A Jump, marca de bicicletas elétricas do Uber, chegará ao Brasil no ano que vem. A empresa não revela o mês, mas confirmou por meio de sua assessoria de imprensa, que começará a oferecer corridas de bike no Brasil em 2019. O usuário encontrará as bicicletas soltas pelas calçadas, assim como funciona com as da Yellow em São Paulo. Hoje, as bikes da marca não são elétricas, mas a empresa afirmou que “em 2019 deve operar também com bicicletas elétricas”.
A capital paulista deve ser uma das primeiras cidades da América Latina a receber as e-bikes do Uber, segundo depoimento do fundador e responsável pela Jump, Ryan Rzepecki, que também informou que se for bem recedido, o projeto deve se expandir rápido. Hoje, as bicicletas da Jump estão presentes em 12 cidades dos Estados Unidos e em Berlim, na Alemanha.
Por que o Uber entrou no negócio de bicicletas elétricas?
O Uber comprou a empresa de compartilhamento de bicicletas elétricas Jump, em abril deste ano, por um valor estimado pelo mercado em US$ 200 milhões. Não foi surpresa para ninguém a aquisição. O Uber já estava oferecendo viagens em bicicletas da Jump em São Francisco, nos Estados Unidos, desde o início do ano, quando a empresa anunciou o Uber Bike.
O investimento em bicicletas elétricas vai ao encontro da nova estratégia da companhia. A empresa já diz abertamente que vai apostar mais nas bikes e nos patinetes elétricos para trajetos de curta distância do que em carros. O presidente do Uber, Dara Khosrowshahi, afirmou, em agosto, que esse é o plano de longo prazo da companhia. “Durante a hora do rush, é muito ineficiente um trambolho de uma tonelada de metal deslocar-se para levar um passageiro a apenas dez quarteirões de onde ele está”, disse o executivo em entrevista ao Financial Times.
A estratégia terá um peso significativo nas finanças da companhia. Afinal, uma viagem de patinete ou bicicleta elétrica custa menos do que uma corrida de carro. Espera-se que a oferta dessa nova modalidade de transporte represente perda financeira para a empresa, que já teve prejuízo de US$ 4,5 bilhões no ano passado. O presidente do Uber, no entanto, defende o novo posicionamento e afirma que os investidores têm de entender que essas perdas serão necessárias para alcançar objetivos maiores de longo prazo.
Como funciona a bike da Jump
As bicicletas da Jump são elétricas, o que significa que você tem de fazer pouquíssimo esforço para pedalar. Ao encontrar a bicicleta na rua, o usuário terá apenas de digitar um PIN (num tecladinho existente na bicicleta) para liberá-la. Esse código aparecerá antes no celular do usuário, quando for selecionada a bicicleta no aplicativo do Uber.
A bike da Jump tem uma bateria suficiente para andar até 60 quilômetros. Quem faz o carregamento da bateria depois é a própria Jump. O pagamento da corrida ocorre no aplicativo do Uber, por meio do cartão que o usuário cadastrou, assim como nas viagens de carro. Nos Estados Unidos, em cidades como São Francisco e Nova York, são US$ 2 para os primeiros 30 minutos e, depois disso, US$ 0,07 o minuto. Ainda não há valores divulgados para o Brasil.
A Jump também aluga patinetes, mas, por enquanto, o serviço só funciona em Los Angeles, na Califórnia, e em Austin, no Texas.
Concorrência
Há dois serviços de bikes disponíveis hoje em São Paulo (mas elas não são elétricas): o do Itaú, também presente em outras cidades, e o da Yellow (só em São Paulo). No plano básico do Itaú, você paga R$ 2 por uma viagem de 60 minutos. Se não devolver a bicicleta em 60 minutos, paga R$ 5 por cada hora adicional. No caso da Yellow, o custo é de R$ 1 por 15 minutos.
Nos fins de semana, é comum ver paulistanos alugando bikes das duas companhias para passear nas ciclovias por horas seguidas. Nesse caso, quem fizer os cálculos verá que o custo é parecido. Uma viagem de quatro horas, sem devolver a bike, custaria R$ 17 com o Itaú e R$ 16 com a Yellow. Uma vantagem da Yellow é não precisar passar pelo sufoco de achar uma estação com bicicleta disponível para retirá-la ou uma estação com vaga para devolvê-la. A Yellow não trabalha com estações.
Já uma vantagem da bike do Itaú é que ela está disponível em pontos da cidade em que a Yellow ainda não está. E existe um plano diário do Itaú de R$ 8 — só que você não pode ficar com a bicicleta por muitas horas seguidas. É preciso andar 60 minutos, devolver a bike e esperar mais 15 minutos para retirá-la de novo.
Ou seja, quem decide o que é melhor é o usuário, pois depende da experiência desejada e do tempo de deslocamento. (Espera-se que o aluguel da bike elétrica tenha valor um pouco mais elevado).
Mercado em expansão
Fato é que em breve o usuário terá mais uma opção. Mobilidade, mais do que nunca, é um mercado valioso para as empresas. Só o setor de compartilhamento de bicicletas vai gerar US$ 7,5 bilhões em 2021 no mundo, de acordo com dados compilados pela Statista.
A concorrência, em especial a Yellow, certamente está acompanhando com atenção a chegada do serviço de bicicleta do Uber ao Brasil. Considerando o poder de fogo dele, avaliado em fevereiro em mais de US$ 70 bilhões, o movimento pode representar um risco aos players menores. Resta saber qual será a estratégia de contra-ataque da Yellow. A empresa começou a operar em São Paulo em agosto deste ano.
No início deste mês, Eric Acher, sócio-diretor do fundo brasileiro Monashees, cujo portfólio inclui a Yellow, afirmou que evita investir em setores que podem ser facilmente acessados por players de tecnologia globais. “Desses, portanto, nós ficamos longe, porque entendemos que a competição pode ser difícil.” Mas, quando questionado por colegas investidores sobre quais setores exatamente seriam esses, Acher citou apenas adtechs e CRMs como exemplos de áreas cujas soluções são facilmente replicáveis ou já estão em desenvolvimento por marcas globais.
Com Época Negócios