Uma nova variante do HIV (vírus da imunodeficiência humana) foi identificada no Brasil, segundo um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na revista “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz” em 16 de agosto. O estudo revela quatro registros dessa variante nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Até o momento, não há relatos de infecções por essa variante em outros países.
A nova variante do HIV é um vírus recombinante que combina genes dos subtipos B e C, que são os mais comuns no Brasil. “O surgimento dessas formas recombinantes é preocupante devido à taxa de dupla infecção, onde indivíduos se contaminam e recontaminam”, afirma Joana Paixão Monteiro-Cunha, bióloga e coautora da pesquisa.
Para que variantes como essa surjam, dois subtipos do vírus devem se encontrar no mesmo organismo hospedeiro e se reproduzir, mesclando suas características genéticas. Esses vírus recombinantes podem ser únicos, presentes em um único indivíduo, ou circulantes, quando se tornam transmissíveis. A nova variante descoberta, chamada CRF146_BC, pertence a essa última categoria.
Descoberta e Pesquisa
A descoberta do vírus recombinante ocorreu em 2019, durante um estudo populacional que analisou cerca de 200 amostras de pacientes infectados no Hospital das Clínicas de Salvador. Após a identificação da variante, os pesquisadores compararam seu genoma com bancos de dados públicos contendo sequências genéticas do HIV, encontrando outras três amostras com a mesma estrutura genética.
Nenhum dos pacientes identificados até agora é o “paciente zero” da variante, ou seja, a primeira pessoa infectada por dois subtipos de HIV que se recombinaram. Os quatro casos detectados são de transmissão da variante CRF146_BC.
Ainda não se sabe se essa variante possui maior transmissibilidade ou virulência, ou seja, se ela progride mais rapidamente para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). No entanto, o primeiro paciente identificado na Bahia estava em tratamento antiviral, e o vírus não demonstrou resistência ao medicamento.
A bióloga Joana Paixão Monteiro-Cunha enfatiza que certas mutações podem alterar as características do vírus e alerta para a necessidade de reforçar medidas preventivas, como o uso de preservativos e o não compartilhamento de seringas, para evitar a disseminação de novas variantes e reinfecções entre a população.
Da Redação com Record