Um gênio do humor, filho de Sete Lagoas, e uma saudade que completou 35 anos nessa terça-feira (18), aniversário de partida de Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias. Aquele, que como um bom mineirinho, conquistou o Brasil com seu tipo ingênuo e até infantil porém cativante.

Nascido em 18 de janeiro de 1934 sendo filho e neto de vendedores, Zacarias seguiu o início de sua história comercializando sapatos e trabalhando juntamente com seu pai. Logo, começou a atuar como locutor na Rádio Cultura de Sete Lagoas, além de fazer pontas em peças de teatro.
Aos 23 anos, Zacarias rumou para Belo Horizonte para estudar arquitetura, mas a verve artística falou mais alto: após cursar um ano a faculdade, ingressou na Rádio Inconfidência em programas de humor e novelas, e mais tarde entrou para TV Itacolomi enquanto mantinha a carreira de bancário. Seu talento chamou a atenção de Manuel da Nóbrega, criador da “Praça da Alegria”, formato hoje consagrado no humor televisivo brasileiro. Em 1963, Zacarias foi para o Rio de Janeiro após o convite e de lá fez carreira em diversos programas na radiodifusão.
De onde surgiu então Zacarias? Mauro Faccio trouxe o personagem pela primeira vez no programa “Café sem Concerto”, da TV Tupi, inspirado em um folclórico vendedor de frutas daqui de Sete Lagoas, de acordo com entrevista para o jornal O Globo, em 1987; em outra versão, a história do apelido veio quando o ator tinha um galo de estimação com este nome e acabou recebendo também a alcunha.
O personagem chamou a atenção de Renato Aragão, que estava na época na TV Excelsior, com o “Adoráveis Trapalhões”. O setelagoano foi incorporado ao grupo no ano de 1974, já na TV Tupi, com o grupo tendo a sua formação consagrada: Didi, Manfried Santana (Dedé), Antônio Carlos Bernardes (Mussum) e Zacarias. O estrelato nacional se deu três anos após, na TV Globo, aos domingos.
“Eu, Didi, Dedé e Mussum somos todos crianças. Tudo o que conseguimos devemos às crianças e, para elas, pedimos respeito e muito carinho”
Para além do personagem, Mauro Faccio atuou em três filmes com temática adulta: ‘Tô na Tua, Ô Bicho’ (1971), de Raul Araújo, ‘O Fraco do Sexo Forte’ (1973), de Osíris Parcifal de Figueroa, e ‘Deu a Louca na Mulheres’ (1977), de Roberto Machado. Como Zacarias, foram mais de 20 filmes, entre 1978 a 1990.
Morte
Em 1989, o ator buscava emagrecer e iniciou uma dieta sem acompanhamento médico, perdendo 20kg – o artista, no entanto, começou a apresentar sintomas de fraqueza e estresse. Em janeiro do ano seguinte, ele foi internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro. Oito dias após, ele falece em por uma infecção pulmonar.
A notícia cai como uma bomba sob todo o país, e com mais potência em Sete Lagoas. O relato de O Globo conta que cerca de 30 mil pessoas participaram do cortejo fúnebre na cidade. Segundo o jornal, várias escolas da cidade liberaram os alunos para o enterro; os outros três trapalhões estiveram presentes e uma fila enorme se formou para não só receberem os pêsames, mas acabaram sendo tietados. “O preço do palhaço é não poder ficar triste. Ninguém entende”, disse Musum.

Memorial
Desde 2020 Sete Lagoas possui, dentro do Casarão Nhô Quin Drummond, o memorial onde se pode ver o acervo composto por fotos, revistas, matérias de jornais, discos, placas comemorativas e roupas utilizadas pelo artista. Além disso, o local conta com uma segunda sala dedicada a exibir figurinos, perucas e caricaturas – com destaque a exposição de bustos de Zacarias, cada um com uma peruca diferente, representando momentos marcantes de sua carreira.
A visitação ao espaço é gratuita e está aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, e também aos sábados e domingos, no mesmo horário.
Na Rua Lassance Cunha, do ponto onde fica o Museu do Ferroviário, é possível ver o grande mural feito na empena do prédio onde morou Mauro Faccio (e ainda reside parte da família). Feita pelo artista plástico Drin Cortes, ela foi realizada durante o Festival Nacional de Arte de Rua (Fenar) em 2023 e buscou resgatar momentos marcantes da carreira de sua carreira: com os clássicos “Papai, eu quero me casar” e “Os Saltimbancos Trapalhões” (1981), além de um vídeo que retrata a relação do ator com sua cachorrinha, Jandira.
