Um novo estudo, considerado “o mais amplo já feito sobre o tema” e publicado ontem no periódico científico “Neuron”, revela de que maneira algumas famílias são mais suscetíveis às enxaquecas e como a genética pode influenciar o tipo de dores que sentem.
Após avaliarem mais de 59 mil pacientes com enxaqueca, pesquisadores identificaram mais de 40 variantes significativas de risco genético que predispõem as pessoas à enxaqueca. A equipe, então, combinou informações de todas essas variantes de risco e calculou uma “pontuação” de risco genético pessoal para cada participante do estudo.
A pontuação de risco genético foi usada para estimar e comparar a carga genética conferida por variantes comuns em diferentes subgrupos de pacientes com enxaqueca.
Pesquisas prévias sobre as enxaquecas identificaram duas maneiras como elas atingem as famílias. Uma delas ocorre por meio de três genes – CACNA1A, ATP1A2 e SCN1A –, que foram associados às enxaquecas hemiplégicas – forma mais severa.
Esses genes se encaixam nos modelos de herança mendeliana, em que as duas cópias de um gene herdadas pelos pais determinam o surgimento de um traço ou doença no filho. A anemia falciforme seria uma doença de herança mendeliana.
Outra forma envolve heranças poligênicas – um grupo de genes. A altura é um exemplo de herança poligênica. Diante disso, Aarno Palotie, pesquisador do Instituto para Medicina Molecular da Finlândia, e seus colegas decidiram investigar se apenas uns poucos, mas poderosos, genes mendelianos, uma acumulação poligênica de variante comuns ou uma combinação dos dois mecanismos influenciam a herança.
Para descobrir isso, os pesquisadores desenvolveram um “placar de risco poligênico” para estimar o “peso” das variantes comuns no aparecimento da doença. Eles angariaram dados de estudos anteriores de uma pesquisa que comparou genomas de milhares de pessoas e apontou os chamados “loci” (locais nos cromossomos) que diferem nas pessoas que têm determinada doença. Centenas destes loci associados às enxaquecas foram incorporados ao placar de risco poligênico.
Depois, eles testaram a influência desses placares de risco e dos três genes mendelianos em um amplo estudo com famílias que sofrem com a condição na Finlândia. Os resultados dessas comparações mostraram que as variantes comuns poligênicas tinham maior influência no aparecimento das enxaquecas do que os três genes mendelianos.
Dúvidas. “Por muito tempo, ficamos pensando como uma doença comum, como a enxaqueca, se agrega em torno de algumas famílias”, conta Aarno Palotie, do Instituto para Medicina Molecular da Finlândia.
Descoberta traz perspectiva de novos remédios
Aaron Palotie acredita que estudos mais amplos vão ajudar os cientistas a encontrar novas variantes genéticas e outros genes mendelianos associados às enxaquecas. “Isso é de especial interesse para o desenvolvimento de remédios. Mesmo que os genes mendelianos não estejam por trás da maioria dos casos, é possível investigar como eles impactam as vias biológicas responsáveis pelos sintomas e, a partir daí, desenvover novas drogas”, diz.
Com O Tempo