Você sabe o que PANC? Talvez já tenha comido alguma vez, mas não sabia do significado: plantas alimentícias não convencionais. Minas Gerais é um ‘celeiro’ delas; uma cozinheira e uma pesquisadora de Sete Lagoas participaram de um documentário explicando (e ensinando receitas) com estas hortaliças.
Marinalva Woods é pesquisadora da EPAMIG em Prudente de Morais e desde 2018 faz pesquisas com as plantas não convencionais. Ela explica que estas hortaliças são assim classificadas porque são encontradas em regiões específicas e não há uma cadeia produtiva definida: “Elas são plantas de costumes regionais, que não são encontradas em supermercado, mas em feiras livres. Exemplo: a taioba eu encontro eventualmente no supermercado, mas não com tanta facilidade como a alface”, comenta.
A EPAMIG tem um banco de manutenção de PANC na cidade, principalmente as mais consumidas como hortaliças, estudando e aplicando métodos de cultura. “Não se tem padronizado uma forma de cultivo e manejo, então, o que temos procurado é entender o seu manejo e aprimorar o que é conhecimento popular”, diz Marinalva, que aponta que as PANC estão presentes, comumente, em quintais ou em regiões de mata.
Não existe uma “planta não convencional nativa” de Sete Lagoas, mas as hortaliças mais encontradas em nossa região são a taioba, ora-pro-nobis, cansanção – inclusive, o pequi, que mesmo sendo fruto, também é considerado um alimento não convencional.
E como saber o cultivo destas hortaliças? Marinalva aponta que este saber é repassado por gerações e vem também da cultura das regiões onde elas são encontradas, mas, quem gostaria de saber mais sobre o que são e como aplicá-las em seus hábitos alimentícios, as pessoas podem pesquisar publicações da EPAMIG acerca das PANC.
Do mato à mesa
No ar desde o fim da última semana, o curta-metragem “Do Mato à Mesa” conta um pouco mais sobre a cultura das PANC em diversas regiões do estado e a sua importância alimentícia e cultural na formação da culinária mineira. Angela Felizardo, funcionária da EPAMIG, é uma das participantes da produção e conta como foi ensinar uma receita de frango com cansanção. “Foi uma coisa muito gratificante para mim, após muitos anos trabalhando [como cozinheira], tive a primeira oportunidade de mostrar minha atividade em uma produção”, afirma.
O cansanção, hortaliça comum em Minas, tem a fama de ser urticante, ou seja, causa muita coceira e até queima. Mas Angela tem um segredo para não queimar (sem usar luva): cortar as folhas da planta evitando o toque dela em sua totalidade. Além disso, uma superstição está presente, como pedir licença para retirar o cansanção. “Isso os ancestrais faziam assim, da época dos meus pais: apanhavam e socavam a folha e não queimavam a mão”, comenta.
“Do Mato à Mesa” está disponível no YouTube e é uma produção realizada com apoio do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura.
https://www.youtube.com/watch?v=fjFdpo8W3K8
Filipe Felizardo