Sem conseguirem ainda uma linha de crédito do governo federal, microempresários têm visto os faturamentos despencarem e o capital de giro ser estrangulado. Essa parcela de empreendedores aguarda um auxílio que, segundo o Ministério da Economia informou à reportagem, está em desenvolvimento.
O cenário é pior ainda para aqueles que abriram recentemente os seus negócios. Por regra, só pode contrair empréstimo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), quem tem pelo menos seis meses de faturamento.
O chefe de cozinha e empresário, Alexandre Santiago, 29, abriu há pouco mais de dois meses um bistrô na região Nordeste de Belo Horizonte. Com o isolamento social e a determinação de fechar as portas, Santiago viu o estabelecimento levar um balde de água fria. “Esse isolamento foi um balde de água fria sim, o negócio ia muito bem, foi muito bem aceito pela comunidade logo de início. Foi um sucesso a abertura do meu restaurante e ter que parar assim do nada foi triste. Eu demiti todos os meus funcionários, sem exceção, hoje eu mexo com a rede social do restaurante, eu pego os pedidos, eu faço as compras, cozinho e geralmente eu entrego. Quando é um dia mais movimentado, como sexta e sábado eu contrato um motoboy como freelancer pra ele entregar pra mim”, disse.
Com um faturamento 95% menor do que no início, Santiago não tem acesso ao BNDES e disse não pretender buscar algum auxílio governamental no momento. “Por não saber exatamente se podem me ajudar, dado que a empresa é muito nova”, avaliou.
Atrasar o pagamento de contas como de água e energia foi uma das soluções adotadas pelo chefe de cozinha, que teve o pagamento do aluguel postergado pelo dono do imóvel. “Eu conversei com o proprietário do imóvel e pedi para passar o aluguel pra frente porque realmente não conseguiria pagar e também estou atrasando contas. Isso tudo pra ver o negócio não ruir. Ele disse que enquanto houver a situação compreende perfeitamente. Ele não tem problema, mas se trata de um senhor que não precisa do aluguel para sobreviver, já tem outras fontes de renda”, contou.
Situação parecida vive a empresária Pâmera Mattos, 35, que abriu uma padaria logo após o Natal do ano passado, no bairro Gutierrez, região Centro-Sul da capital. Ao vender metade do que vendia anteriormente, Pâmera viu as portas fechadas ao procurar auxílio financeiro para manter o empreendimento. “Eu consultei o BNDES por meio de um dos bancos parceiros e tive a informação de que não tenho acesso aos benefícios oferecidos por eles. Eu precisaria ter no mínimo seis meses de faturamento e eu só tenho três. Em âmbito municipal, eu tive conhecimento que eu também não teria acesso aos benefícios porque só tem acesso à prorrogação do pagamento de impostos aqueles empresários que não puderam continuar com os seus negócios abertos. Então resultado disso é que meu capital de giro acabou no primeiro mês e no próximo eu terei que pedir um novo empréstimo para poder principalmente pagar a folha de pagamento que para a gente é prioridade e, a posteriori, pagar as outras despesas”, afirmou.
A padaria de Pâmera, que antes funcionava também como lanchonete e tinha espaço para consumo no local, teve que mudar a forma de atendimento. “Tivemos que aumentar também os cuidados com saúde e higiene acrescentando as medidas por causa do vírus, mudamos também a nossa forma de trabalho com os funcionários. Então tudo teve um impacto muito grande para os nossos custos. Estamos muito preocupados porque isso diminuiu muito o nosso faturamento. Tanto no aumento dos custos, como a diminuição do nosso faturamento, das nossas vendas”, contou.
A empresária aderiu ao sistema de delivery no entorno do comércio e tem feito algumas entregas sem custo para idosos.
Procurado pela reportagem, o Banco Central disse não ter ainda um auxílio para os microempresários. Já o Ministério da Economia informou, por meio da assessoria, que a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec) está desenvolvendo uma linha de crédito só para as microempresas, que são aquelas com faturamento até R$ 360 mil por ano. “Depois das medidas com foco na manutenção dos empregos (MP Trabalhista e crédito para folha de pagamento), nosso foco é em capital de giro para os microempresários, que são a maioria das empresas no país, além do aumento de concessões de garantia. Nos próximos três meses, por exemplo, o Sebrae vai destinar pelo menos 50% da sua arrecadação, para ampliar o crédito aos pequenos negócios por meio do Fundo de Aval para as micro e pequenas empresas (Fampe), para complementar garantias nas operações de crédito junto às instituições financeiras conveniadas”, disse a pasta.
A data, entretanto, não foi anunciada pelo Ministério da Economia. Já a Caixa Econômica Federal não respondeu aos questionamentos feitos para a categoria.
Com O Tempo