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Caro leitor,
Antes mesmo de começar a pensar na escrita que se segue, me recolhi ao lugar inconfortável do não entendimento da arte cinematográfica que urgiu em minha tela do celular através da lei Paulo Gustavo e realizada por um grupo de artistas de minha cidade, Sete Lagoas, MG. Não sou crítico de cinema e muito menos entendido de tal técnica. Apenas um reles expectador da obra e, como tal, me permito sentir, apenas. Dito isso, peço paciência e convido a leitura…
Recebi, nos dias passado, um convite para lançamento do curta Iranti, produzido por artistas da cidade. O local escolhido, para tal momento, foi o bar, boteco, no bairro Boa Vista, Alcunha Negada. Ao meu ver, a escolha do local para um bate papo com elenco, direção e equipe técnica, após assistirmos ao vídeo, já apontou, intencionalmente, o desejo dos artistas em versar, ao máximo, a obra para o povo. Democratizando o acesso e fazendo valer o direito básico a cultura.
Nesse prisma, Iranti foi projetado em uma tela improvisada e, ao longo de 17 min e mais 16 segundos, o silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente outrora eufórico e barulhento do bar, nos fazendo plateia, expectadores, atentos a história das personagens protagonizadas pelas atrizes Thais Azevedo e Thais Eduarda. De súbito o boteco virou sala de cinema. Acomodados, em cadeiras de metal, nos vimos na ambientação urbana do filme e, em instantes, passamos a caminhar com a personagem Maria (Thais Azevedo), por entre as ruas da cidade, no cotidiano de uma mulher jovem, escritora.
O dilema para escolha do título de seu novo livro a fez reivindicar seu passado através de Francisca (Thais Eduarda). Francisca se contorce presa em um trono imposto a histórica Chica da Silva, enquanto figura como uma entidade, em estado de consciência contínuo, promovendo um diálogo franco com Maria. Nesse ponto a minúcia dramatúrgica explicita um apelo a história que a história não conta, colocando Chica da Silva transparecida por uma mulher, longe dos rótulos literários machistas. Genial. É como se o passado fizesse um enorme esforço para romper as amarras dos fatos, convenientemente, queimados, apagados. Tudo para estalar a verdade irrefutável frente a uma história que nos foi posta, contada, por colonizadores. Em seguida uma cena magistral, de um banho de cachoeira onde Francisca, a consciência, lava Maria, coberta por completo, em uma imersão ancestral. Maria recobre a sua existência em um rompante de firmeza e determinação. Após ganhar uma guia de um vendedor da feira (Nathan Brits), vai até o escritório da editora defender seu livro com o título “Iranti”, bem como, seu nome, Maria. Ambos mal vistos pelo dono da editora (Douglas Costa). Maria de cabeça erguida, respiração forte, defesa reta da história a ser contada no livro. Ao mesmo tempo em que Francisca se desvencilha das amarras impostas pelo trono e aparece para Maria na sala da editora.
“Estou com você aqui sempre” O caminho de Iranti segue…
Sobre Írantí
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Ficha Técnica:
- Coordenação: Thais Eduarda
- Produção: Thais AzevedoDireção: Alisson Oliveira
- Roteiro: Mileide Moura
- Direção de filmagem e fotografia: Lucas Dionísio
- Elenco: Thais Eduarda, Thais Azevedo, Douglas Costa e Nathan Brits
- Design Gráfico: Tatto Paschoal
- Preparação Corporal: Alisson Oliveira