Segundo a polícia americana, nos últimos anos, tecnologias como o reconhecimento facial tem auxiliado na identificação e na captura de criminosos. Entretanto, em razão do novo coronavírus, o uso de máscara pela população está dificultando o funcionamento dos softwares de inteligência artificial, que não obtêm sucesso na identificação dos indivíduos captados pelas câmeras. Isso vem preocupando autoridades policiais norte-americanas, conforme revela um dos documentos vazados pelo Anonymous no mês de junho, caso que ficou conhecido como “BlueLeaks”.
O documento em questão é um boletim elaborado pelo Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos. Nele, autoridades examinam os possíveis impactos que o amplo uso de máscaras pode causar às operações de segurança, que incorporam sistemas de reconhecimento facial – como câmeras de vídeo e algoritmos de identificação de imagens, por exemplo.
O boletim demonstra preocupação em relação a supostos “extremistas violentos”, que poderiam aproveitar o momento para tirar vantagem e cometer crimes sem que seja possível reconhecê-los. O documento traz à tona o fato de que, mesmo antes da pandemia, alguns grupos já tinham o interesse de cobrir o rosto em ataques e manifestações.
Além disso, a polícia parece temer que este quadro não seja revertido, uma vez que é provável que muitos americanos continuem a usar a máscara mesmo após a pandemia, agora que conhecem sua eficiência na prevenção de algumas doenças respiratórias.
Vale destacar que, desde 1845, o uso em público de máscaras por mais de três pessoas é proibido nos Estados Unidos, exceto em situações especiais, como Halloween e festas à fantasia. Graças ao novo coronavírus, andar com o rosto descoberto se tornou exceção, e, portanto, o futuro da proibição fica incerto.
Hong Kong já tentou proibir máscaras, mas não teve sucesso
O uso de máscaras por manifestantes já dificultou o trabalho da polícia em Hong Kong. Durante os protestos pró-democracia que ocorreram por lá durante 2019, o governo recorreu a uma lei de emergência para proibir que as pessoas cobrissem seus rostos.
Além de ignorar a lei, os manifestantes chegaram a derrubar diversos postes que continham câmeras de reconhecimento facial, alegando que elas comprometiam a liberdade individual. Eles também apontaram lasers contra os sistemas de vigilância para que esses não fossem capazes de reconhecê-los.
Uma das revindicações dos protestos era que Hong Kong se afastasse definitivamente da política de segurança chinesa, que é conhecida por adotar um sistema massivo e complexo de vigilância por meio de câmeras. No país, o governo é capaz de monitorar os cidadãos até mesmo pelo jeito de andar. E, no Brasil, isso está cada vez mais próximo de acontecer.
Da Redação com The Intercept