Notícia mais esperada do ano, o registro da primeira vacina contra a Covid-19 traz esperança e, ao mesmo tempo, dúvidas. Anunciada ontem pela Rússia, ainda não se sabe se a imunização tem, de fato, eficácia no combate ao novo coronavírus, uma vez que os testes em humanos só serão iniciados hoje. Com a aprovação sem essa etapa finalizada e avaliada, a comunidade científica aguarda os resultados das fases anteriores para tirar conclusões.
Enquanto isso, pesquisadores e laboratórios farmacêuticos de todo o mundo correm atrás de uma vacina que ajude a acabar com a pandemia que assola o planeta há cinco meses: hoje são 166 trabalhos. No Brasil, três potenciais candidatas já são aplicadas em cerca de 15 mil pessoas.
Segundo especialistas, a com o andar mais avançado é a da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por aqui, os estudos foram iniciados em 21 de junho. “Se os resultados seguirem positivos pode ser que até o fim do ano seja aprovada para uso emergencial”, destacou a instituição de ensino em nota.
Minas Gerais também está na rota da imunização. Capitaneado pelo Instituto Butantã, vinculado ao governo de São Paulo, o desenvolvimento da Coronavac está na fase 3.
Os primeiros resultados, de acordo com o órgão, devem ser divulgados em 90 dias. Em entrevista à CNN, ontem, o governador paulista, João Doria, disse que, eficácia comprovada, em dezembro já serão produzidas 15 milhões de doses.
Otimismo
As previsões animam os médicos. “Quanto mais opção, melhor”, afirma o infectologista Carlos Starling, membro do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 de Belo Horizonte. “Vamos precisar de vacinas diferentes, para pessoas diferentes e para uma população imensa”.
Mas sobre a imunização russa, o especialista afirma que o momento é de cautela. Ontem, a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que, enquanto não tiver acesso aos resultados das fases 1 e 2 das pesquisas, não vai recomendar às nações a aplicação.
“Em relação ao tipo de vacina, ela é feita semelhante à da Oxford e usa vírus inativado, um adenovírus de macaco como um veículo de marcadores antigênicos da Covid-19. As duas primeiras fases da de Oxford tiveram resultados bons, mas ainda não sabemos os da Rússia”, explicou Carlos Starling.
Um dos questionamentos da própria população é o tempo recorde da “descoberta” de um imunizante contra o novo coronavírus. No início da pandemia, a expectativa era de que isso só ocorresse dentro de pelo menos um ano e meio.
O infectologista, porém, frisa que pesquisas com estratégias de vacinas semelhantes à da universidade do Reino Unido já eram realizadas há cerca de oito anos. “Ninguém faria isso nesse período se já não tivesse estudos anteriores”.
Com Hoje em Dia