Nove corpos foram encontrados em uma embarcação artesanal à deriva no litoral do Pará no último sábado (13). A Polícia Federal (PF) acredita que o barco, sem leme, motor ou sistema de direção, partiu da Mauritânia, na África, com destino às Ilhas Canárias, no arquipélago espanhol, rota migratória comum para entrada no continente europeu. Estima-se que pelo menos 25 pessoas estavam a bordo, e as causas da tragédia ainda estão sendo investigadas.
Indícios apontam para rota migratória conhecida por perigos e mortes. Segundo a PF, documentos e objetos encontrados junto aos corpos indicam que as vítimas eram migrantes da região da Mauritânia e Mali, mas outras nacionalidades não são descartadas. A perícia inicial foi realizada em conjunto com a Polícia Científica do Pará.
Mortes durante travessias migratórias são alarmantes. A Organização Internacional das Migrações no Brasil (OIM) lamentou as mortes e se solidarizou com as famílias. Entre 2014 e 2023, mais de 64 mil pessoas morreram ou desapareceram em rotas migratórias, com afogamentos sendo a principal causa documentada (quase 60%). A OIM defende medidas urgentes como fortalecimento de busca e resgate, facilitação de vias migratórias seguras e regulares, e ações baseadas em evidências para prevenir mortes.
Relatório da OIM revela aumento de mortes na rota do Atlântico. Em 2023, 1.866 mortes de migrantes africanos foram registradas, um aumento em relação às 1.031 de 2022. A rota do Deserto do Saara para o norte da África e a rota do Atlântico para as Ilhas Canárias são as mais utilizadas. O relatório aponta o aumento de migrantes do Senegal e da Mauritânia como um dos fatores para o crescimento no número de mortes na rota do Atlântico (959 em 2023 contra 559 em 2022).
Contexto de origem dos migrantes revela instabilidade e violência. Um em cada três migrantes vem de países em conflito, como o Mali, um dos prováveis países de origem das vítimas no Pará. O Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) também lamentou as mortes e reforçou a necessidade de uma abordagem compartilhada e integrada entre os países, com ações que apoiem pessoas deslocadas por violações de direitos humanos, perseguições, desastres climáticos e violência.
Brasil reconhece situação de violações no Mali e facilita refúgio para populações afetadas. Em julho de 2022, o país reconheceu a grave situação no Mali e Burkina Faso, facilitando o processo de solicitação de refúgio para pessoas desses países. Procedimentos similares também se aplicam a solicitantes do Afeganistão, Iraque, Venezuela e Síria.
Combate ao tráfico de pessoas e apoio aos refugiados são medidas cruciais. O Acnur destaca a necessidade de combater o tráfico de pessoas, que se aproveita da vulnerabilidade dos migrantes, e de fortalecer os sistemas de asilo nos países de destino. A organização reitera a importância de abordar os desafios do deslocamento forçado em todos os níveis para garantir a proteção internacional e a segurança dos refugiados.
A tragédia no litoral paraense serve como um lembrete dos perigos enfrentados por milhares de pessoas que fogem de seus países em busca de uma vida melhor. É urgente que medidas sejam tomadas para garantir a segurança dos migrantes e combater as redes de tráfico que exploram sua vulnerabilidade.
Da redação com Agência Brasil