O Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano e símbolo de renovação da Igreja Católica, faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. A morte foi confirmada pelo cardeal Kevin Farrell, camerlengo do Vaticano, responsável por administrar a Igreja durante o período de sede vacante.
“Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que comunico a morte do nosso Santo Padre Francisco”, declarou Farrell. “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Sua Igreja.”
Em sua homenagem, Farrell destacou o compromisso do papa com os mais vulneráveis: “Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.”
A nota oficial foi concluída com um tributo comovente: “Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos sua alma ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”
Últimos dias e complicações de saúde
O papa enfrentava uma série de problemas de saúde desde o início de 2024. Após ser internado por quase 40 dias no Hospital Gemelli, em Roma, recebeu alta em 23 de março. Logo em seguida, foi diagnosticado com pneumonia bilateral, uma inflamação grave dos pulmões que comprometeu severamente sua respiração.
O Vaticano descreveu o quadro clínico como “complexo”, causado por múltiplos microrganismos. Durante o período de internação, Francisco teve oscilações constantes no estado de saúde. Enfrentou uma crise respiratória prolongada semelhante à asma, além de anemia e baixa contagem de plaquetas, exigindo transfusões sanguíneas. Também apresentou sinais de insuficiência renal leve e precisou de ventilação mecânica não invasiva.
Mesmo debilitado, fez questão de gravar uma mensagem em áudio agradecendo as orações dos fiéis, demonstrando fé e resiliência. O prognóstico, no entanto, permaneceu “reservado”, e sua condição evoluiu até o desfecho nesta manhã.
Um papado histórico e transformador
Francisco nasceu em Buenos Aires, Argentina, como Jorge Mario Bergoglio, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos. Foi ordenado sacerdote jesuíta em 1969 e tornou-se arcebispo da capital argentina em 1998. Em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II.
Em 13 de março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, Bergoglio foi eleito o 266º papa da Igreja Católica, adotando o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade, paz e amor pelos pobres.
Foi o primeiro papa da América Latina, o primeiro jesuíta e o primeiro não europeu em mais de 1.200 anos. Seu estilo simples e acessível contrastou com tradições mais formais do Vaticano. Recusou luxos, preferiu viver em uma residência modesta e usava sapatos simples em vez dos tradicionais calçados papais.
Durante seu pontificado, Francisco destacou-se por sua ênfase na misericórdia, no diálogo inter-religioso, no cuidado com o meio ambiente e nos direitos dos imigrantes e refugiados. Encorajou uma Igreja mais acolhedora e menos punitiva, aberta aos desafios do mundo moderno.
Entre suas encíclicas mais importantes, estão Laudato Si’ (2015), um apelo urgente à proteção do planeta, e Fratelli Tutti (2020), um chamado à fraternidade e amizade social global.
Desafios internos e reformas
Francisco enfrentou forte resistência interna ao tentar reformar estruturas da Cúria Romana, combater abusos sexuais cometidos por membros do clero e promover maior transparência nas finanças do Vaticano. Apesar das dificuldades, conseguiu avanços significativos nesses campos, além de defender uma maior valorização do papel das mulheres na Igreja.
Ele também conduziu importantes reformas litúrgicas, promoveu a descentralização do poder no Vaticano e incentivou maior participação dos leigos.
Problemas de saúde ao longo dos anos
Desde jovem, o papa convivia com questões respiratórias. Teve pleurisia, uma inflamação na membrana pulmonar, o que levou à remoção de parte de um dos pulmões. Essa condição o tornou mais vulnerável a infecções respiratórias.
Em julho de 2021, passou por uma cirurgia de seis horas para remover parte do cólon, tratando de uma diverticulite. Em 2023, foi hospitalizado duas vezes — em março, com bronquite, e em junho, para uma cirurgia abdominal. Nos últimos anos, enfrentou também dores no joelho e nas costas, fazendo uso frequente de cadeira de rodas.
Apesar das limitações, continuou exercendo seu ministério até o fim, com firmeza e dedicação.
Legado duradouro
O legado do Papa Francisco é de inclusão, compaixão e coragem. Seu pontificado será lembrado como um tempo de abertura, escuta e renovação para uma Igreja em transformação.
Sua morte abre agora o caminho para o conclave, no qual os cardeais de todo o mundo se reunirão no Vaticano para eleger um novo papa.
Da Redação com CNN