Precisão nos movimentos, visão 3D e recuperação rápida são algumas das vantagens para médicos e pacientes trazidas pela cirurgia robótica. A ferramenta, presente no Brasil há oito anos e existente em Belo Horizonte há dois, foi um ganho em operações para retirada de tumores, especialmente na próstata. A glândula está em foco no mês em que os cuidados com a saúde masculina são reforçados – o Novembro Azul.
O maquinário, que leva o nome de Da Vinci – em referência às múltiplas habilidades do pintor renascentista –, é guiado pelo especialista por meio de um console, em que botões e pedais compõem espécie de joystick dos videogames. As funcionalidades permitem, dentre outras coisas, incisões certeiras, manipulação de estruturas delicadas e filtragem do tremor das mãos dos médicos.
“Na cirurgia por videolaparoscopia, por exemplo, olhamos para um televisor bidimensional. Tínhamos perdido a profundidade. O robô nos devolveu a visão tridimensional, o 3D real”, diz o urologista Pedro Romanelli, que preside a Seção Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Urologia e é proctologista do Hospital Felício Rocho.
O papel de Romanelli, que tem cinco anos de experiência na técnica, é, além de realizar o procedimento, orientar outros médicos que estejam começando na cirurgia robótica na unidade de saúde.
“Para operar no robô é preciso tirar uma espécie de ‘carteira de motorista’, certificação disponível nos Estados Unidos e na Colômbia. No entanto, nos primeiros casos, é preciso ter ao lado um cirurgião experiente”, destaca o profissional.
De acordo com o urologista, muita gente pensa que a cirurgia robótica é realizada exclusivamente por robô. Uma equipe inteira está envolvida no processo.
“Brinco que o robô éigual a uma Ferrari. Se você não souber dirigir, não adianta nada. O que fará com a melhor imagem e a precisão depende do cirurgião. É uma tecnologia fantástica, mas que precisa de treinamento e de uma equipe que está acostumada com a mecânica da cirurgia”, explica o especialista.
Prevenção
Na retirada do câncer na próstata, segundo tipo que mais mata homens no Brasil – estimativa para este ano é de 65 mil novos casos –, a ferramenta permite a preservação de estruturas importantes, reduzindo consideravelmente as chances de incontinência uri-nária e disfunção erétil, situações temidas pelos pacientes.
“Nem sempre é necessário tratar a doença de imediato. Tratamos excessivamente esse tipo de tumor na década de 1990, fazendo os homens sofrerem com as consequências. Hoje, fala-se muito de vigilância ativa, verificando periodicamente exames de sangue e de imagem”, descreve Ellias Lima, oncologista da Oncomed e Instituto Mário Penna.
Como qualquer tipo de câncer, se diagnosticado precocemente, o de próstata apresenta maior possibilidade de cura. “Queremos que as pessoas morram menos da doença. O exame de sangue (chamado PSA) consegue nos dizer se pode haver algo errado com a glândula, mas a enfermidade é confirmada apenas com a biópsia”, explica o médico.
Recuperação rápida é uma das vantagens do procedimento
A redução dos riscos de infecção e outros benefícios da cirurgia robótica foram determinantes para que o comerciante Joaquim Eustáquio Reis, de 63, decidisse pela retirada da próstata, há um ano.
Ele, que conviveu com o câncer durante três anos, ficou receoso em tratar com a radioterapia, opção dada por um dos médicos com os quais consultou. “Mas, minha avó sempre falava que é preciso cortar o mal pela raiz. Além disso, a radiação poderia afetar algum órgão próximo. Por isso, quando o robô chegou a Belo Horizonte, fui criando coragem para passar pelo procedimento”, conta.
Reis afirma que a única dor que sentiu durante todo o processo foi a da picada da agulha para a aplicação da anestesia. “Fiz a cirurgia às 15h do dia 15 de novembro de 2017. Vinte e quatro horas depois eu já seguia para a casa da minha filha para a recuperação. Voltei às minhas atividades normais em 30 dias”, relata o comerciante, que disse ter tido, por curto período, incontinência urinária. “Meu médico me encaminhou para a fisioterapia e logo consegui reter a urina”, expõe.
Satisfação
Há quase três meses, o empresário Dalton Laranjo, de 56 anos, passou por experiência semelhante à de Joaquim Reis com a cirurgia robótica. “Não senti dor alguma e, no dia seguinte, já saí para a recuperação em casa. Já estou bem recuperado, fazendo atividade física e retornei ao trabalho, mesmo que aos poucos, com duas semanas”.
O tumor de Laranjo já estava grande quando foi detectado, no último mês de junho. Após alteração no exame de sangue, o empresário fez a biópsia e logo decidiu pela operação, realizada em agosto. “Ele poderia se espalhar para outros órgãos, mas deu tempo, a ação foi rápida”, relembra.
Ambos os pacientes foram operados pelo urologista Pedro Romanelli, que ressalta a excelência dos resultados. “Com essa cirurgia, temos conseguido acelerar a recuperação. Hoje, a maioria deles consegue ter uma vida boa após o procedimento”, coloca
Se o tumor for extirpado por completo e os exames de sangue estiverem normais, não há necessidade de tratamento complementar.
“Na maioria das vezes, o tratamento cirúrgico é o suficiente. Geralmente, se o paciente precisa, a radioterapia é combinada com tratamento hormonal. Em fase mais avançada da doença, no caso de metástase e recidiva, pode-se lançar mão de quimioterapia”, esclarece Ellias Lima, oncologista da Oncomed e do Instituto Mário Penna.
Com Hoje em Dia