Domingo é dia de Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas também de acertar os ponteiros e de garantir informações sem erro. Os primeiros testes da maior avaliação do país coincidem com a mudança dos relógios em 10 estados e no Distrito Federal, onde eles serão adiantados em uma hora a partir da meia-noite de sábado. O início do horário de verão é motivo extra para os candidatos terem ainda mais atenção ao planejamento, evitando ainda mais estresse. O país terá quatro fusos horários diferentes e, por isso, os portões dos locais de provas serão abertos e fechados em horários diferentes nos estados.
Um ponto não pode ser esquecido: o início do Enem leva em consideração o horário de Brasília. Os portões abrem às 12h e fecham às 13h, para candidatos do DF e dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também deverão adiantar os relógios em uma hora, mas como atualmente eles já têm um fuso com uma hora atrás de Brasília, a diferença permanece a mesma. Assim, no Amapá, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe os portões serão abertos às 11h e fechados às 12h, seguindo o horário local.
Em Rondônia, Roraima e parte do Amazonas, os candidatos estarão autorizados a entrar nos locais de prova a partir das 10h até as 11h, de acordo com o horário local. E no Acre, nas cidades amazonenses de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Boca do Acre, Eirunepé, Envira, Guajará, Ipixuna, Iatamarati, Jutaí, Lábrea, Pauini, São Paulo de Olivença e Tabatinga, que têm fuso horário de três horas a menos em relação a Brasília, os portões serão abertos às 9h e fechados às 10h, também seguindo horário local. Para garantir que o domingo transcorra sem surpresas, o ministro da Educação, Rossieli Soares, encaminhou ofícios à Agência Nacional de Telefonia (Anatel) e empresas de telefonia solicitando que não haja erros na mudança para o horário de verão.
O médico Valério Trindade afirma que as pessoas precisam, em média, de três dias para se adaptar ao novo horário. “Apesar de mudar só uma hora, o impacto biológico é muito grande. Há uma controvérsia em relação aos benefícios econômicos, mas sobre os biológicos, é um desastre”, adverte o clínico geral e cardiologista da Unimed-BH. Segundo ele, a mudança nos ponteiros afeta diretamente o relógio social, impactando em mudanças hormonais importantíssimas para o organismo – mais especificamente, à produção de melatonina e cortisol, diretamente ligados à luminosidade.
A melatonina é produzida na pineal, uma glândula pequena do cérebro, e aumenta a intensidade quando entra em um horário com ambiente mais escuro e induz o sono – o mesmo ocorre diante de baixa luminosidade. Já o cortisol, produzido nas suprarrenais, quando o dia vai clareando, aumenta sua produção e desperta para atividades diárias. “É o que chamamos de ciclocircadiano, uma sintonia fina do organismo com a natureza”, explica o médico Valério Trindade.
Mas, ele ressalta, as mudanças não dizem respeito apenas ao dormir e acordar. As alterações afetam ainda a hora de se alimentar, pois mudam também hábitos intestinais e urinários, o que traz repercussão ao organismo. “Estudos mostram que 50% das pessoas sofrem algum tipo de incômodo com a mudança de horário. E 25% sofrem esse desconforto durante toda a duração dessa mudança”, diz.
Para quem vai fazer a prova, os riscos são de sonolência, dificuldade de concentração e de memória e para dormir à noite. A recomendação é, nesses dias que antecedem o teste, dormir cerca de 20 minutos mais cedo para acostumar o organismo e diminuir o impacto do horário de verão. Outra orientação é, próximo da mudança da data, evitar atividade física intensa, priorizando atividade aeróbica e aquelas que usam peso, ter alimentação mais leve (carboidrato, frutas e verduras) para ajudar organismo a atravessar a mudança artificial biológica. “A família também pode ajudar muito nesse processo. Diante do estresse próprio do Enem, se o candidato tiver ainda que se preocupar se o relógio atrasou ou adiantou é um estresse a mais. Por isso, o aluno pode escolher quem vai ser o responsável pela mudança do horário para não ter essa preocupação adicional”, ressalta o médico.
Pontualidade
Recentemente, as redes de celulares e computadores adotaram o horário de verão antes do tempo. O erro movimentou as redes sociais e traz desconfiança a quem não pode perder a hora no domingo. A estudante Letícia Costa Silveira Santos, de 19 anos, diz que vai ter que confiar que, desta vez, a mudança será feita corretamente, já que não tem outro despertador. “Tenho só o telefone e minha mãe”, diz. Mesmo fazendo a prova a cinco minutos de casa, ela quer chegar cedo ao local da avaliação, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
Letícia conta que tem dificuldade de se adaptar ao horário de verão e precisa sempre de pelo menos três dias para se sentir bem novamente. “Acordo cedo e, como ainda está escuro, dá a sensação de que não está na hora”, relata. Sem opção desta vez, o jeito vai ser se adaptar: “Vou dormir mais cedo no sábado para compensar a uma hora que ficará para trás e eliminar a sensação de cansaço.”
Informações só nos canais oficiais
Com o fenômeno das fake news, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) orienta que os participantes busquem informações apenas nos canais próprios ou do Ministério da Educação, únicas fontes oficiais sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). E chama a atenção para o fato de todo o conteúdo oficial do exame ser identificado com os logotipos das duas instituições. Este ano, quase 600 mil pessoas estão envolvidas com a aplicação da avaliação. Cinco vezes mais detectores de ponto eletrônico estarão disponíveis nos locais de prova.
O Enem comemora 20 anos de existência com números impressionantes. Desde a primeira edição da prova, em 1998, quase 90 milhões de brasileiros se inscreveram para os testes, que surgiram naquela época apenas como uma avaliação do ensino médio.
“Em 1998, 115 mil estudantes trocaram a tarde de domingo por um compromisso desconhecido. O Inep, de forma inédita, aplicou uma avaliação do indivíduo. A experiência na produção de itens e provas, e na logística de aplicação, e mesmo a transformação da sociedade, foram conduzindo mudanças. A possibilidade de oferecer parâmetros para o prosseguimento dos estudos ou para o ingresso no mundo do trabalho, entretanto, permanecem desde a concepção do Enem”, disse ontem, em coletiva de imprensa, a presidente do Inep, Maria Inês Fini, idealizadora do exame.
Palavra de especialista
O início do horário de verão pode causar alguns prejuízos, o principal deles é a ansiedade. “Em questões fisiológicas, a mudança é pequena. O problema maior da mudança no horário acontece no emocional. É mais um combustível para a ansiedade do aluno”, diz Denise Arão, professora do chromos. Ela também deu dicas aos alunos que vão enfrentar a maratona de questões objetivas. “A dica é, a partir de hoje, já se habituar ao horário de verão, principalmente quanto à alimentação. É aconselhado que o aluno durma uma hora mais cedo, para já se preparar. Ainda assim, é preciso que o estudante tenha confiança em si mesmo, pois ele já se preparou durante todo o ano”, ressaltou.
Com Estado de Minas