“É do ser humano, questionar a vida. A sociedade está doente e as pessoas estão dando sinais. Todo o dia tem um sinal e às vezes, não percebemos.” Essas palavras foram ditas por Geraldo Magela Pontes, um dos responsáveis por criar uma associação filiada ao Centro de Valorização da Vida (CVV) em Sete Lagoas.
Em 2015, o CVV e o Ministério da Saúde assinaram um termo de cooperação técnica e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabeleceu que o número 188 seria disponibilizado para receber ligações de prevenção ao suicídio. Desde julho de 2018, as ligações se tornaram gratuitas em todos os estados do Brasil.
CVV Sete Lagoas
De acordo com Geraldo Magela, atualmente o CVV possui 19 voluntários em Sete Lagoas, que fizeram treinamento e cursos para atender a quem precisa. “O atendimento é sigiloso e confidencial. A nossa didática é ouvir e tentar devolver uma questão para a própria pessoa descobrir a resposta,” revela.
Segundo Magela, aproximadamente 10 mil chamadas são recebidas diariamente por meio do 188 no Brasil. O serviço é disponibilizado também através do site do CVV e oferece opções de atendimento via e-mail, Skype, Chat e presencial. “Também realizamos trabalho com as famílias enlutadas, por meio de acompanhamento e orientação,” destaca Geraldo.
Sete Lagoas em estado de alerta
De acordo com Geraldo Magela, desde outubro de 2018, Sete Lagoas tem registrado altos índices de suicídios e despertado a atenção da população, de especialistas e organizações sociais. Mesmo não tendo acesso a dados recentes, Magela garante que “os números estão acima da média”.
Para o representante do CVV no município, a ordem das principais causas para a consumação da morte voluntária é respectivamente, depressão, dependência química e esquizofrenia. “O que está assustando agora é a quantidade de jovens suicidas,” revela.
Segundo Geraldo, estudos mostram que a ocorrência de suicídios aumenta na véspera do Dia das Mães e no final de ano. “Todo ano, o gráfico de estatísticas sobe nestes períodos. Agora o que está acontecendo aqui na cidade, nesse início de ano, pode ser o desenrolar de um processo de depressão que chegou ao ápice,” enfatiza.
Outro ponto destacado por Magela é a necessidade de a imprensa desenvolver conteúdos que estimulem a prevenção. “É preciso conscientizar, informar, explorar a questão do diálogo e de forma alguma, deve-se expor a imagem da pessoa”, finaliza.
Frases de uma sobrevivente
Emanuele Alcântara tem 23 anos e sobreviveu a uma tentativa de suicídio. Leia algumas frases ditas pela jovem que definem o processo pelo o qual passou.
“É como se eu me sentisse solitária mesmo recebendo amor. Como se o mundo fosse melhor se a gente não existisse.”
“Não é uma dor física e sim interna”.
“Senti uma forte dor no peito, que me deixou sem ar. Pensei que o melhor seria morrer, que nada iria acabar com aquela dor.”
“Sei que tive medo muito medo.”
“Meu padastro sentou comigo no quarto e mostrou o quanto é melhor viver. Ele disse que o meu filho precisava de mim, eu falei: minha mãe cuida melhor dele do que eu.”
“No hospital, me senti envergonhada vendo as pessoas lutando para ficar bem e eu tentando tirar a minha vida.”
“Acredito que as cobranças do mundo são muito grandes. Para as pessoas que, assim como eu, passam por problemas de aceitação, é muito difícil lidar com isto.”
Falar é a melhor solução
Rejane Felix é uma voluntária plantonista e responsável pela divulgação do CVV em Sete Lagoas, que se dispôs a integrar o grupo após participar do lançamento do livro “Viver é a melhor opção” do escritor e jornalista André Trigueiro.
“Quando surgiu a oportunidade, eu falei que queria ser voluntária. Depois fui aprofundando no assunto. Aí me dei conta da responsabilidade e também da maravilha que é poder fazer a diferença, mesmo que seja por pouco tempo,” conta Rejane.
Para a voluntária, existe uma frase muito importante. “Falar é a melhor solução”. De acordo com ela, é preciso conscientizar as pessoas sobre a relevância de expor o que se está sentindo. “Quando a pessoa liga ou entra no chat para buscar ajuda, ela se entrega. Então, do outro lado do telefone ou da tela, ela vai encontrar alguém que está disposto a escutá-la sem preconceitos ou julgamentos,” explica.
“Se a pessoa não consegue encontrar ajuda, ela se fecha e quando isso acontece, ela pode tomar decisões difíceis, drásticas e sem retorno,” pontua Rejane.
Estatísticas
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que acontece um suicídio a cada 40 segundos no planeta. Por ano, quase 800 mil pessoas em todo o mundo consumam o ato.
Índices do Ministério da Saúde divulgados em 2017, com referência ao ano anterior, mostram que cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil.
Precisa de ajuda? Ligue 188.
Por Nubya Oliveira