As mulheres grávidas, geralmente mais vulneráveis a infecções, integram o grupo de risco da Covid-19, segundo o Ministério da Saúde. Então elas devem ter prioridade no plano nacional de vacinação, certo? Não é bem assim… Para entender melhor, vamos começar respondendo uma questão importante levantada pela leitora Rosiani Moraes: “As gestantes foram incluídas nos testes da vacina?”
A resposta é não. “A regra geral é a de que os primeiros estudos clínicos de todos os tipos de vacina não incluam gestantes”, explica Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Isso porque sempre há uma preocupação especial com a saúde do feto e com a evolução da gravidez.
No entanto, é possível que, durante a pesquisa, mulheres vacinadas descubram uma gestação não planejada. “Nada foi relatado nesse sentido até agora, mas quando a vacina começar a ser usada em larga escala, é muito provável que isso aconteça”, aponta Cunha. Quando isso ocorre, os especialistas seguem monitorando a gravidez, bem como o primeiro ano de vida do bebê. E as informações decorrentes daí servem como um indício inicial para a segurança e a eficácia da vacina em gestantes.
Outro ponto importante é o de que, conforme o tempo passa e mais experimentos são realizados, o conhecimento sobre as reações adversas na população como um todo se torna mais sedimentado. Aí os cientistas se sentem mais seguros para aplicar as doses em gestantes dentro de protocolos específicos de pesquisa. Com um número importante de casos acompanhados, será possível ter certeza sobre a segurança e a eficácia das injeções nas futuras mamães.
O risco para a gestante muda conforme a tecnologia da vacina
Em geral, o tipo de imunizante menos indicado para as grávidas é feito a partir de um vírus atenuado. Isso significa que a dose carrega o agente infeccioso ainda “vivo”, porém muito enfraquecido. Quando o sistema imunológico não está comprometido, ele lida tranquilamente com os componentes dessa vacina para gerar anticorpos. No entanto, as defesas do corpo das gestantes podem ficar um pouco debilitadas. Consequentemente, mesmo um vírus enfraquecido eventualmente poderia disparar a doença (e até ameaçar o feto).
Por outro lado, vacinas com vírus inativados, que contêm agentes infecciosos mortos ou só partículas deles, não trazem essa preocupação. Mas ainda assim podem desencadear problemas como prematuridade e baixo peso do bebê em contextos particulares.
Vale ressaltar que nenhuma das vacinas mais avançadas contra a Covid-19 é feita com vírus atenuado. As tecnologias se baseiam em vírus inativados (como a do Instituto Butantan) ou usam trechos do código genético do coronavírus (como a da Pfizer e a da Moderna).
“Em teoria, isso significa menor risco. Mesmo assim, se não há pesquisa, não dá para garantir segurança”, reforça Cunha.
Gestantes poderão tomar a vacina mesmo sem estudos específicos para elas?
Depende. “Vamos esperar as liberações da Anvisa para ver como sai a bula de cada vacina no Brasil. O posicionamento atual das sociedades médicas é o de que o especialista e a gestante tomem uma decisão compartilhada, avaliando os riscos e benefícios caso a caso”, explica Cecilia Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacina da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Vamos pegar o exemplo hipotético de uma médica grávida que está na linha de frente do combate à pandemia. Pela sua atuação profissional, ela apresenta um risco especialmente alto de contrair o coronavírus. Como gestantes têm maior probabilidade de apresentar complicações dessa doença, talvez valha a pena aplicar a vacina da Covid-19 nessa situação. Já se a mulher e seus familiares próximos estão bem isolados, o benefício seria menor. Esses pontos, claro, devem ser colocado na balança com outros fatores.
E um recado final: grávidas não devem desprezar os imunizantes contra outras doenças. As vacinas aprovadas para gestantes, como a Tríplice Bacteriana (tétano, difteria coqueluche) e a contra gripe, são comprovadamente seguras e importantíssimas para a mulher e o bebê.
Com Veja Saúde