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Inquérito para investigar assédio em estúdio de tatuagem em Belo Horizonte é aberto pela Polícia Civil

A Polícia Civil de Minas Gerais abriu investigação sobre as denúncias de assédio sexual sofrido por mulheres em um estúdio de tatuagem que fica na avenida Nossa Senhora do Carmo, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Mais de 40 mulheres procuraram a ativista Duda Salabert para denunciar o tatuador. - Foto: Reprodução/InstagramMais de 40 mulheres procuraram a ativista Duda Salabert para denunciar o tatuador. - Foto: Reprodução/Instagram

De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, diligências imprescindíveis são realizadas, nesta terça-feira (19), para apurar o caso e por enquanto mais detalhes não serão divulgados para não atrapalhar o curso das investigações.

Uma publicação feita no Instagram da ativista Duda Salabert, que foi candidata ao senado, no último sábado (16), em que ela contava sobre sua preferência por tatuar com profissionais mulheres, foi o gatilho para que as denúncias surgissem.

Após a publicação ela recebeu cerca de 100 relatos de assédio durante a realização de tatuagens. O que chamou a atenção de Duda é que desse total, 40 denúncias eram contra o mesmo tatuador que atua na Savassi. Todas elas feitas por mulheres diferentes que, em alguma ocasião, tatuaram com este homem. Os relatos datam desde 2012.

As denúncias
Uma jovem de 26 anos, que preferiu não ser identificada, contou que fez sua primeira tatuagem com o homem quando ainda tinha 19 anos. Na ocasião, ela foi acompanhada da mãe que esperou do lado de fora. O local escolhido para o desenho foi a nuca. Ela relatou que durante o processo, sua cabeça foi colocada em cima do colo do tatuador que por diversas vezes firmava a cabeça dela contra o pênis.

"Como era minha primeira tatuagem, me senti extremamente incomodada, mas achei que pudesse ser normal. Apesar de ser uma tatuagem pequena, ele demorou quase duas horas para terminá-la e fazia movimentos pressionando minha cabeça contra o pênis dele".

Ela afirma ainda que só descobriu que havia sofrido assédio muitos anos depois. "Quando vi a postagem da Duda, vi que havia acontecido a mesma coisa com outras meninas e hoje, depois de ter feito outras tatuagens, consegui entender que aquilo que aconteceu comigo não foi normal", explica.

Em um dos relatos recebidos pela ativista via Instagram, outra mulher conta que tatuou com o suspeito em 2016. Ela explica que a tatuagem era uma região abaixo do umbigo, que não precisaria ter tirado a calcinha e que foi abusada sexualmente ao longo de toda a sessão.

"O tatuador falou que era melhor se eu tirasse a calcinha ao invés de puxar, fiquei incomodada, mas tirei. Foram três a quatro horas de sessão e toda hora eu sentia que ele estava pressionando a mão dele na minha vagina (...). Me senti um lixo".

Uma terceira vítima conta ainda que já havia tatuado com outra pessoa no estúdio e que gostou tanto que optou por voltar. Em seu retorno, fez dois desenhos com o suspeito. "As tatuagens eram no tríceps e ele me pediu para ficar em decúbito ventral (de bruços) e apoiava a minha mão no pênis dele toda hora (...). Depois eu percebi que era de propósito e fique muito assustada, doida para sair de lá", contou.

Diante da gravidade das denúncias recebidas e do alto volume de relatos, a ativista, que também foi candidata ao Senado nas eleições de 2018 e recebeu mais de 350 mil votos, se comprometeu a auxiliar as vítimas que estivessem dispostas a formalizar as denúncias de assédio.

"A maioria delas não querem fazer a denúncia para não se exporem, é um episódio muito traumático. Mas criamos um grupo no WhatsApp com umas sete ou oito meninas e, com elas, vou procurar o Ministério Público para nos dar suporte", explica. Além disso, Duda procurou a Defensoria Pública de Minas Gerais e foi aconselhada por alguns defensores a protocolar uma ação coletiva.

Rede de denúncias
A jornalista Izabella Bomtempo aproveitou o espaço nas redes sociais para compartilhar, na manhã desta segunda-feira (18), as denúncias recebidas por Duda. Em menos de cinco horas, a postagem já havia sido compartilhada por 50 pessoas que também se manifestaram na página oficial do estúdio de tatuagem no Facebook.

Depois de sua publicação, Izabella recebeu mensagens de outras meninas que foram assediadas pelo tatuador. Ela procurou a Polícia Militar e foi instruída por uma agente, pelo 190, a aconselhar que as vítimas denunciem formalmente o suspeito.

De acordo com Izabella, uma das moças com quem ela conversou chegou a procurar a Delegacia de Plantão de Atendimento à Mulher, que fica no Barro Preto, mas a demora no atendimento e o receio de prosseguir com a denúncia sozinha fez com que ela fosse embora.

"Conversei com essa menina e a coloquei em contato com outras que também denunciaram para mim o assédio sofrido. Elas estão decididas a procurar a Delegacia da Mulher ainda amanhã cedo e devem ir juntas, para se apoiarem em um momento tão difícil", conta. Até o momento, Izabella recebeu mais de dez denúncias.

Acusado nega ter cometido crimes
Procurado pela reportagem do jornal O TEMPO nesta segunda-feira (18), o tatuador do Tattoo Reggae Studio afirmou que não tem nada a declarar e que já procurou advogados para saber de seus direitos e se resguardar contra os xingamentos que está recebendo nas redes sociais. "Estou passando muita vergonha, muito constrangimento. As pessoas estão me xingando sem me conhecer. Eu não fiz nada", disse.

Quando perguntado se já recebeu alguma denúncia formal de assédio, ele explicou que ainda não. "Já estão acabando com a minha carreira, tenho 22 anos de trabalho. Precisa mais do que isso?".

Nesta terça-feira (19) a reportagem procurou o tatuador novamente, mas o celular dele estava desligado.

Tatuadoras se oferecem para cobrir marcas de assédio
Em uma série de stories gravada para o Instagram, Duda Salabert pediu que tatuadoras interessadas em cobrir as tatuagens feitas enquanto as mulheres sofriam assédio a procurassem.

"Convidei tatuadoras de BH para que elas possam cobrir as tatuagens das moças que foram abusadas. É humilhante para uma mulher carregar uma marca para toda a vida que é símbolo de um abuso, símbolo de assédio sexual", comenta.

A tatuadora Jaqueline Porto foi uma das que se disponibilizaram a ajudar as mulheres. "A tatuagem tem que ser feita da maneira mais correta possível. A pessoa tatuada vai levar uma marca sua (do tatuador) para o resto da vida. Todos os dias que ela olhar para o espelho, ela se lembrará daquele momento ruim em que ela foi assediada. É muito triste um profissional marcar literalmente alguém de uma forma tão cruel, tão terrível", conta.

De acordo com ela, as mulheres que se interessarem em cobrir a tatuagem, podem procurá-la, tanto pelo Instagram quanto por meio da Duda e, daí, será feito um estudo para saber se é possível tampar a marca ou se a remoção a laser é o procedimento mais aconselhável.

Uma das meninas que o acusa o tatuador conversou com a reportagem e explicou que optará por cobrir a marca. "Quero muito cobrir. Aquela tatuagem é uma marca ruim e não representa nada para mim".

Com O Tempo



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