“Chorei sem conseguir me controlar” e “foram inúmeras crises de pânico”, desabafou a apresentadora e ex-BBB Rafa Kalimann neste domingo (5). Após reportagem especial do “Fantástico”, ela falou sobre a pressão dos xingamentos feitos pelos haters nas redes sociais: “não normalizem a maldade escancarada que virou diversão”.
O G1 entrevistou o psiquiatra Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista e médico-voluntário do Ambulatório de Impulsividade do Hospital das Clínicas, para entender, afinal: o que é a crise pânico? A pressão online pode afetar a saúde mental?
1 – O que é a crise de pânico?
2 – Há diferença entre crise de pânico e transtorno de pânico?
3 – Quais os sintomas?
4 – Como tratar?
5 – Sempre tem um gatilho para a crise?
6 – Aumentou a ocorrência das crises de pânico?
1. O que é a crise de pânico?
É um conjunto de sensações físicas e emocionais geradas por uma forte ansiedade. É um alerta do organismo que leva a pensamentos de morte iminente, medo de enlouquecer e de perder o controle. Segundo o psiquiatra, algumas alterações podem ser até difíceis de o paciente conseguir explicar.
“As crises tem um tempo curto e duram de 10 a 20 minutos. É o fim do mundo para quem está sofrendo, porque é uma agonia absurda. Uma crise de pânico é muito desconfortável, qualquer um que vivencia isso não quer viver de novo de jeito nenhum”, explica Bottura.
Segundo o médico, elas podem acontecer em diferentes situações durante a vida: como o gatilho durante uma situação de tensão, de estresse e/ou diante de uma mudança abrupta.
2. Há diferença entre crise de pânico e transtorno de pânico?
Sim. O transtorno do pânico é diagnosticado pelo psiquiatra após o paciente ter diversas crises de pânico em um determinado período de tempo. A interferência na qualidade de vida da pessoa também é avaliada na hora de identificar o problema. O transtorno do pânico está dentro da gama de transtornos de ansiedade.
“O transtorno do pânico é um quadro em que a pessoa tem crises recorrentes. Existem crises de ansiedade aguda, que são as crises de pânico, e existe o que a gente chama de transtorno do pânico, que é quando essas crises se apresentam de uma maneira que podemos classificar quase como se fosse uma ‘doença do pânico'”, explica Bottura.
3. Quais os sintomas?
Uma pessoa em crise de pânico pode apresentar algumas alterações físicas e emocionais. São elas, principalmente:
– Taquicardia
– Falta de ar
– Sudorese
– Mãos geladas
– Sensação de desespero
– Medo iminente de morte
– Medo de perder o controle
4. Como tratar?
Primeiro, existem as terapias que vão trabalhar as causas e ajudar a lidar com o problema. A psicoterapia cognitivo-comportamental, por exemplo, busca a percepção das sensações, das emoções, e os pensamentos a atrelados a elas. Isso ajuda a pessoa a se manter sob controle, além das técnicas de respiração, que evitam que a pessoa seja tomada pelo desespero.
Além disso, os tratamentos farmacológicos, que, segundo Bottura, apresentam ótimos resultados.
“Existem medicamento que ajudam a conter uma crise. Em geral, esses quadros respondem muito bem a tratamentos medicamentosos, em geral com os remédios que são usados para depressão e outros quadros de ansiedade”.
5. Sempre tem um gatilho para a crise?
Pode ter ou pode não ter. Quando já está no nível de um transtorno de pânico, a pessoa passa a ter as crises sem um gatilho necessariamente.
“A pessoa pode ter essa crise em qualquer lugar. Pode ter em um banco, em um supermercado, em uma sala de espera de um consultório”, explica o psiquiatra.
“Quando a pessoa está em uma fase de sobrecarga, tem um nível de tensão muito grande, passa por uma pressão psicológica qualquer, você pode desencadear as crises de ansiedade como as de pânico”.
6. Aumentou a ocorrência das crises de pânico?
Quadros de exacerbação de ansiedade sempre existiram, mas, segundo o psiquiatra, é possível observar que há uma tendência de aumento nos casos, principalmente nas grandes cidades e com os novos “humanos superconectados”.
“A humanidade está em um processo de uma transição de lidar com os estímulos nunca enfrentada antes. Quando que alguém iria se expor a interagir com tantas pessoas como hoje acontece em uma rede social? Antigamente, você tinha mais o bônus da fama. Hoje a fama traz ônus também. E não existe como você estar completamente protegido, porque você vai sempre agradar alguns e desagradar outros.”
“É um desafio muito grande para o organismo humano lidar com isso. Todos nós somos sensíveis às opiniões dos outros, mesmo quando a gente começa a se desenvolver e entender que essas agressões são projeções. Todos nós somos vulneráveis às críticas.”
Com G1