Já viu fila em fazenda para comprar carne? Em São Paulo isso acontece na fazenda Yakult. Aqui em Minas Gerais, por enquanto, não. Mas é bem provável ter um quadro parecido quando as fazendas Alegria, Cachoeira e do Lago (com mil cabeças no total) começarem o abate, dentro de dois meses, de parte do rebanho wagyu, raça milenar japonesa que produz a famosa e cara kobe beef. A peça de 25 kg de contrafilé, a parte mais valorizada custa cerca de R$ 7.000, dependendo do grau de marmoreio, gordura entremeada na carne, em uma escala que vai de 1,5 a 12. Um bife de 300 gramas pode custar R$ 300 em alguns restaurantes. “É uma carne especial, com poucos animais, o preço é alto”, explica Evando Neiva, um dos fundadores do Pitágoras e dono da fazenda Alegria, em Sete Lagoas.
E quem quer iniciar uma produção tem que ter no mínimo R$ 2 milhões para começar com um plantel com 200 cabeças, fora a terra e a infraestrutura necessárias. Um bezerro de nove meses está custando R$ 9.000 e cada cabeça pronta para abate vale R$ 12 mil. “Temos de cinco a seis animais para abater por mês. Neste ano, serão abatidos em torno de 30 animais”, conta o criador e empresário Ellos Nolli, proprietário da fazenda Cachoeira, em Caeté. Ele e Neiva expuseram os animais na 55ª Exposição Estadual Agropecuária, no parque da Gameleira, em Belo Horizonte.
Aliás, a inspiração do negócio partiu de Nolli, há cerca de três anos, quando experimentou a carne pela primeira vez nos Estados Unidos. “O grande diferencial é o sabor, que é oriundo da marmorização, e qualidade diferenciada”, explica Nolli. O marmoreio (gordura) na criação das fazendas mineiras é de grau cinco para seis, o que, segundo Neiva, é excelente. Em alguns casos, a carne não precisa nem de faca para cortar. “Acima do grau seis não tem mercado aqui no Brasil”, explica Neiva, que tem ainda gado mestiço de girolando com wagyu. Nesse caso, o grau de marmoreio da carne é de dois para três. “Isso dá qualidade maior à carne e agrega preço”.
Mercado. Se a situação no país afeta o negócio, Neiva responde que não é porque o consumidor é formado por um público que não fica arrochado com as contas. “Esse produto é dez vezes o preço de uma carne normal, é uma iguaria”, define.
História
Raça. O wagyu foi trazido para o Brasil em 1992 e é encontrado em sete Estados. No Japão existe desde a época dos samurais, usado para tração no cultivo de arroz. Os primeiros bovinos foram criados na região de Shikoku.
Com O Tempo