Há 17 anos, essa árvore deu o que falar em Minas Gerais: um grupo de pesquisadores, preocupados com o “sumiço” do Faveiro de Wilson, espalhou cartazes por toda a capital, Belo Horizonte, para chamar a atenção da sociedade. A iniciativa “Procura-se o Faveiro de Wilson” resultou na formação de um grupo que atua, até hoje, na tentativa de impedir o desaparecimento total da espécie. E, por se tratar de uma árvore tão importante, que pode desaparecer para sempre do planeta, o faveiro ganhou mais parceiros em sua defesa: o Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF, sigla em inglês para Critical Ecosystem Partners Fund) e o Instituto de Educação do Brasil (IEB) também entraram na luta para preservar a espécie.
A árvore é uma espécie endêmica, encontrada apenas na região central de Minas Gerais, em cidades como Lagoa Santa, Sete lagoas e Matozinhos, e está na lista vermelha de espécies ameaçadas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). Por ser tão raro, o Faveiro de Wilson é protegido pelo Decreto Lei 43.904/2004 de Minas Gerais.
O projeto “Manejo e Proteção ao Faveiro de Wilson” é fruto de uma parceria, selada em 2017, entre o CEPF, IEB e a Sociedade de Amigos da Fundação Zoo Botânica de Belo Horizonte. “O objetivo é aumentar a proteção ao Faveiro de Wilson e evitar a sua extinção com ações de conservação, multiplicação de mudas e a sua reintrodução na natureza”, afirma Michael Becker, coordenador da Estratégia de Implementação Regional do CEPF Cerrado.
Em quatro anos de atuação e aportes de US$ 21 mil do CEPF/IEB, foram realizados encontros científicos, capacitações técnicas e apoio aos pesquisadores que estudam o faveiro, nas áreas de ocorrência da espécie, um corredor localizado entre 18 cidades mineiras, em um raio de 5.218 km². Fernando Fernandes, engenheiro florestal da Fundação Zoo Botânica (autor da ação de 2004, em BH), afirma que no período já houve avanços importantes. “Tivemos condições de investir em conhecimento técnico acerca da espécie, na conscientização ambiental e no engajamento em defesa do meio ambiente nas comunidades localizadas no entorno da área de ocorrência da árvore”, disse ele.
Devido ao desmatamento descontrolado das matas da região, o Faveiro pode desaparecer para sempre da paisagem. A maioria das árvores remanescentes está localizada em pastagens, onde tem dificuldade para se reproduzir.
Ao longo dos últimos dez anos, Fernando Fernandes tem se dedicado à procura de indivíduos dessa espécie por todo o estado. Sem flores e sem vagens, o Faveiro parece uma árvore comum, uma leguminosa como o jequitibá, sucupira ou o jacarandá. Com as flores e vagens, chama a atenção. “As flores são minúsculas e formam cachos do tamanho da palma da mão”, descreveu Fernandes. “As vagens têm cheiro doce e agradável e são muito apreciadas pelo gado”.
“De 2003 até o momento, foram 10 mil quilômetros percorridos e apenas 240 árvores encontradas. Elas foram registradas em apenas 17 dos 853 municípios mineiros. Por conta disso, encontra-se no nível mais crítico da ameaça de extinção. Sua população é muito pequena, está em declínio, e presente numa área restrita”, afirma o especialista, que observou, ainda, que a principal causa de seu desaparecimento é o desmatamento de seu habitat pelo homem, para produção de carvão e madeira, especialmente para o setor agropecuário.
No final de agosto de 2021, a Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte juntamente com Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro realizou uma oficina para propor as bases de um plano de ação para a conservação da espécie no país. Em médio prazo, o objetivo é tentar tirar o faveiro-de-wilson do nível mais crítico que uma espécie pode estar na lista vermelha da ameaça de extinção.
Com Revista Encontro e Revista Cafeicultura