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Elemento necessário no combate ao coronavírus: Ciência mostra a eficácia por trás das máscaras contra a doença

Um acessório que se tornou de uma hora para outra de uso mundial mobiliza estudos de cientistas de diferentes países e é motivo, simultaneamente, de proteção e alerta. Ao mesmo tempo em que a comunidade científica em todo o planeta persegue a imunização e medicamentos eficazes no combate à COVID-19, estudos tentam quantificar a eficiência das máscaras de tecido, por ora a mais barata e acessível barreira contra o novo coronavírus.

Foto: Paulinho MirandaFoto: Paulinho Miranda

A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar que governos incentivem o uso da proteção, mas especialistas alertam: máscara não é vacina nem elimina a necessidade do distanciamento social. E precisa ser usada corretamente, associada a medidas de higiene.

Ontem o presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos a lei que torna obrigatório o uso de máscaras em espaços públicos e privados no país. Um dos vetos exclui a obrigatoriedade em estabelecimentos comerciais e industriais, templos religiosos, estabelecimentos de ensino e demais locais fechados em que haja reunião de pessoas. Mas municípios e estados podem definir obrigatoriedade nesses locais, independentemente da lei federal.

A microbiologista Viviane Alves, professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, informa que ainda não existem dados concretos sobre a eficiência dos diferentes tipos de máscaras. Isso porque são muitos os modelos e tecidos diferentes. Com isso, muitos grupos avaliam a eficácia do item utilizando partículas com tamanho equivalente ao do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Estudo publicado em 26 de maio na revista científica ACS Nano é considerado o mais eficiente no quesito tecidos. “Eles testam de algodão de camiseta de malha a chiffon. Avaliam e indicam que quanto mais camadas e mais fechada essa malha do tecido, melhor”, explica a especialista da UFMG. “Para ter respirabilidade, não pode ser algo impermeável. Então, é preciso levar em consideração vários aspectos”, completa.

A recomendação da OMS para uso de máscara foi publicada no último dia 5 – o que pode ser considerado um atraso na tomada de decisão. Para a microbiologista da UFMG, a demora ocorreu porque estudos que fazem análise científica do acessório mostram que ele é muito mais eficaz ao ser utilizado por uma pessoa doente do que saudável. Contudo, em um momento em que todos estão sob risco constante, é importante o uso generalizado. “A recomendação da OMS mudou, mas ela leva em consideração que o uso isolado da máscara não protege ninguém. Isso é um fato científico. Tem que ser associado à higiene das mãos e ao distanciamento. Principalmente o distanciamento físico”, enfatiza a professora. 

A publicação que fundamentou a recomendação da OMS foi divulgada no último dia 1º na revista científica The Lancet. A pesquisa identificou 172 estudos em 16 países e seis continentes. Para os profissionais de saúde, os dados mostram que as máscaras do modelo N95 são melhores para a proteção do que as cirúrgicas. Para o público em geral, as evidências mostram que o distanciamento físico superior a 1 metro é altamente eficaz e que as máscaras faciais, cirúrgicas ou de algodão de múltiplas camadas melhoram a proteção.

Qual é o modelo mais adequado?

A máscara de três camadas é o modelo recomendado, com base em evidências científicas, não apenas no combate à COVID-19, mas também a viroses como a gripe e doenças bacterianas. A diretriz da OMS recomenda o utensílio com a camada interna absorvente, para reter a umidade da fala; a camada intermediária filtrante; e a externa um pouco menos permeável, para agir como barreira.

“Obviamente, vários estudos já mostraram que qualquer máscara é melhor que nenhuma. Desde lenço de pano até máscaras mais elaboradas, como a máscara comercial N95, todas são eficazes em alguma extensão”, esclarece a especialista. “Obviamente, quanto menor o número de camadas, menor a eficiência”, acrescenta Viviane Alves. A microbiologista defende que o ideal é que a máscara tenha pelo menos duas camadas de algodão de um tecido de malha “bem fechada”.

Apesar de as máscaras N95 e cirúrgica – que parece fina em comparação às máscaras de pano que têm sido comercializadas – serem mais eficazes, especialistas defendem que o comércio desses itens seja reservado aos profissionais de saúde. “As máscaras cirúrgicas parecem frágeis, mas não são simplesmente um pedaço de tecido: têm um polímero que ajuda nessa capacidade de filtração. Nada ainda supera a proteção de uma máscara cirúrgica e de uma N95”, explica a professora da UFMG.

Como usar?

“É importante que as pessoas entendam que a máscara dá uma sensação de segurança, mas não adianta aglomerar de máscara. Tem que manter distância, cuidar da higiene das mãos, trocar a máscara, higienizar”, reforça a microbiologista, lembrando ainda dos cuidados com a limpeza. Segundo a especialista, deixar a máscara de molho na água com sabão por 15 minutos, depois esfregar, enxaguar e deixar secar é o suficiente para eliminar micro-organismos. “Muitos infectologistas recomendam deixar de molho em água sanitária, mas nenhum vírus vai resistir a essa lavagem com sabão. Há exagero em determinadas considerações e a gente tem que usar o bom senso”, afirma.

A especialista ressalta que, independentemente do modelo da máscara, é preciso que o acessório esteja bem ajustado ao rosto. Estudos também mostram que, caso tenha qualquer tipo de folga entre a máscara e a face, perde-se a eficácia em aproximadamente 60% – mesmo que seja do tipo cirúrgico. “Tem que estar bem ajustada, para que não haja vazamento na vedação. Se houver falha, é como se você não estivesse usando máscara”.

Respire com segurança

- Certifique-se de produzir ou comprar um modelo que permita respirar enquanto fala e caminha rapidamente

- Lembre-se, o uso de máscara de tecido por si só não garante nível adequado de proteção. Mantenha distância física mínima de pelo menos um metro de outras pessoas e limpe frequentemente as mãos

- A OMS orienta que recomendações de autoridades locais sempre sejam consultadas sobre práticas indicadas em cada região
As várias faces da proteção

Confira os resultados de alguns dos principais estudos internacionais sobre a eficiência de diferentes modelos e materiais

31 de março
Tema: Utilidades potenciais do uso de máscara e higiene instantânea das mãos no combate à SARS-CoV-2 (Publicado na revista J. Med Virol)

O que concluiu: Mostrou que máscaras N95, médicas e caseiras feitas de papel de toalha de quatro camadas e tecido de uma camada poderiam bloquear 99,98%, 97,14% e 95,15% dos vírus em aerossóis.

5 de maio
Tema: Redução da transmissão secundária de SARS-CoV-2 em residências por uso de máscara facial, desinfecção e distanciamento social: um estudo de coorte em Pequim, China (Publicado na revista BMJ Global Health)

O que concluiu: Em grupos familiares (335 pessoas em 124 famílias e com pelo menos um caso COVID-19 confirmado por laboratório) o uso de máscara facial pelo paciente primário e pelos contatos familiares antes de o caso primário desenvolver sintomas foi 79% eficaz na redução da transmissão. O uso diário de desinfetante à base de cloro ou etanol nas residências foi 77% eficaz.

18 de maio
Tema: Máscara médica versus máscara de algodão para impedir a transmissão de gotículas respiratórias em microambientes (Publicado na revista Sci Total Environ)

O que concluiu: O objetivo foi investigar se a máscara de algodão usada por uma pessoa com infecção respiratória poderia conter as gotículas respiratórias quando comparadas às máscaras cirúrgicas. Voluntários adultos com gripe confirmada e casos suspeitos da COVID-9 usaram máscaras médicas e máscaras de algodão de camada tripla em um quarto e em um carro com ar condicionado. Não houve diferença significativa na contenção de gotículas ao tossir ou espirrar entre os modelos estudados. Autores concluíram que a máscara de algodão poderia ser um substituto para a máscara cirúrgica em pessoas infectadas e que a população pode usar diariamente a máscara de algodão, desde que a higiene seja feita para reutilização.

26 de maio
Tema: Eficiência de filtragem de aerossóis de tecidos comuns usados em máscaras de tecido respiratório (Publicado na revista ACS Nano)

O que concluiu: Estudo avaliou a combinação de diferentes tecidos para máscaras caseiras. Verificou-se que uma única camada apresenta variações de eficácia de 5% a 95% e que as eficiências melhoram quando várias camadas dos tecidos são usadas e ao usar combinações de tecidos diferentes. A eficiência de filtração de máscaras com camadas algodão-seda, algodão-chiffon, algodão-flanela, foi maior que 80%. O algodão em melhor desempenho tem malhas mais fechadas, sendo o mais eficiente aquele que possui 60 fios. Também verificaram que espaços entre as máscaras de tecido e o rosto podem reduzir em até 60% a eficácia de filtração.

30 de maio
Tema: A partição da máscara cirúrgica reduz o risco de transmissão sem contato em um modelo de hamster para a doença de coronavírus 2019 (COVID-19) (Publicado na revista Clin Infect Dis)

O que concluiu: O estudo confirmou a transmissão do vírus por gotículas respiratórias entre hamsters infectados com SARS-CoV-2 e hamsters não infectados. E verificou que o uso de filtros baseados em máscara cirúrgica (entre as gaiolas), reduz o risco de transmissão em até 75% quando usadas pelo indivíduo saudável e 85% quando usadas pelo indivíduo infectado.

1º de junho
Tema: Distanciamento físico, máscaras faciais e proteção ocular para impedir a transmissão de pessoa a pessoa de SARS-CoV-2 e COVID-19: uma revisão sistemática e meta-análise (Publicado na revista The Lancet)

O que concluiu: Estudo que embasou a recomendação de uso de máscaras pela população em geral pela OMS. A pesquisa identificou 172 estudos em 16 países e seis continentes, sem ensaios clínicos randomizados e 44 estudos comparativos relevantes em contextos de assistência à saúde e de não-assistência à saúde (totalizando 25.697 pacientes). Para os profissionais de saúde, os dados mostram que as máscaras N95 são melhores para a proteção do que as cirúrgicas. Para o público em geral, as evidências mostram que o distanciamento físico superior a 1 metro é altamente eficaz e que as máscaras faciais, cirúrgica ou de algodão de múltiplas camadas, melhoram a proteção.

2 de junho
Tema: Uso de máscara não tradicional para a COVID-19- Como vários materiais se comparam na redução do risco de infecção para usuários de máscara? (Publicado na revista J Hosp Infect)

O que concluiu: Usou modelagem probabilística para estimar os riscos de infecção após 30 segundos ou 20 minutos de exposição ao vírus, segundo o tipo de máscara. O risco de infecção cai de 24% a 44% na exposição de 30 segundos, e de 94% a 99% na exposição por 20 minutos, dependendo da máscara. Modelos N95 reduziram o risco de infecção em 99%, máscaras não tradicionais reduziram o risco em até 83%. Dos materiais testados (saco de pano de aspirador, algodão, fronha), o que teve menor eficácia foi o lenço de pano, que reduziu o risco em 44%. Concluíram que, embora as máscaras N95 (e respiradores similares) sejam recomendadas para profissionais de saúde, materiais alternativos podem ser úteis quando houver escassez de equipamentos de proteção individual.

Tema: Seleção de materiais domésticos para revestimentos faciais de pano caseiros e melhoria da eficiência de filtragem com carregamento triboelétrico (Publicado na revista Nano Letters)

O que concluiu: Estudo mostra que estruturas multicamadas de algodão, poliéster e polipropileno podem atender ou até exceder a eficiência dos materiais usados em algumas máscaras faciais médicas. Reitera que as essas eficiências de filtragem são aplicáveis apenas se não houver vazamento nas vedações, pois se as máscaras estiverem frouxas, tanto caseiras quanto médicas, não garantem a proteção. Autores dizem que o público em geral deve estar ciente dos riscos de autocontaminação durante a remoção e reutilização de revestimentos de pano.

5 de junho
DIRETRIZ DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS)

AOMS recomenda que os governos incentivem o uso de máscaras de tecidos não-médicos, que podem atuar como uma barreira para impedir a disseminação do vírus do usuário para outros, em locais com muitos casos de COVID-19, e para o público em geral, onde o distanciamento físico de pelo menos 1 metro não for possível, como em transporte público, em lojas ou em outros ambientes confinados ou lotados. Orienta que as máscaras sejam usadas apenas como parte de uma estratégia abrangente, considerando que só o acessório não protege do vírus. As pessoas também devem limpar as mãos com frequência e manter uma distância de pelo menos um metro umas das outras.


Da Redação com EM



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