Uma reclamação constante dos moradores de Sete Lagoas é o estado de conservação das calçadas e o uso indevido de um espaço público para atender a interesses privados, seja do morador de uma casa, dos comerciantes, ou até mesmo de empresas.
Ao longo da Avenida Villa Lobos são constantes os locais que não respeitam os pedestres. No cruzamento com a rua Engenheiro José França os tapumes de um prédio em construção ocupam boa parte do passeio, o restante é apenas terra e mato.
Segundo o advogado e corretor de imóveis Jean Karllo Araújo, a manutenção e o cumprimento das especificações de largura da calçada são de responsabilidade dos proprietários dos terrenos e imóveis onde ficam os passeios. Ele também informa que cada cidade pode ter legislação especifica sobre o tamanho mínimo das calçadas e que a largura pode variar de acordo com o local onde esta situado o lote ou imóvel.
Outro problema comum de se encontrar, principalmente no Centro, é a ocupação dos passeios por empresas e comerciantes, que ao não deixar espaço para os pedestres faz com que eles sejam obrigados a usar as ruas para andar. Na rua Professor Fernandino Junior, local de fluxo constante de ônibus, barracas de feirantes e até mesmo uma guarita da Turi reduzem o espaço do pedestre.
Na rua doutor Pedro Luiz uma loja de tintas oferece vaga de estacionamento para seus clientes, mesmo quando o passeio não tem tamanho suficiente para acomodar carros e pedestres. O desrespeito de alguns lojistas pelos pedestres é tão grande que na rua Teofilo Otoni, durante o horário comercial, dois caminhões se revezam sobre a calçada para descarregar o material de uma loja de tecidos.
No Canaã, uma loja de motos ocupa boa parte da calçada para mostrar seus produtos. Ivan Reis, gerente da loja, explica que é feito todo esforço para não atrapalhar os pedestres. “Temos plena consciência de que não podemos obstruir a calçada, mas às vezes alguns clientes deixam as motos de forma equivocada. Quando isso acontece resolvemos o problema o mais rápido possível. Ivan também conta que a loja, que já existe a 8 anos, já foi fiscalizada pela PM e pela prefeitura e que nunca foi apontada nenhuma irregularidade, uma vez que as motos se encontram debaixo da marquise da loja.
Um funcionário da prefeitura que preferiu não se identificar, disse que a fiscalização é praticamente deixada de lado pois quando são feitas advertências ou multas aos comerciantes rapidamente entram em cena os políticos dos panos quentes. “Os pedidos vêm de todas as partes, pessoas ligadas às secretarias, vereadores e até candidatos insistem para que as multas não sejam aplicadas a seus ‘velhos amigos’, ‘cabos eleitorais’ e ‘ gente nossa’. Assim o papel de fiscalizar fica muito difícil pois não se pode atender as reivindicações da população e dos infratores ao mesmo tempo. Infelizmente sobra pra quem trabalha direito”, explica. Ele também explica que até por isso a fiscalização muitas vezes deixa de ser feita.
Flávio de Castro, Secretário de Planejamento da cidade, confirma a inoperância da fiscalização por parte da prefeitura. “É uma questão de cultura que se tornou um transtorno. “A fiscalização é inepta há muitos anos, não existe sequer uma regulamentação dos passeios para a cidade. Em Sete Lagoas, tentamos mudar a postura de obstrução dos passeios, que ocorre até em rampas de garagem que impedem a circulação das pessoas. Se compararmos a Belo Horizonte, onde na área central existe adaptação das calçadas para os deficientes visuais e cadeirantes vemos o atraso em que a cidade se encontra. O pior é que temos uma resistência muito grande sobre a mudança desta cultura. A Secretaria de Planejamento da cidade sofreu retaliações quando tentou agir dentro da legalidade”, explica.
Na frente da prefeitura um retrato do descaso com os pedestres. A Praça Barão do Rio Branco fica em boa parte ocupada por carros e caminhonetes, que dificultam até que as pessoas atravessem a rua. A atendente Michele Coruja de Oliveira reclama da dificuldade de se andar pela praça. “É muito ruim porque a gente se arrisca andando pela rua e os motoristas não prestam atenção na gente. Quando chove é pior, pois além de passar muito perto os carros também molham as pessoas que tentam atravessar a rua” explica.
A doméstica Gidete Alves Barbosa diz que situação esta difícil para o pedestre, ela explica que às vezes tem que evitar um degrau maior no passeio ou até evitar os buracos e acaba passando pela rua. “Os carros passam colados na gente, mas até hoje nunca fui atropelada graças a Deus”, diz enquanto sobe novamente ao passeio da rua Herculino França depois de evitar a rampa da garagem de uma auto escola.
Esquina de lote completamente sem calçada no Canaã
Mato e cerca de arame farpado ao lado de prédio em cosntrução
Carros estacionados na praça em frente a prefeitura ocupam espaço dos pedestres
Vendedores ocupam o passeio e a guarita de quem espera o ônibus
Reportagem e fotos Felipe Castanheira