O Brasil enfrenta uma grave crise de desabastecimento de insulina, essencial para o tratamento do diabetes tipo 1. O problema, causado por falhas na produção global e interrupções na cadeia de suprimentos, tem afetado tanto a rede pública quanto farmácias privadas, gerando preocupação entre médicos e pacientes.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) fornece insulinas Humulin ou Novolin NPH e Regular, mas há escassez generalizada. Sylvio Provenzano, endocrinologista do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), alerta que a falta desse medicamento pode levar ao coma diabético e sobrecarregar o sistema de saúde.

Ações do governo
Em 2024, o Ministério da Saúde adquiriu 55,6 milhões de unidades de insulina, com um investimento de R$ 799 milhões, ampliado para R$ 1 bilhão em 2025. Apesar dos esforços, a regularização ainda não foi confirmada. Para amenizar o problema, a pasta antecipou entregas previstas para 2025 e aumentou a concorrência nas aquisições, incluindo fornecedores internacionais.
Uma das medidas tem sido migrar pacientes para insulinas em canetas de 3 ml, alternativa às versões em frascos de 10 ml, que enfrentam maior escassez. No entanto, essa modalidade não está disponível no programa Farmácia Popular, dificultando o acesso para muitos usuários.
Impacto global e reflexos no Brasil
A Novo Nordisk, maior fabricante mundial de insulinas NPH e Regular, anunciou uma redução na produção devido à alta demanda de tratamentos para diabetes tipo 2 e obesidade, como Ozempic e Wegovy, que sobrecarregaram a cadeia de produção. A empresa prevê que a intermitência na oferta de insulina continuará até 2025.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) têm monitorado a situação, alertando sobre os riscos graves do desabastecimento. Em nota, o CFM enfatizou que a interrupção do acesso ao medicamento pode levar a emergências médicas graves e até óbitos.
Recomendações para pacientes
O Ministério da Saúde orienta pacientes que não encontram insulina no Farmácia Popular a buscar as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Já os atendidos pela rede privada devem procurar seus médicos para avaliar alternativas.
Especialistas recomendam que os pacientes mantenham sempre uma reserva de insulina em casa, para evitar complicações caso o medicamento esteja indisponível. “A insulina é como o oxigênio para os pacientes; sem ela, a pessoa não sobrevive”, ressalta Jaqueline Correia, presidente do Instituto Diabetes Brasil.
Crescimento do diabetes no Brasil
O cenário varia pelo país. Enquanto alguns estados, como Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia, relatam fornecimento regular, outros, como Paraíba e Ceará, ainda enfrentam desabastecimento.
O diabetes, uma das doenças crônicas de maior impacto no Brasil, cresceu 65% em 15 anos. Em 2021, 9,1% dos adultos brasileiros viviam com a doença, segundo dados da pesquisa Vigitel. O aumento da demanda por insulina intensifica a necessidade de ações governamentais para garantir o abastecimento e proteger a saúde pública.
Enquanto o desabastecimento persiste, entidades médicas, governo e sociedade buscam soluções para evitar consequências mais graves e garantir o tratamento contínuo dos pacientes que dependem da insulina.
Da Redação com O Globo