O número de pessoas com fibromialgia está crescendo devido ao aumento do estresse e à melhora do diagnóstico, segundo o reumatologista Diogo Domiciano, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, especialista no assunto.
“A fibromialgia é uma doença crônica de caráter benigno, não vai deformar, como outros reumatismos, mas pode trazer um grau de incapacidade funcional se não for tratada. Já o paciente tratado pode se livrar da dor”.
Um consenso na literatura médica sobre as causas aponta que a fibromialgia é um distúrbio do sistema nervoso central. “Trata-se de um desequilíbrio de neurotransmissores e hormônios do sistema nervoso central que tem a ver com a percepção da dor”, explica.
“Já foi demonstrado em estudo com humanos que pessoas que têm fibromialgia têm menos serotonina no cérebro, uma substância que controla a percepção da dor. Elas têm áreas da dor aumentadas”, completa.
Já se sabe também que a fibromialgia tem um componente genético, ou seja, quem tem caso na família apresentará maior chance de desenvolver a doença, e que é desencadeada por fator ambiental. “O gatilho da doença pode ser um estresse emocional, trauma, acidente, doença grave ou infecção viral. E pessoas que têm doenças crônicas que causam dor, como artrite reumatoide ou lúpus, apresentam mais chance de ter a fibromialgia”, explica.
A incidência é maior em mulheres entre 35 e 60 anos. Segundo o reumatologista, isso pode estar associado a uma questão hormonal. “A doença acomete de 3 a 6 mulheres para cada homem. Alguns estudos mostram que pode estar relacionada a hormônios à época da perimenopausa e menopausa”.
Não existe um exame específico para identificar a fibromialgia. O diagnóstico é feito pela história clínica e exame físico do paciente. Entre os sintomas estão dor muscular ou nas articulações por mais de três meses em diferentes lugares do corpo. “Geralmente, há sintomas associados que são insônia, distúrbios do humor, como depressão e ansiedade, fadiga, um cansaço inexplicável, alterações na memória e dificuldade de concentração”, afirma.
Ele explica que, como se trata de uma dor difusa, ela aparece nos dois lados do corpo, sendo simétrica. Mas o conceito de 18 pontos de dor está ultrapassado. “Isso é um critério antigo, não se usa mais. Hoje se consideram ‘áreas dolorosas'”, explica.
Entre os novos tratamentos para cessar a dor da fibromialgia ele menciona a terapia Foto Sônica, criada pelo Instituto de Física da USP de São Carlos, como um tratamento alternativo. “O estudo demonstrou que a técnica é eficaz, mas ainda são necessárias maiores evidências”, diz.
A terapia Foto Sônica é realizada a partir de um equipamento, considerado pioneiro no mundo, que realiza a aplicação conjugada de ultrassom e laser terapêutico, de baixa intensidade, nas palmas das mãos. Apesar da aplicação local, o efeito ocorre em todo o corpo.
Segundo os autores da pesquisa, o tratamento conseguiu zerar a dor da fibromialgia em 90% dos pacientes. A técnica está disponível apenas na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos.
Para Domiciano, o que comprovadamente melhora as dores da fibromialgia é a combinação de três condutas: consciência do paciente de que se trata de uma doença que pode ser controlada e que isso depende da participação dele, atividade física, principalmente aeróbica e musculação, e uso de medicações que equilibram os neurotransmissores.
“Há várias classes de medicações, entre elas o antidepressivo. Mas vale ressaltar que o antidepressivo não é dado contra depressão, mas sim devido à sua ação analgésica”, explica.
O médico ainda ressalta que para o tratamento dar certo é preciso realizar as três condutas combinadas. “Não adianta, por exemplo, só tomar remédio”, diz.
Ele cita como outros tratamentos alternativos a acupuntura, a hidroterapia e a estimulação elétrica transcraniana.
“Um tratamento para a fibromialgia que está bem estabelecido é a psicoterapia. Já foi comprovado que a psicoterapia diminui a sensibilidade dolorosa com o tempo e provoca alterações estruturais no sistema nervoso central. As áreas que controlam a dor e a emoção no cérebro estão muito ligadas. A terapia também ajuda a forma como o paciente encara a doença”, afirma.
O tratamento é mutidisciplinar, mas quem suspeita da doença deve procurar inicialmente um reumatologista.
Com R7