Em um país que jamais conseguiu consolidar sua indústria cinematográfica, há um senso mais ou menos comum de que toda a produção é independente. Porém, quando se analisam os filmes brasileiros que chegam efetivamente ao grande público (bem como suas fontes de financiamento e divulgação), vê-se que há claramente uma diferença, de produção e resultados, entre filmes que contam com um aparato financeiro e mercadológico constituído e outros realizados à margem dessa estrutura.
Assim como ocorre em Hollywood, o Brasil também possui suas chamadas majors – os grandes estúdios norte-americanos com sede no Brasil, como Columbia, Fox, Warner, Universal e Buena Vista. Grande parte de nossa produção depende delas e da Globo Filmes, braço cinematográfico do grande conglomerado midiático brasileiro, sem as quais, na concorrência pela ocupação das salas de cinema, estaria sem uma forte rede de divulgação/exibição.
Conseqüentemente, se existem as majors brasileiras (mesmo sendo, no caso dessas distribuidoras-produtoras, de matrizes americanas), existem os que se viabilizam sem essas empresas, os independentes, cujo valor não é medido por quantidade de cabeças, ou de dígitos, mas pela capacidade de ser expressivo no audiovisual contemporâneo, seja pelo tratamento do assunto sobre o qual se debruça, seja por suas opções estéticas formais.
Entre os 25 filmes brasileiros com maior bilheteria nos anos 2000, 21 foram distribuídos pelas majors e apenas um não teve apoio da Globo Filmes– o fenômeno de pirataria Tropa de Elite. Esses 25 filmes representam menos de 8% do total de longas-metragens brasileiros lançados em circuito comercial no mesmo período, mas responderam por quase 70% do público da produção nacional nos últimos oito anos. A má distribuição de renda do país encontra seu correlato no campo dos filmes lançados em salas de exibição.
O cenário é completamente diferente quando levamos em conta alguns dos filmes de maior repercussão em festivais nacionais e internacionais. Se tomarmos como referências filmes como Madame Satã (selecionado para Cannes, Sundance e Toronto), Lavoura Arcaica (premiado em Brasília, Havana e Biarritz), Amarelo Manga (premiado em Berlim, Brasília e Toulouse), Cidade Baixa (premiado em Cannes, Huelva e Miami), O Invasor (premiado em Brasília, Havana e Sundance), O Céu de Suely (selecionado para Veneza) e Cinema, Aspirinas e Urubus (premiado em Cannes), veremos um cenário distinto: distribuidoras nacionais, sem vínculos com emissoras de TV; produções de orçamento mais modesto e realizadas muitas vezes em co-produção com países europeus; e uma média de público no circuito comercial entre 70 e 150 mil espectadores.
30 de outubro a 04 de novembro de 2008
Tema: O custo da independência é a temática da Mostra esse ano
Local: Vila do Cinema