Atualmente, a necessidade de estar constantemente conectado é praticamente inevitável. A distinção entre o mundo virtual e o real está se tornando cada vez mais difusa, com uma conexão que perdura 24 horas por dia. A internet evoluiu para se tornar uma ferramenta indispensável na vida da maioria das pessoas, oferecendo um espaço democrático para a expressão de opiniões e interações sociais.
Entretanto, essa necessidade de estar sempre conectado à internet também gerou um terreno propício para ataques e disseminação de ódio, onde indivíduos que proferem comentários maliciosos são frequentemente denominados ‘haters’.
O termo ‘hate’, em inglês, é empregado na esfera tecnológica para descrever aqueles que postam mensagens de ódio na internet, muitas vezes direcionadas a indivíduos específicos ou grupos. Embora o sentimento de ódio sempre tenha existido, sua manifestação se intensificou consideravelmente com a popularização da internet, especialmente no contexto brasileiro.
Em entrevista exclusiva ao SeteLagoas.com.br o Psicólogo Clínico Cesar Augusto Baeta Neves, que atualmente atende no Capsi (Serviço municipal de atendimento de urgência a crianças e adolescentes) e no consultório particular (Clínica Aprender), nos conta mais sobre o assunto:
“As pessoas tendem a adotar comportamentos agressivos na internet quando estão atrás de uma tela, porque na maioria das vezes, estão protegidos pelo anonimato ou porque, protegidos por uma tela que se encontra entre o comunicador e o receptor, ele não se revela na sua integralidade, facilitando assim esconder as próprias fraquezas. A relação que vejo entre o comportamento agressivo online e a necessidade de afirmar poder sobre os outros é a de passar a enxergar o próximo de forma fria, sem sentimentos, como objeto. Conforme citado no livro: O Animal Social, pelo autor Elliot Aronson, “em duas pesquisas realizadas na Inglaterra, os pesquisadores descobriram que rapazes e moças que jogaram um videogame violento (lamers) mais tarde mostraram maior probabilidade de desumanizar imigrantes em seu país, vendo-os como um pouco menos humanos e dignos do que ingleses natos, em contrate com os estudantes que jogaram uma versão pro-social do jogo (Lemimings) ou um jogo neutro (Tetris).“
“Diáriamente nos meus atendimentos vejo que os principais danos à saúde mental causados pelo cyberbullying são traumas, transtorno do estresse pós traumático, ansiedade, pânico, depressão e fobia social. Podendo ser especialmente prejudicial em comparação com outras formas de assédio porque é uma agressão moral que ultrapassa os limites físicos seja da família, da escola e até mesmo de uma comunidade. Além disso ele pode se perpetuar no tempo e ainda expor a pessoa a um infinito número de pessoas,” finaliza o especialista Cesar Augusto.
No Brasil, há legislações que abordam o cyberbullying, definido como a prática do bullying nas plataformas de redes sociais. O artigo 147-A da Lei 14.132 de 2021 estipula que perseguir alguém repetidamente, por qualquer meio, ameaçando sua integridade física ou psicológica, restringindo sua capacidade de locomoção ou invadindo sua esfera de liberdade ou privacidade, constitui crime de assédio online, sujeito a pena de seis meses a dois anos de reclusão.
É fundamental entender que todos nós temos o potencial de adotar comportamentos de ‘haters’. Ao expressar desacordo com uma publicação ou comentário por meio de mensagens maliciosas, estamos alimentando a disseminação do ódio na internet. Para evitar contribuir com esse ciclo negativo, é essencial considerar o impacto de nossas palavras no próximo e lembrar que do outro lado da tela há uma pessoa como nós. O exercício da empatia e do respeito mútuo é crucial para promover um ambiente online mais saudável e positivo.
Da Redação, Maria Eduarda Alves