Contar a história de Sete Lagoas sem falar das lagoas é algo improvável, assim como discorrer sobre o tema sem citar os ciclos econômicos que compõem a evolução da cidade. Essas foram as tônicas da palestra do vereador e historiador Dalton Andrade (PT) no Programa de Educação Ambiental, promovido pela Brennand Cimentos e Fundação de Ensino Profissionalizante de Sete Lagoas, Fumep, no auditório da Biblioteca Pública Dr. Avelar, na segunda-feira, 6.
De 1711 aos dias atuais, isto é, do movimento que era registrado na antiga Fazenda Sete Lagoas, atual Museu Histórico, ao 3º grande ciclo econômico, marcado pela instalação de empresas como a Iveco e Ambev, a cidade passa por profundas mudanças econômicas, sociais, culturais, políticas e geográficas. Algumas delas tão radicais que fazem com que patrimônios como os córregos Matadouro e Melancias fiquem “esquecidos”, localizados abaixo de “grandes avenidas” e “sem nenhuma referência para população”, afirma Dalton Andrade.
Em 1762, Sete Lagoas é elevada à categoria de registro. O quartel da Coroa Portuguesa se instala na Várzea, “bairro onde Sete Lagoas nasceu, com a família Corrêa”, e não na região onde hoje está localizada a Praça Tiradentes. Afinal, ressalta Dalton, se o quartel fosse ali, teria vários pontos de “escoamento das mercadorias” sem a fiscalização e tributação da Coroa, como o Córrego do Diogo, por exemplo. “O registro de Sete Lagoas vem muito tarde, altera o caminho anterior, que passava pelo Rio das Velhas”.
A geografia e o crescimento
Afinal, Sete Lagoas está situada geograficamente em qual aspecto: Minas ou Gerais? Para Dalton Andrade, em nenhuma delas. “Está na passagem de uma para outra”, diz. “Minas se caracteriza por regiões montanhosas, mas sem água. Gerais por ter o oposto e ser, politicamente, caracterizada pelo coronelismo”, acentua.
Já em 1896, Sete Lagoas experimenta o ciclo que “altera o eixo do desenvolvimento e da forma de abastecimento de água da cidade”, com a chegada da Estrada de Ferro Central do Brasil. A cidade tinha “oito mil habitantes e mil deles eram ferroviários”. Uma década depois, a instalação dos galpões da Central provoca “a contratação de 400 trabalhadores de uma só vez”, atesta o vereador, para dar ideia do impacto sócio-econômico sobre a cidade. E, por que não dizer, geográfico, pois da ferrovia nasce o bairro Boa Vista.
Nas décadas de 1950 e 1960, a relação da cidade com os recursos hídricos e a expansão geográfica muda mais uma vez, com a operação das fábricas da Cedro e da Itambé. Em seguida, é a vez da indústria do ferro-gusa, que marca a 2ª grande expansão econômica de Sete Lagoas. “Primeiro, elas se instalaram no bairro Boa Vista. Depois, em 1974, às margens da BR-040”, registra Dalton. Finalmente, neste contexto, a população de Sete Lagoas sofre um inchaço: salta de 68 mil habitantes (1970) para 108 mil em 1980. “Nunca mais vamos crescer tanto como na Era do Gusa. A cidade cresce junto com os bairros”, critica.
Recursos hídricos
A cada momento de expansão econômica, Dalton Andrade cita a alteração dos cursos d’água que, antes, caracterizavam a cidade. Os córregos se perdem em meio à urbanização. As lagoas, mais dos que as 15 oficialmente contabilizadas pela Prefeitura Municipal, pedem mais proteção. Uma delas, a Matadouro, chega a “pegar fogo” em um processo químico que afeta a lagoa que, “antes, era o refúgio da família Paiva”, e enumera outras lagoas que nem “sequer aparecem no mapa”, mas que existem. “O que as lagoas querem é paz”, resume Dalton.
Expansão
A partir de 2000, Sete Lagoas tem seu 3º grande ciclo econômico: Iveco e Ambev. “Não há espaço no colar metropolitano e essas empresas vêm para Sete Lagoas”, analisa Dalton Andrade. Em relação à empresa produtora de bebidas, o vereador demonstra preocupação pois não haveria informação precisa e pública sobre o consumo de água. Com a crescente demanda por água em toda a cidade, Dalton vê com inquietude o projeto de captação de recursos do Rio das Velhas. Os cálculos preveem que dos poços artesianos em atividade, apenas 20% ficarão ativos. Os demais serão reabastecidos com as águas do Velhas. “Isso pode colocar em risco a segurança social da cidade”, finaliza o vereador.
Com informações de Ascom Dalton Andrade