O Datapedia (www.datapedia.info) reúne mais de 10 bilhões de dados sobre situação de todos os 5.570 municípios brasileiros. A ferramenta facilita a visualização das pesquisas que são fundamentais para a implementação de políticas públicas. é possível procurar pela localidade ou navegar pelo infográfico do mapa.
O diretor executivo e fundador do Datapedia, Marcos Silveira, teve a ideia de criar a plataforma quando desenvolvia políticas públicas na área de educação para prefeituras. Ele percebeu que gastava mais tempo coletando dados do que na análise das informações e na formulação das estratégias.
“Eu percebi quanto tempo eu perdia para encontrar as informações em sites confusos. Tinha muitos dados, muita informação importante disponível. Porém, estavam sempre separados, escondidos e em uma linguagem técnica que dificulta a visualização”, explica.
Para Silveira, ferramentas como o Datapedia têm um enorme potencial para fazer com que as políticas sejam aplicadas de forma mais racional e rápida, identificando quais são as prioridades de cada município. Segundo o diretor do site, o Brasil avançou muito com a Lei de Acesso à Informação. Mas, por uma dificuldade de alcançar todos esses dados disponíveis, ainda há casos de políticas públicas realizadas sem embasamento.
“Se um gestor quer melhorar a educação, por exemplo, ele precisa definir: qual é o nosso déficit? Quantas vagas serão criadas? Qual é o nosso índice de qualidade na educação? Qual é a nossa meta? Em quanto tempo iremos alcançá-la? Fazer esse plano só é possível se os dados estiverem disponíveis”, afirma.
No Datapedia, as informações estão separadas por cidade. Selecionando cada município, uma página mostra todos os indicadores disponíveis. Em todas as localidades, os dados estão apresentados com a mesma metodologia e com uma visualização intuitiva, com utilização de gráficos e tabelas que facilitam a análise até mesmo de quem, até então, não conhecia o indicador que está sendo analisado.
Marcos Silveira destaca que esse é um dos principais benefícios da plataforma. “Não são todas as cidades que teriam capacidade de desenvolver uma ferramenta dessa. No Datapedia, desde a cidade mais rica do Brasil até a mais pobre estão contempladas com os mesmos dados, com a mesma metodologia apresentada de uma forma amigável”, conclui.
Outra ferramenta está sendo elaborada pela equipe do Datapedia para ajudar nas análises das informações. Ela vai permitir que os usuários possam comparar dados de diferentes indicadores e municípios.
Como é feito
O primeiro passo para disponibilizar os dados no Datapedia é fazer a busca pelos órgãos de pesquisa, como IBGE, Ministério da Educação, Ipea, entre outros. A partir daí, a equipe começa a trabalhar em como essas informações serão disponibilizadas.
Com os dados em mãos, os profissionais definem como esses números serão trabalhados de forma a serem apresentados da maneira mais didática possível. Definida a apresentação, as equipes realizam gráficos e imagens para tornar a visualização das informações mais amigável e facilitar a compreensão. Os indicadores mais complexos ganham uma explicação sobre como funciona a metodologia da avaliação para que possam ser analisados por quem não tem familiaridade com esses índices.
Interessados em uma análise sobre situações específicas podem contratar o Datapedia para produções sob encomenda.
Iniciativa fomenta fiscalização
Desde que a informação pública se tornou mais acessível, cresceu o número de iniciativas populares interessadas em fiscalizar os órgãos governamentais. É o caso da Contas Abertas, ONG que se especializou em inspecionar as contas públicas e fornecer notícias e documentos aos cidadãos. Fundador e secretário geral da entidade, Gil Castello Branco comemora a chegada de plataformas como o site Datapedia.
“Costumo dizer que a iniciativa não parte do médico que chega em casa e tem um insight: ‘opa, vou fiscalizar meu deputado’. Quem acompanha mesmo são as ONGs, que cruzam e interpretam essas informações, já que nem todos têm a facilidade de entender o linguajar utilizado. Assim, vejo com bons olhos esse tipo de ideia. Afinal, o cidadão tende a compreender as necessidades de sua cidade e a participar com maior entusiasmo do processo”, avalia Castello Branco.
O Contas Abertas deu um dos pontapés iniciais para o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ao descobrir e denunciar ao Tribunal de Contas da União (TCU) as chamadas “pedaladas fiscais”, ainda em 2014. Para Castello Branco, mais que fiscalizar os dados, é importante saber o que fazer com esse material.
“Esse trabalho de acompanhamento, fiscalização de dados e transmissão à sociedade civil de forma inteligível não é importante apenas para se saber a legalidade do gasto, mas também sua prioridade. A partir do momento em que temos essas informações mais detalhadas, sabemos quais são os setores que mais necessitam de investimentos”, completa o economista.
Quem também aprova esse tipo de iniciativa é a especialista em direito administrativo Maria Tereza Fonseca Dias. “Ainda que seja complicado apontar um resultado, essas ideias tendem a fazer com que a administração seja mais democrática. Quanto mais grupos sociais puderem informar-se, maior será a possibilidade para confrontar e pluralizar dados e discursos, o que pode trazer à sociedade maior convicção sobre temas importantes de políticas públicas”, avalia.
Por Ana Amélia Maciel com O Tempo