Em Sete Lagoas muitas residências possuem poços artesianos e o consumo desta água sem as devidas precauções e higienização pode causar graves prejuízos à saúde. Pensando nisso, professor e alunos da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) criaram o programa de extensão “Poço Limpo Sete Lagoas” em 2014.
O Programa procura divulgar a maneira adequada de utilização da água retirada dos poços existentes nas residências. Primeiramente os alunos fazem um mapeamento das casas que possuem poços ativos, de onde é retirada água para o consumo direto da família, e aplicam um questionário. Depois voltam e recolhem amostras para análises de qualidade microbiológica. O objetivo maior é repassar informações às famílias por meio de conversas e de uma cartilha com as instruções e analisar a qualidade da água consumida.
Moradora do Bairro Belo Vale 1, Neusa Pereira, recebeu a visita dos extensionistas e relatou que já possui o poço há mais de 15 anos. “Meu marido fez aqui em casa porque antes a gente vivia com problemas de saúde, muita diarréia e não aguentava mais comprar água mineral. Agora ninguém mais tem nenhum problema aqui.” A filha da Neusa, Fabrícia Souza, enfatizou que além da economia o grande benefício está no gosto. “É muito diferente, muito melhor”.
Para avaliar se as ações estão trazendo resultados positivos, outras amostras continuam sendo coletadas por um período. O orientado do programa, professor Juliano de Carvalho Cury, pontuou que eles também procuram dar orientações nas escolas dos bairros atendidos para que os alunos possam replicar as informações em suas casas.
“Com esta intervenção buscamos transformar a realidade das pessoas que utilizam a água de poço para consumo direto para que estas possam dispor de recursos e informações que as permitam evitar o adoecimento devido o consumo de água contaminada”, informou.
Dificuldades– Os alunos que fazem as visitas relatam que uma das maiores dificuldades da ação está no momento de abordagem dos moradores. “Eles pensam que somos da fiscalização e que vamos cobrar uma taxa pelo uso da água”, relataram.
Um ponto muito enfatizado pelos moradores, de acordo com os extensionistas, é a baixa qualidade do serviço de tratamento de água da cidade. “Tem casa que a água chega a sair preta na torneira. É um problema usar a água do poço sem tratamento e análise ainda mais em lugares com solo contaminado, mas muitas vezes a pessoa não tem outra solução” relataram.
A extensionista Ana Paula Valadares lembrou que nas visitas em bairros onde a condição financeira dos moradores é baixa as cisternas são muito precárias, mas a qualidade da água do SAAE também deixa a desejar. “Sem falar que eles convivem com esgoto a céu aberto, não tem tratamento. Um morador nos mostrou uma nascente no quintal da casa dele e foi triste ver que o esgoto estava sendo lançado ali por uma falha do encanamento.”
O estudante Julimar Rodrigues Júnior participa do programa e lembra que muitas vezes os moradores pensam que pelo fato da água estar cristalina e sem odor ela pode ser consumida tranquilamente. Ele também relatou que em uma das casas visitadas o morador criava peixes no poço e bebia a água sem nenhum tratamento. “O maior problema é tentar convencer a pessoa de que aquilo que ela está fazendo é errado”, relatou.
O início do programa– A proposta nasceu de outro projeto de extensão que recebeu o prêmio de Destaque na edição de 2014 da Semana de Extensão Universitária (SEMEX). Coordenado pelo professor da UFSJ, Juliano de Carvalho Cury, e tendo como bolsista a aluna de graduação da Engenharia Agronômica, Thaíse Fernandes de Souza, que localizou e acompanhou a retirada e utilização da água de alguns poços rasos em Sete Lagoas.
A aluna relatou que antes de entrar no projeto muitos de seus familiares consumiam água de poço e que também resolveu experimentar para economizar com água mineral. Mas o resultado da economia não foi nada bom. “Quando troquei o galão de água mineral da minha casa pelo proveniente do poço artesiano, eu e meu pai passamos mal e atribuímos a possível causa à água.”
Pensando na realidade de muitas pessoas da cidade que fazem uso dessa água, Thaíse por já trabalhar no laboratório de microbiologia, percebeu que podia testar o estado sanitário da água dos poços a partir de algumas análises. E foi o que resolveram fazer e o resultado acabou dando abertura para um novo estudo.
“Os resultados obtidos desse projeto demonstraram que a água retirada da maioria dos poços avaliados se encontrava fora dos padrões de potabilidade exigidos pela legislação de saúde. Em consequência disso, e também de outras questões relatadas pelo meu orientador, foi proposto um novo projeto, visando, dentre outras coisas, orientar os usuários de poços, visto que a água quando contaminada é veículo de transmissão de uma série de doenças”, relatou Taíse.
Extensão– A extensão universitária visa unir pesquisa, ensino e extensão, o objetivos principal é articular os dois primeiros e criar uma relação entre Universidade e sociedade. Ou seja, essa é uma ação de mão dupla que procura levar para comunidade externa um pouco do conhecimento adquirido pelos alunos dentro da Instituição, mas também oferece aos acadêmicos uma ótima oportunidade de aprender com a pesquisa.
“Será disponibilizada aos alunos envolvidos no Programa a oportunidade de conhecerem um aspecto da realidade social da cidade onde vivem e aplicarem conhecimentos adquiridos na Universidade de uma maneira prática e imediata”.
Por Cristiane Cândido