O planejamento na educação é fundamental para garantir o acesso à escola, a proximidade com a residência e um ensino de qualidade. Primeiramente, o planejamento contribui para a criação de escolas acessíveis, próximas às comunidades em que os alunos estão inseridos. A proposta aponta o prédio da Escola Técnica como o porto seguro de acolhimento dos alunos daquela região já para esse ano 2024 até a construção definitiva da nova unidade de ensino.
Além disso, o planejamento permite organizar a disponibilidade de vagas e distribuir as escolas de maneira estratégica, levando em consideração a demanda local e a infraestrutura existente. No mesmo sentido, contribui para a economia de gastos com o transporte escolar, permitindo que os recursos sejam direcionados para melhorar a infraestrutura, qualificar os professores e oferecer materiais didáticos adequados.
Com este pensamento estratégico e baseado em levantamento inédito sobre o custo do transporte escolar, o vereador Caio Valace, presidente da Câmara Municipal de Sete Lagoas, solicitou junto à Secretaria Municipal de Educação um estudo sobre o custo das linhas de transporte escolar que atende os bairros CDI I, CDI 2, Monte Carlo e Canadá.
Com essa informação o vereador fez uma proposta que vai resultar para os cofres públicos uma economia de aproximadamente R$ 415 mil, anuais, somente naquela região. A solução foi dada e aprovada por unanimidade pelo Legislativo, além de sancionada pelo prefeito Duílio de Costa.
E qual foi a proposta? Aproveitar o espaço ocioso da Escola Técnica de Sete Lagoas durante o turno da manhã e garantir que 337 alunos, que hoje dependem do transporte público escolar, estudem no local, que foi denominado como Escola Municipal Isis da Silva Oliveira, até a construção de sua sede própria prevista ainda para este ano.
Até a efetivação da proposta, os 337 alunos que moram naquela região tinham que se deslocar para as escolas municipais Professor Teixeira da Costa, Professora Elza Moreira Lopes, Professor Galvão, Lucas Rodrigo e Alípio Maciel Fonseca, gerando um custo de R$ 415 mil anuais para o município.
“Primeiramente, fizemos uma leitura do problema. Infelizmente, os alunos da então Escola Municipal Helena Rodrigues Branco, inaugurada em 2012 no bairro CDI, foram desalojados de lá para que o local fosse cedido para o Colégio Tirantes, da Polícia Militar. Havia uma dívida social com aquela comunidade. A forma como foi feita, não foi inclusiva, espalharam estudantes daquele território por cinco escolas”, considera Caio Valace.
Dessa forma, veio a proposta de criação da Escola Municipal Isis da Silva Oliveira, que funcionará na Escola Técnica de Sete Lagoas. “Os 337 alunos diretamente beneficiados são somente os que dependiam do transporte público, porque moravam há mais de 2 km da unidade de ensino mais próxima. Era oneroso para o município e desgastante para pais e estudantes, por causa das distâncias e conflito de horários de quem trabalha com os de quem estuda”, explica o vereador.
A criação da escola Isis da Silva Oliveira vai ampliar a estrutura escolar do sistema municipal de ensino de Sete Lagoas, de modo a atender a comunidade escolar onde residem as crianças dos bairros CDI 1, CDI 2, Monte Carlo e Canadá. “Além de beneficiar toda uma região com ensino de qualidade e inclusivo, vai homenagear de forma póstuma a senhora Isis, que em toda sua vida lutou bravamente pela educação”, finaliza Valace.
QUEM FOI ISIS DA SILVA OLIVEIRA
Nascida em Sete Lagoas em 1933, formada em contabilidade pela Escola Estadual Maurílio de Jesus Peixoto, a verdadeira paixão de Isis sempre foi o magistério: das aulas particulares ministradas em sua casa, passou a lecionar português e francês em conceituados colégios de Sete Lagoas (Colégio Regina Pacis, Colégio Cristo Rei, Colégio Industrial, Colégio Márcio Paulino) e a atuar na vida cultural e assistencial da cidade.
O ensino da língua portuguesa sempre foi sua grande paixão. Sua expertise no assunto, a levou, mais tarde, já residindo em Belo Horizonte, para onde se mudou em 1979, a integrar o grupo de professores que corrigia as provas de português e literatura, da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.
Implantada a faculdade em SL, já no exercício da sala de aula, casada e com sete filhos, matriculou-se como aluna do curso de Letras, no qual se graduou, realizando um grande sonho.
Integrante do Clube de Letras de Sete Lagoas, tendo como patrono o poeta Cruz e Souza, a professora apresentava, nas reuniões semanais da associação, nas tardes de sábado, seus trabalhos literários, introduzindo, por várias vezes, os novos clubistas, com discursos que estão registrados em O livro de Isis, lançado em agosto de 2001, em Sete Lagoas e Belo Horizonte. Nele estão concentrados os melhores textos da sua produção literária.
O seu carisma e grande coração, incentivando os novos talentos, fez com que seus pares a elegessem “Mãe Intelectual do Clube de Letras” – a mãe Isis. E, ao tomar posse na Academia Setelagoana de Letras, escolheu como patrona a escritora mineira Maria Helena Ribeiro.
Secretária Municipal de Educação e Cultura, primeiro no governo do prefeito Sérgio Emílio de Vasconcelos Costa, e depois no de Afrânio Marques de Avelar, na década de 1979, ergueu e vitalizou várias escolas da zona rural de Sete Lagoas.
Nessa época, trouxe à Sete Lagoas os mais expressivos espetáculos e artistas, como a soprano Lia Salgado, a flautista internacional Odette Ernest Dias, o também internacional pianista Jacques Klein, o Quarteto de Cordas e o Balé Stagium, ambos de São Paulo, entre outras atrações.
Quando o Festival de Inverno de Ouro Preto começou sua itinerância por cidades do interior, a secretária encampou o movimento cultural sediando-o também em Sete Lagoas, numa programação que incluía vários cursos e manifestações artísticas.
Preocupada com a população carente, que não tinha acesso aos estudos, engajou-se na CNEG – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, cujo objetivo, como diz o próprio nome da sigla, era criar colégios com educação gratuita, fundando e edificando, junto a uma turma de beneméritos, o Colégio Márcio Paulino, onde também foi professora.
Mais que uma mestra, que ministrava ensinamentos, sempre se considerou uma educadora e foi com essa missão que levou à frente sua carreira.
A professora Isis da Silva Oliveira, figura ímpar no setor educacional de Sete Lagoas e de Belo Horizonte, lança O livro de Isis, coletânea de textos que registram a sua vocação literária e amor pelas letras ao longo da vida.
A obra, que tem prefácio do ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, amigo de longa data, é dividida em seis capítulos e reúne parte da produção intelectual da educadora – são contos, crônicas, poesias, dramaturgia e discursos. Como ressalta Ananias, “O livro de Isis bem que podia ser chamado de um livro de sentimentos. Sentimentos profundos, sim, da alma humana. Mas, sobretudo sentimentos de mulher. Por isso, talvez seja tão mais coerente o nome dado. Isis está nesse livro”.
Patrocinado pelo Sinpro-MG – Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais -, ele é apresentado também por Gilson Reis, presidente da associação, e pela intelectual Mariza da Conceição Pereira, do Clube de Letras de Sete Lagoas e da Academia Selelagoana de Letras, outra fiel amiga da educadora, que acompanhou sua trajetória pessoal e profissional.
O penúltimo capítulo – Tributo a Isis – mostra depoimentos de pessoas importantes na vida da escritora – filhos, netos, amigos, admiradores, profissionais da área de educação e das Letras, companheiros de militância política, como a deputada federal Jô Moraes.
O último engloba fotos de Isis, da infância a viagens que fez pelo mundo, momentos com a família, artistas, amigos novos e antigos.
A organização da obra ficou a cargo da professora Bernadetth Maria Pereira, o projeto gráfico é de Patrícia Magda Souza Rocha e as ilustrações são assinadas pela artista plástica Marina Jardim.
Assistência social
Além da área educacional, Isis teve grande participação em projetos assistenciais da cidade. Junto à dona Helena Rodrigues Branco, presidente da LBA – Legião Brasileira de Assistência – empenhou-se em várias ações, entre elas o da criação do SPIA – Serviço de Proteção à Infância e Adolescência – implantando oficinas de capacitação para esses públicos.
O projeto foi embrionário para a criação das Oficinas do Serpaf – Serviço Promocional de Assistência à Família -, entidade também voltada para o atendimento de crianças e adolescentes de Sete Lagoas.
Em 1979, a educadora, com o objetivo de acompanhar os estudos dos filhos, foi morar em Belo Horizonte, onde atuou como professora em colégios e cursos da capital mineira. Sua capacidade de trabalho e vitalidade a levaram para o Sinpro – Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, integrando a sua diretoria “juntamente com um grupo de professores e professoras combativos”, como afirma o atual presidente da associação, Gilson Reis, em seu texto de apresentação de O livro de Isis.
Lá, lutou bravamente em defesa da classe, ajudando “a resgatar a entidade para um profícuo ciclo de sindicalismo classista e de luta, comprometido com as reivindicações da categoria”.
Da Redação com ASCOM Caio Valace