O governo federal decidiu anular o leilão para a compra de arroz, que estava sob suspeitas de irregularidades, e realizar um novo processo em data ainda não definida. O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, envolvido no processo, pediu demissão pela manhã. A decisão foi tomada em reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com ministros e autoridades ligadas ao setor agrícola. O texto do novo leilão será produzido em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria Geral da União (CGU). A decisão de anular o leilão foi motivada pela repercussão negativa e pelas suspeitas levantadas em relação às empresas vencedoras. O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, afirmou que é necessário revisitar os mecanismos estabelecidos para realizar o leilão.
No leilão realizado na semana passada, o preço médio de um saco de 5 kg de arroz atingiu R$ 25. No entanto, empresas sem histórico no mercado de cereais participaram do certame e arremataram lotes significativos — das quatro vencedoras, apenas uma tinha know-how. Poucos dias após as enchentes no Rio Grande do Sul, Estado que responde por 70% da produção nacional de arroz, o governo federal decidiu importar o cereal. Embora o Estado já tivesse colhido 80% do grão antes das inundações, a logística de transporte foi severamente afetada. Em 7 de maio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou a decisão para evitar aumentos de preços, mencionando que nenhum atacadista possuía estoques suficientes para mais de 15 dias.
No entanto, o leilão apresentou irregularidades significativas. Segundo Fávaro, a maioria das empresas participantes mostrou fragilidades operacionais e financeiras para lidar com grandes volumes de arroz e dinheiro. Ele ressaltou que não houve pagamento pelo produto do leilão anulado e garantiu que “ninguém vai pagar sem que o arroz esteja aqui, entregue”. Para evitar novos problemas, o próximo leilão será organizado com o apoio da CGU, da AGU e da Receita Federal, e contará com critérios mais rigorosos para a seleção das empresas participantes. “Pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para ter as garantias de que vamos contratar empresas que tenham capacidade técnica e financeira”, destacou Edegar Pretto.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, pediu demissão do cargo na manhã desta terça-feira (11) e foi exonerado. Ele comunicou que seu filho estabeleceu sociedade com uma corretora envolvida no leilão, mas ressaltou que a empresa não participou da operação. A situação gerou transtorno e levou Geller a colocar o cargo à disposição. Duas empresas intermediaram a venda do arroz no leilão e representaram três das quatro arrematantes. O perfil das empresas gerou suspeitas por não trabalharem com arroz.
CPI já conta com quase 100 assinaturas
De acordo com o deputado Zucco, aproximadamente 100 parlamentares já assinaram o requerimento para a CPI. Para que a comissão seja instalada, são necessárias 171 assinaturas, e a expectativa é alcançar esse número ao longo desta semana. A oposição ao governo Lula não se limita à CPI.
Na semana passada, parlamentares protocolaram uma representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar possíveis fraudes no processo de compra. O deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS) argumenta que, dos 28 lotes de arroz disponíveis, apenas 17 foram arrematados, e destacou que várias empresas envolvidas possuem baixo capital social.
A compra de arroz importado foi uma medida do governo federal para regular o mercado interno, embora produtores nacionais tenham reiterado que não há risco de desabastecimento do produto no Brasil.
Da Redação com TBN