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Execução de Marielle Franco completa um ano ainda sem respostas

Quem matou, quem mandou matar e por quê? Na semana em que o Brasil lembra um ano da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes, muitas perguntas ainda estão sem respostas. Durante toda a semana, protestos e mobilizações estão programados para lembrar o assassinato que chocou o país no dia 14 de março de 2018.

No Rio de Janeiro, manifestantes seguram placa com o nome da vereadora. - Foto: Carl de Souza/AFPNo Rio de Janeiro, manifestantes seguram placa com o nome da vereadora. - Foto: Carl de Souza/AFP

A demora na resolução do crime – superior a casos semelhantes, como o do pedreiro Amarildo Dias de Souza, que desapareceu durante uma abordagem da Polícia Militar na Favela da Rocinha, em 2013, e precisou de 90 dias para ser elucidado – levou a Anistia Internacional (AI) a divulgar recentemente um levantamento com mais de 20 perguntas sobre pontos que até hoje não foram esclarecidos.

Segundo a diretora executiva da organização, Jurema Werneck, a AI ainda não recebeu nenhum retorno das autoridades. "Estamos aguardando resposta. Essa é a expectativa da Anistia Internacional no Brasil, das famílias de Marielle e de Anderson e do mundo. As autoridades devem prestar contas", critica.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), amigo da vereadora que trabalhou com Marielle por dez anos no partido político, já prestou depoimentos para o inquérito que investiga a morte dela e acompanha de perto as investigações. Para ele, é inaceitável o crime completar um ano sem respostas. "A execução de Marielle foi um crime sofisticado, de difícil elucidação, algo que só poderia ser planejado e praticado por gente que tem poder", diz.

Freixo explica que a vida de Marielle não valia mais que nenhuma outra vida, mas que o assassinato da vereadora foi um "crime político contra a democracia". "Executar uma vereadora é um atentado contra o Estado democrático de direito. Se não dermos resposta a isso, estamos sinalizando que outras pessoas que desagradarem a determinado grupo político podem morrer. Aí poderá ser outro parlamentar, um juiz, promotor, jornalista. O Estado brasileiro não pode aceitar a violência como instrumento de ação e intimidação política", reforça o deputado federal.

Freixo também vem recebendo ameaças e acredita que o grupo que cometeu esse homicídio queria dar um recado. "Ainda não sabemos que recado seria esse, mas nós e o Estado precisamos dar o nosso recado, repudiando essa violência, identificando e punindo seus autores e mandantes", diz.

Para o deputado, não importa quão poderosas possam ser as pessoas por trás do assassinato, elas precisam responder por isso. "Marielle não foi morta num assalto, não foi alvo de violência doméstica, crime passional. Marielle era uma vereadora que foi sumariamente executada. Por isso digo que seu assassinato é um crime político contra a democracia", diz.

Segundo o deputado federal, a semana terá "uma grande programação por parte de quem quer não só exigir Justiça por Marielle e Anderson, mas celebrar sua memória de luta e de defesa das mulheres, dos negros, dos LGBTs e dos favelados". "Enfim, celebrar a memória de uma mulher que acreditou e lutou para construir um país mais justo", afirma Freixo.

"Atinge nosso modelo de democracia"

O Brasil é um dos países que mais têm defensores de direitos humanos assassinados no mundo. Para a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, o assassinato de Marielle Franco, assim como os outros 325 mil homicídios no país em 2018, "é uma tragédia sem tamanho", mas o fato de a vereadora ter sido defensora dos direitos humanos o diferencia. "Ela era engajada em produzir mudanças que pudessem proteger a vida das pessoas. Isso é muito grave", afirma.

Como, além de defensora dos direitos humanos, Marielle também era uma parlamentar no exercício de seu mandato, Jurema acredita que isso agrega mais gravidade ao caso. "Isso atinge as Casas Legislativas, quem é parlamentar e o nosso modelo de democracia", diz.

Governantes deveriam ter uma reação contundente

Um ano sem respostas deveria significar uma "virada de chave" para as autoridades, na análise da diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck. "Temos governantes recém-eleitos que têm oportunidade de assumir esse compromisso de ‘virar a chave’ na proteção e na solução do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, e de dar uma resposta contundente de que esse assassinato não vai ser aceito. De que não vai ser aceito silenciar a luta de quem age para melhorar o Brasil", diz Jurema.

Para o deputado federal Marcelo Freixo, é "lamentável e extremamente preocupante" o momento que o país vive com ativistas, intelectuais e políticos sendo ameaçados e se autoexilando.

"O Brasil é o país que mais mata defensores de direitos humanos no mundo. Não podemos aceitar essa violência, porque ela fere de morte a democracia, as garantias coletivas e individuais e a liberdade", diz.

Minientrevista

Monica Benicio
Ativista social e arquiteta; viúva de Marielle Franco

Como você recebeu o convite da escola de samba Mangueira para o desfile deste ano?

Recebi o convite da Mangueira com muito carinho, mas o motivo que me colocava na avenida não era a celebração do Carnaval, então era delicado pensar nisso. Mas o carnavalesco Leandro Vieira foi muito cuidadoso e sensível ao explicar a proposta, então eu aceitei o convite, entendendo que aquele momento para mim seria mais um momento de manifestação. Não entrei para desfilar, e sim para fazer um ato.

O que significa essa vitória da Mangueira a poucos dias do aniversário de um ano da morte de Marielle?

O enredo da Mangueira é urgente e necessário na atual conjuntura política. Fala que representatividade importa. Ver a imagem da Marielle se tornando símbolo de resistência é não admitir a barbárie da noite do 14 de março e ressignificar em esperança. A vitória da Mangueira consagra e afirma isso. É o início de justiça por Marielle.

Como você tem conseguido permanecer resistindo desde aquela noite de 14 de março, diante da demora para descobrir quem matou Marielle?

Venho resistindo graças ao afeto e à solidariedade que recebo tanto dos meus amigos e familiares quanto das pessoas que têm empatia por mim e se manifestam com carinho nas ruas e nas redes sociais. O que me move na luta é o amor e a crença de que podemos construir um mundo melhor, mais justo e igualitário. Permanecer na luta para mim é ainda caminhar com ela. A minha luta não é mais só por minha esposa, mas por tudo que ela representa. É pela vida de todas as mulheres, da população LGBTI, pelo fim do genocídio do povo preto, por igualdade social. Só com amor e solidariedade podemos transformar o atual cenário que temos nesse país.

Você acredita na Justiça brasileira?

Acredito na Justiça brasileira, mas em um modelo que não seja punitivista. Se não acreditasse, minha luta não faria sentido. Meu projeto não é de vingança, e sim de justiça. Quem mandou matar Marielle e quem matou Marielle e Anderson e todos os envolvidos devem ser responsabilizados pelo que fizeram. Não há democracia enquanto não houver resposta para quem mandou matar minha companheira.

Com O Tempo



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