Não existe um limite seguro de álcool no corpo para quem vai dirigir. Qualquer quantidade ingerida, por mínima que seja, diminui os reflexos e afeta as condições normais de direção. Além disso, o álcool diminui o tempo de reação, concentração e percepção.
Não existe um limite de seguro de álcool no corpo para quem vai dirigir — Foto: Giovanna Gomes / Unsplash / Divulgação O tempo de reação é o momento em que você detecta o obstáculo e pressiona o freio do carro. Na pessoa sóbria, esse tempo é de até um segundo. Quando ela está embriagada, pode subir para até dois segundos.
"O cérebro é todo atingido pela onda do nível de álcool, mas tem algumas regiões que são mais sensíveis, como o cerebelo, que é justamente o controle da parte de equilíbrio", explica o neurologista Fernando Morgadinho.
O neurologista também aponta que outra região do cérebro afetada é a frontal, a região da decisão.
"Quando você decide se vai dar para ultrapassar o outro carro ou não, ela é importante. Se você somar uma decisão errada ou mal adequada com uma dificuldade de coordenação, você então tem um acidente com risco para você e para os outros", analisa o especialista.
Como diferentes concentrações de álcool afetam a capacidade de direção?
Os efeitos da concentração de álcool no sangue
Concentração de álcool no sangue (%) Efeitos previsíveis na direção
0,02% Funções visuais diminuem; Redução da capacidade de fazer duas coisas ao mesmo tempo (atenção dividida)
0,05% Coordenação reduzida; capacidade reduzida de rastrear objetos em movimento; resposta reduzida a situações de direção rápida; dificuldade de direção
0,08% Diminuição da concentração; perda de memória de curto prazo; perda do controle da velocidade; redução da capacidade de processar informações (capacidade de ver placas ou sinalizações); diminuição da percepção
0,10% Redução da capacidade de ficar na mesma pista da estrada e parar corretamente
0,15% Incapacidade substancial para controlar o veículo, prestar atenção às funções de direção e processar informação visual e auditiva
Fonte: Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário (NHTSA)
Como a substância age no corpo e qual a diferença para homens e mulheres?
Karina Possa Abrahão, pesquisadora de neurociências da Unifesp que estuda os efeitos do álcool no cérebro, acrescenta que logo quando a substância é ingerida e passa pela mucosa da boca, do esôfago e do estômago, ela já começa a agir nos mais diversos órgãos do corpo e modificar as nossas células.
Mas isso não quer dizer que ele vai causar danos logo de cara.
"Tudo o que a gente come, até mesmo o açúcar vai modificar o nosso corpo", explica a pesquisadora.
Segundo o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, o NIAID, um padrão de intoxicação pesada para o álcool (chamado de padrão binge) é o equivalente a 4 doses ou mais para mulheres e 5 para os homens em duas horas.
Essa diferença, explica a especialista, ocorre porque o álcool fica muito concentrado na gordura do corpo.
"Então é por isso que as mulheres, mesmo bebendo menos, às vezes ficam mais intoxicadas. Porque o corpo da mulher tem mais gordura", ressalta.
E uma dose é o equivalente a uma lata de cerveja ou meia taça de vinho.
"Então, se a pessoa começa a ingerir nessa quantidade e nesse período, [o álcool] altera o cérebro, o comportamento, e se isso for algo recorrente, esse padrão binge pode alterar o cérebro de maneira persistente", alerta Karina.
Ainda de acordo com o NIAID, em adolescentes, esse padrão de consumo é ainda mais preocupante porque pode afetar o desenvolvimento cerebral e causar déficits persistentes nas funções sociais, de atenção, memória e outras funções cognitivas.
De uma forma geral, ao longo do tempo o consumo excessivo contribui para problemas no fígado e outras doenças crônicas, bem como aumenta o risco de vários tipos de câncer, incluindo câncer de cabeça e pescoço, esôfago, fígado, mama e colorretal.
Com g1