Coluna / Comércio Exterior / Como contornar a crise?
- Categoria: Franciney Carvalho
Quem olha os Estados Unidos como a grande potência do mundo ou até mesmo para aqueles que já sonharam ou viveram o “sonho americano” pode até não se lembrarem da grande crise que esse país viveu no final da década de 20. Naquela época, após se tornar a maior credora com o fim da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos crescia a uma velocidade incrível, atraindo investimentos, expandindo o parque industrial e, consequentemente, impulsionando o crescimento do emprego e da renda aliados com uma maior liberdade de mercado.
O governo americano, porém, não esperava que a prosperidade e a liberdade do mercado tivessem um alto preço. Entre os indicadores dessa prosperidade não sustentável pode-se observar que, em determinado momento, a indústria produzia demasiadamente que os americanos ou os países compradores dos Estados Unidos, parte deles ainda endividados por causa da guerra, não conseguiram absorver toda a produção.
Em um segundo momento, os próprios americanos investiam grande parte do dinheiro em ações, acreditando que a economia do país só crescia – de fato vinha acontecendo não mais com o mesmo fôlego. Essa era a falsa realidade que o mercado de ações passou a vender para os americanos ou para os sonhadores de plantão quando percebera uma desaceleração no consumo e o impacto negativo para a captação de novos investimentos no país.
A grande oferta de produtos americanos no mercado frente a pouca procura obrigaram as empresas a ajustarem a produção à demanda. O maior reflexo se via no aumento do desemprego, resultado da redução do quadro de funcionários e, como em um efeito dominó, o prejuízo em todo o comércio refletia em mais demissões e falência de diversas empresas.
Paralelamente, os investidores, grande parte deles composto de empresários, diante do cenário adverso, passaram a vender ações no mercado que até então especulava o progresso do país. Sem compradores, no entanto, para a grande oferta de ações no mercado, consequentemente, cominou a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Somando isso a outros fatores, o país afundava em uma profunda crise financeira e econômica, conhecida como a Crise de 29.
A solução encontrada, à época, foi por meio da intervenção do governo no mercado e na economia por meio da geração de empregos, sendo o próprio governo o realizador de várias obras de infraestrutura (construção de estradas, ferrovias e outros) no país a fim de absorver a mão-de-obra. Com certeza, uma tentativa de trazer o emprego de volta e estimular a circulação de dinheiro. Também houve o maior controle e fiscalização no mercado de ações. Naquele contexto, foram ações adotadas que ajudaram o país a se reerguer e tornar uma grande potência.
Nos dias atuais, o Brasil está experimentando um pouco dos efeitos da prosperidade não sustentável. Tanto que se você pegasse um jornal não estranharia se visse notícias da crise e não do crescimento do país. Estamos dentro desse momento histórico e, talvez, quem esteja dentro do setor automobilístico esteja sentindo mais essa crise.
Se para os americanos a possibilidade de ter muitas ações representava um sonho realizado. Para nós, brasileiros, o carro, em especial, representa um sonho de consumo concretizado – mesmo se não tiver garagem para guardá-lo.
Diante desta instabilidade na economia, o sonho de ter um carro está ficando em segundo plano. A indústria parecia não ter acordado para a realidade dos brasileiros e de alguns países parceiros, em especial a Argentina. O que se vê hoje é o excesso de carros produzidos, a indústria tendo que dar férias ou demitindo, resultando não tão somente no aumento do desemprego como muitos temiam, mas também na insegurança de comprar e não conseguir pagar. Se o dinheiro não circula, logo, a economia não movimenta.
Por parte do governo brasileiro, é o que se espera a maior intervenção. Talvez não precise tomar as ações que foram tomadas pelos Estados Unidos, até mesmo porque a nossa realidade nos faz perceber que o Brasil está carente de uma atenção muito além da indústria automobilística.
Embora as grandes indústrias brasileiras já estejam internacionalizadas o que as colocam em uma posição de diversificar o público alvo, ora Brasil, ora exterior. Por parte do governo resta estimular e diversificar ainda mais a pauta das exportações brasileiras, principalmente para as pequenas empresas com grande potencial exportador e do agronegócio. Este último vem segurando há um bom tempo a balança comercial brasileira.
Já se observa, em contrapartida, um aumento das exportações de veículos, especialmente, para o México. Aliado ao estímulo às exportações, às obras de infraestrutura e ao fortalecimento das políticas de proteção à indústria nacional frente à concorrência dos produtos importados. Encontraríamos também no comércio exterior uma alternativa possível frente ao momento conturbado da economia brasileira. Resta-nos aprender com as grandes economias que a crise sempre existirá, mas alternativas para contorná-la vão surgir sempre dentro do próprio país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASILESCOLA. Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiag/crise29.htm. Acesso em 22 Jun 2015
Franciney Carvalho é graduado em Administração com ênfase em Comércio Exterior pelas Faculdades Promove e pós-graduado em Logística pela UNA. Professor de Comércio Exterior nos cursos de Administração, Logística e Contabilidade no Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional – CEFAP.