em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte

Com a interrupção da captação do Paraopeba, o abastecimento está sendo feito pelas represas do Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores, além do Rio das Velhas.

Documentos da Copasa informam que há o risco de desabastecimento a partir do fim do ano que vem.

Com G1MG



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