Um caso de suposta negligência médica em um hospital de Sete Lagoas tem gerado grande repercussão. Cláudio Márcio Aparecido Lopes, marido de Ana Flávia de Melo dos Reis, gestante de 28 semanas e portadora de anemia falciforme, denunciou uma série de falhas no atendimento prestado à esposa durante sua internação no Hospital Nossa Senhora das Graças.
Segundo o relato de Lopes, publicado pelo site Plantão Regional, a paciente deu entrada na unidade hospitalar com fortes dores, mas enfrentou dificuldades desde o momento da triagem, com falta de macas e cadeiras de rodas. A situação se agravou dentro da maternidade, onde a equipe médica teria demorado a atender Ana Flávia, mesmo com seu quadro clínico sendo considerado grave.
Entre as diversas denúncias, o marido da paciente cita a falta de recursos, a demora no atendimento, a postura grosseira de alguns profissionais e a interrupção de tratamentos essenciais. A situação se tornou ainda mais crítica quando a paciente desenvolveu a síndrome de HELLP, uma complicação grave da gravidez, e o hospital não dispunha da estrutura necessária para o seu tratamento adequado.
Hospital se defende
Em nota, o Hospital Nossa Senhora das Graças negou as acusações, afirmando que todos os protocolos de atendimento foram seguidos. A instituição alegou que a paciente foi acolhida e recebeu atendimento conforme o fluxo do acolhimento com classificação de risco.
- confira na integra:
Nota à Imprensa
Em relação à manifestação da paciente A.P.M.R, esclarecemos que todos os protocolos de atendimento foram seguidos pela equipe da maternidade. A paciente foi acolhida pela enfermagem, que aferiu os sinais vitais e iniciou os procedimentos de assistência mesmo antes da abertura da ficha de atendimento, conforme o fluxo do acolhimento com classificação de risco. A médica plantonista foi informada e atendeu a paciente logo após concluir outro atendimento em andamento.
A paciente recebeu acompanhamento contínuo, incluindo administração de medicação para dor e realização de acesso venoso periférico conforme prescrição médica. Em relação à solicitação de ambulância, não houve indicação de transporte com UTI, considerando o quadro estável da paciente. O uso de bomba de infusão durante a transferência seria disponibilizado caso necessário, conforme rotina da instituição.
Reforçamos nosso compromisso com a segurança e o bem-estar de nossos pacientes, atuando sempre em conformidade com os protocolos e respaldos legais.
Continuamos à disposição da paciente e da família para quaisquer outros esclarecimentos.
A direção HNSG
A carta do marido na integra:
Senhores, boa noite.
Por meio deste, venho formalizar o relato acerca dos acontecimentos envolvendo minha esposa/paciente, Ana Flávia de Melo dos Reis, 36 anos, gestante de 28 semanas e portadora de anemia falciforme, durante sua internação no Hospital Nossa Senhora das Graças.
Na ocasião, minha esposa deu entrada na unidade hospitalar apresentando fortes dores, e desde o início enfrentamos uma conduta incompatível com os princípios básicos de dignidade e humanização no atendimento. Ao solicitar auxílio às enfermeiras da triagem para retirar minha esposa do veículo, fui informado de que não havia maca ou cadeira de rodas disponíveis. Mesmo diante da gravidade evidente de seu estado, as enfermeiras alegaram que não poderiam conduzi-la à maternidade sem o preenchimento da ficha médica. Apenas após insistência e minha intervenção, uma das enfermeiras conduziu minha esposa em uma cadeira de rodas até o setor apropriado.
Na maternidade, a situação não foi diferente. Fomos recebidos com desrespeito por parte de uma técnica de enfermagem que, de forma insensível, informou que minha esposa só seria atendida após o término do registro no sistema, negligenciando o quadro crítico que ela apresentava. Ressalto que minha esposa possui três planos de saúde ativos (IPSM, Unimed e SUS), demonstrando que cumprimos rigorosamente com nossas obrigações fiscais.
Após a chegada da equipe médica, a doutora responsável iniciou os procedimentos na sala de pré-parto, incluindo um ultrassom para avaliar o bebê. Contudo, fomos surpreendidos pela intervenção grosseira de um médico identificado como Dr. Gilton, que, de maneira desrespeitosa, apressou a doutora com a seguinte afirmação: “Você vai demorar aí? Estou com quatro cesáreas para fazer, não posso esperar.” Tal postura demonstrou total insensibilidade e descaso diante de uma situação que demandava atenção e cuidado.
Outros episódios reforçam a inadequação do atendimento prestado. A médica Drª Cíntia precisou chamar a atenção de uma enfermeira para que aplicasse o soro em minha esposa, e, no momento das refeições, a comida servida apresentava odor de azedo, como também relatado por outra paciente que dividia o mesmo quarto.
Na sexta-feira, 15/11/2024, minha esposa apresentou uma breve melhora e foi transferida para a enfermaria. Contudo, no sábado, seu quadro clínico agravou-se, e a médica Drª Ana Luiza diagnosticou minha esposa com síndrome de HELLP, alertando-nos sobre a gravidade da situação e a ausência de vagas no CTI. Após troca de plantão, duas médicas repetiram os exames e, mais tarde, uma das profissionais consultou a hematologista Drª Tatiane, que acompanha minha esposa há 30 anos, confirmando que o hospital não dispunha de estrutura para o caso.
Dessa forma, uma remoção foi organizada utilizando os planos IPSM e Unimed, com maior eficiência por parte da Unimed, que garantiu vagas no CTI tanto para minha esposa quanto para o bebê. No entanto, mesmo reconhecendo a gravidade da situação e a necessidade de transporte adequado, a médica de plantão contraditoriamente acionou uma ambulância básica, sem suporte avançado e sem equipe especializada, expondo ambas as pacientes a riscos desnecessários.
O agravante foi a interrupção abrupta da infusão de sulfato de magnésio, realizada sob o pretexto de que a bomba de infusão era de propriedade do hospital, o que, segundo os médicos da Maternidade Unimed, colocou a vida de minha esposa e do bebê em perigo.
Ademais, enfrentei uma acusação infundada por parte de um porteiro, que me acusou de invadir o hospital durante a troca de acompanhantes, ainda que a troca tivesse sido previamente autorizada pela enfermeira Luiza. A Polícia Militar foi acionada, e um registro formal foi realizado.
Ao chegar à Maternidade Unimed, a internação foi atrasada devido à negligência do Hospital Nossa Senhora das Graças, que não havia dado baixa no sistema, causando uma demora desnecessária e colocando novamente em risco a vida de minha esposa e do bebê.
Diante dos fatos relatados, solicito:
1. A identificação da médica responsável por solicitar a ambulância básica e da profissional que negou o envio da bomba de sulfato de magnésio;
2. Providências administrativas e éticas quanto à conduta dos profissionais de saúde envolvidos, de forma a prevenir que outras famílias enfrentem tamanha negligência e desrespeito.
Aguardo um retorno célere e medidas efetivas quanto às irregularidades relatadas.
Atenciosamente,
Cláudio Márcio Aparecido Lopes