Sei que Maroca foi eleito sob o discurso da mudança e da moralidade. Pessoas como meus familiares e amigos votaram nele na esperança de uma nova cidade, livre de velhos e péssimos hábitos. Gente que acredita em uma Sete Lagoas menos provinciana, mais igualitária, mais justa, mais limpa, mais segura, mais empreendedora, mais dinâmica. Gente cansada do coronelismo, do empreguismo, do oportunismo, da roubalheira.
Pelas notícias dos amigos, parentes e desse Sete Dias (acompanho pela internet), soube que Maroca montou um "secretariado técnico". Conheço alguns nomes. São colegas de Regina Pacis (onde estudei), de Náutico (onde era sócio), de Sete Dias (onde estagiei). Pessoas sérias, bem sucedidas profissionalmente, sem os vícios da politicagem local. Mas, por meio das mesmas fontes, soube de outras nomeações de Maroca que contrariam seu discurso de novos tempos na administração pública municipal. Não por se tratarem de pessoas menos competentes ou de caráter duvidoso. Mas pelo vínculo familiar e financeiro com o prefeito. Ato que remete ao nepotismo, uma das práticas mais arcaicas e nojentas da nossa política.
O novo secretário municipal de Desenvolvimento Econômico é o economista e empresário Gustavo Paulino. Primo de Maroca, ele também financiou a campanha do atual prefeito. Maroca nomeou ainda a mulher de Gustavo, Carolina Guimarães Paulino, para o cargo de procuradora-geral do município. O casal integra uma das famílias mais tradicionais e ricas da cidade. Não que isso seja demérito. Pelo contrário. Os Paulinos sempre foram conhecidos pelo trabalho, competência e preocupação com as questões sociais de Sete Lagoas.
No entanto, a nomeação de Gustavo e Carolina configura duplo nepotismo. Não importa se sejam honestos — isso é obrigação, não virtude — ou estejam muito bem intencionados. Também não vale o argumento do marido de que a mulher teve que "abandonar" o escritório de advocacia para "atender" a pedido de Maroca, porque o prefeito "necessita de pessoas de sua inteira confiança para esta área".
Carolina assumiu um cargo com salário, bom salário. Portanto, não fará caridade na prefeitura. Também duvido que seja a única pessoa de confiança e honesta entre os mais de 200 mil sete-lagoanos. Essa desculpa ofende os demais. Pior ainda é um financiador de campanha assumir cargo de secretário. Deixa margem para desconfianças das reais intenções de tal doação. Os Paulinos não precisam disso.
Renato Alves - Jornalista, radicado em Brasília, repórter do Correio Braziliense e colunista do Aqui-DF