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Sugestão para o fim de semana: 'Sintonia' é uma série brasileira para maratonar, desconstruir preconceitos e amar a cultura do país

Imaginar que Sintonia, nova série da Netflix, é apenas mais uma obra sobre funk e periferia é um grande equívoco, ainda mais em uma realidade onde o número de lançamentos de novos filmes e séries se encontra maior do que nunca. A nova série, idealizada por KondZilla, apresenta ao espectador um produto final que certamente se destaca em relação as outras obras deste mesmo estilo, contando uma história forte, comovente e sincera que poderia, facilmente, ser real — e tal fato só comprova a grandiosidade da obra.

Foto Ilustrativa/Reprodução InternetFoto Ilustrativa/Reprodução Internet

O funk, inegavelmente, é uma forma de expressão artística que se tornou um forte patrimônio cultural brasileiro, e Sintonia se esforça para não só desconstruir a imagem deturpada que muitos têm pelo estilo, mas também para apresentar uma nova perspectiva em relação a toda essa cultura vindoura da periferia brasileira. Cada um dos três protagonistas tem um arco minuciosamente construído para apresentar ao público perspectivas diferentes – mas que não são as únicas possíveis – sobre a vida periférica brasileira: o sonho pela fama, a redenção pela religião, e o conforto em relação ao crime.

Primeiro temos Doni, um jovem que, como muitos, sonha em um dia atingir o sucesso, mas mesmo investindo todo seu esforço em escrever músicas para se tornar um MC, não tem a aprovação e compreensão do pai. Rita, sua amiga de infância, se mantém vendendo produtos clandestinamente em estações de ônibus e ajudando a traficar maconha, mas sua vida sofre uma grande virada quando acaba colocando sua melhor amiga em perigo, o que a leva aos poucos enxergar na religião uma forma de melhorar sua vida. Por último, entre os protagonistas, temos Nando, um jovem que já se encontra em uma vida de crimes para poder sustentar sua mulher e filha, mas o desejo de crescer nesse mundo acaba fazendo com que ele se afundasse mais do que gostaria.

As três histórias vão se relacionando cada vez mais ao longo da trama, com o encontro dos protagonistas sendo utilizado para interligar cada um dos três núcleos, onde vemos cada um dos amigos empenhado em apoiar o outro nestas novas fases de suas vidas. Em nenhum momento a série se perder ao contar a história de seus personagens, conseguindo fazer com que o espectador não só entenda o ponto de vista de cada um, mas torça pra que obtenham sucesso no que procuram – em determinados momentos da trama, o público pode se pegar torcendo pelos personagens, independente de suas ações. Mas não só uma significativa obra de drama, Sintonia também busca apresentar ao espectador a realidade periférica a partir dos diálogos e acontecimentos do roteiro – algumas vezes de forma discreta, outras bastante explícitas, mas sempre de forma responsável visando quebrar estereótipos –, mostrando seus sonhos, ambições, traumas e arrependimentos. Os mais variados funks nas transições entre as cenas e músicas de fundo são utilizados, com bastante perspicácia, para guiar a narrativa de forma bastante criativa, localizando o espectador na realidade e contexto da trama, assim como a linguagem repleta de gírias, que destaca a relação entre os personagens e explora de forma mais profunda a identidade daquele grupo social.

O ritmo das cenas é claramente uma das maiores qualidades técnicas da série, apresentando no produto final montagens extremamente rápidas e dinâmicas, se relacionando facilmente ao ritmo das batidas de funk, fazendo com que a trilha sonora não seja só um adendo à cena, mas uma de suas protagonistas. A direção da fotografia também apresenta uma proposta bastante perspicaz, auxiliando para que determinados momentos da narrativa se assemelhem fortemente com um videoclipe a la KondZilla, com diversas imagens de drone e movimentos de câmeras com distinções claras de velocidade – ora lentos, ora velozes.

Um dos poucos defeitos de Sintonia, entretanto, está na concepção de alguns personagens secundários, que devido à suas atuações acabam se tornando deveras caricatos – como, por exemplo, a personagem Márcia, Juninho e a mãe de Doni, mas esta última se recompõe e apresenta um significante show de atuação no final do quinto episódio, algo que redime a atriz para com todo o resto da série. Mesmo assim, a série consegue se manter uma obra bastante significativa e relevante nos dias atuais, se mostrando inteligente, engraçada e, quando necessário, comovente.

Nos últimos momentos da temporada, a série apresenta uma junção de cenas que se localiza em espaços temporais distintos, mas que se conectam com uma profunda sensibilidade e sentido, onde três discursos – cada um se refere a momento específico de crescimento dos protagonistas – se misturam sonoramente e em seus significados, mostrando que mesmo em busca de sucesso, redenção ou ascensão, o caminho trilhado por cada um dos protagonistas Doni, Rita e Nando lhes permitiu chegar a uma nova fase de suas vidas: um destino partilhado e comum entre os três, estando finalmente na mesma sintonia.

Entre as séries brasileiras desenvolvidas pela Netflix, certamente a obra-prima desenvolvida por KondZilla é uma das melhores e mais leais representações do país para o exterior, deixando de lado uma frequente narrativa que foca apenas em festas e drogas para apresentar, de forma bastante aprofundada, a forte realidade periférica que se relaciona e constrói uma significante parcela da população brasileira, subvertendo o papel de um grupo que, preso nesta realidade submersa, se vê obrigado a trilhar um caminho condenável pelo resto da população. Sintonia, portanto, vai muito além de apenas mais uma obra de funk e periferia, sendo uma história sobre a condição humana, sobre seus sonhos e desgraças, e sobre amor, lealdade e, a cima de tudo, esperança.

Com Série Maníacos



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