Imagens capturadas pelo satélite Aqua da NASA, em 4 de agosto, revelaram uma fumaça densa e incomum resultante de queimadas na Amazônia. O satélite, em operação desde 2002, é utilizado para estudar o ciclo da água na Terra, incluindo precipitações e evaporações.
A fumaça foi registrada na região de Apuí, no Amazonas, e ao longo da rodovia BR-163, no sul do Pará. Conforme a NASA, as áreas desmatadas emitiram “plumas triangulares” de fumaça, que surgem muitas vezes perto de estradas secundárias, formando um padrão de “espinha de peixe” quando vistas de cima. Esse padrão é característico de áreas onde uma estrada principal é aberta na floresta, e estradas menores são criadas a partir dela, resultando em áreas de desmatamento que lembram uma espinha de peixe.
A NASA observou que esse desmatamento é frequentemente realizado para dar espaço à pecuária e à agricultura. Durante a estação seca, os desmatadores removem árvores e galhos secos para preparar a terra para o plantio durante a estação chuvosa.
Doug Morton, cientista da NASA, afirmou que o desmatamento ao longo das fronteiras agrícolas foi a principal causa dos incêndios em julho.
Dense smoke streamed from rainforest fires in Brazil in early August. Using data from NASA’s Aqua satellite, Brazil’s National Institute for Space Research detected more fires in Amazonas in July 2024 than any other July since 1998. https://t.co/4FEw6JhFNS pic.twitter.com/qpNi9CLPiD
— NASA Earth (@NASAEarth) August 12, 2024
Fumaça cobre Manaus
Nesta segunda-feira (12), Manaus foi coberta por uma intensa fumaça, que já dura três dias, comprometendo a qualidade do ar em praticamente toda a capital. De acordo com o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), a qualidade do ar é considerada “ruim” e “muito ruim” em várias partes da cidade.
Atualmente, 22 dos 62 municípios do Amazonas estão enfrentando condições semelhantes. O governo do estado impôs uma proibição de 180 dias à prática de queimadas, incluindo o uso de técnicas de queima controlada. Nas redes sociais, moradores relatam dificuldades para respirar e enxergar devido à espessa camada de fumaça nas ruas.
Para que a qualidade do ar seja considerada boa, a concentração de partículas no ar deve ficar entre 0 e 25 µm/m³ (micrômetro por metro cúbico de ar). Em Manaus, o bairro Morro da Liberdade registrou um nível de poluição de 81.4 µg/m³, enquanto o bairro Cachoeirinha apresentou um nível “moderado” de 36.7 µg/m³.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) informou que a fumaça é resultado das queimadas no sul do Amazonas. A Defesa Civil alertou os moradores sobre os focos de incêndio florestal que, combinados com a chegada de uma frente fria, têm levado a fumaça para a região metropolitana de Manaus.
O problema se estende a outros municípios do Amazonas, como Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã, todos localizados no sul do estado, na região conhecida como “arco do fogo”. As queimadas intensas na área têm colocado Manaus entre as cidades com a pior qualidade do ar no mundo, segundo a plataforma World Air Quality Index.
O governo do estado afirmou que o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) estão atuando no combate às queimadas na região, com o apoio do Corpo de Bombeiros.
Recorde de queimadas em julho
Entre 1º e 31 de julho, foram registrados 11.145 focos de queimadas na Amazônia, o maior número para o mês desde 2005, de acordo com dados do Sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse número é 93% superior aos 5.772 focos registrados em julho do ano passado e 111% maior que a média dos últimos 10 anos para o mês (5.272 focos).
Os dados mostram que a situação na Amazônia se agravou nos últimos dias de julho: metade dos mais de 11 mil focos de queimadas ocorreu nos últimos oito dias do mês.
As imagens de satélite da NASA capturaram uma dispersão de fumaça “inusitada e intensa”, como descrito pela agência, abrangendo Roraima, Amazonas e Pará. Essas imagens foram publicadas nas redes sociais da NASA nesta segunda-feira (12), destacando a recente alta nas queimadas na Amazônia, que resultou no pior mês de julho em 20 anos para o bioma, com mais de 11 mil focos de calor registrados.