Seis de cada dez crianças ou adolescentes mineiros envolvidos em acidentes de trânsito ficam com sequelas para o resto da vida. São jovens que precisam lidar com limitações, como uma amputação ou paralisia. A maioria se machucou em ocorrências de tráfego quando estava fora dos veículos, na condição de pedestre ou ciclista.
O levantamento é do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (Dpvat). A pesquisa ainda revela que o Estado é líder no ranking nacional de indenizações pagas às vítimas de batidas, atropelamentos e capotagens.
Apenas de janeiro a setembro, 1.001 reparações foram destinadas à faixa etária de 0 a 17 anos em Minas. Do total, 603 foram por invalidez permanente, ou seja, pessoas que levarão no corpo os prejuízos do trauma vivido no trânsito. Para especialistas, os dados são preocupantes.
O jovem João Pedro Oliveira Pinto viu a morte de perto em 31 de janeiro, dia em que completava 18 anos. Enquanto andava de bicicleta, colidiu com um veículo em um cruzamento do bairro Jonas Veiga, na zona Leste de BH. Ele teve um deslocamento de clavícula, causando o rompimento de um tendão e um corte profundo no pescoço.
“Cheguei ao hospital quase morto. Precisei receber três bolsas de sangue. Foram 11 dias internado no HPS (Hospital de Pronto-Socorro) João XXIII, oito deles na UTI. Passei por três cirurgias e, hoje, faço fisioterapia e terapia ocupacional, porque perdi o movimento do braço esquerdo”, relata. O rapaz é atendido no Centro de Reabilitação (Creab), da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA).
Para voltar a pedalar, a espera não será curta. A expectativa dos profissionais que o acompanham é que ele leve, no mínimo, sete meses para começar a mexer o braço novamente. Uma recuperação completa, se vier, demandará pelo menos dois anos de tratamento. “Morri e renasci”, reflete João Pedro.
Alarmante
Superintendente de operações da Seguradora Líder, responsável pelo gerenciamento do Dpvat, Arthur Fróes destaca que os números registrados em Minas são “alarmantes”. “É uma quantidade grande de pessoas que vão levar essa debilidade para a vida, gerando incapacidades que podem ser laborais e ainda trazendo consequências também para o Estado, já que precisarão de mais amparo”, analisa.
Fragilidade
As características físicas comuns à primeira infância também contribuem para aumentar a gravidade dos acidentes. Quem explica é a gerente executiva da ONG Criança Segura, Vania Schoemberner.
Ela afirma que a fragilidade do corpo fica ainda mais evidente no trânsito. “No caso de um atropelamento, o carro atingiria a cintura de um adulto, mas, numa criança, acerta a cabeça ou o abdômen, o que é muito mais grave”.
Com Hoje em Dia