A estiagem das chuvas aliada ao tempo seco, temperaturas elevadas, velocidade dos ventos e ações criminosas está fazendo com que 2024 seja um ano trágico para o Brasil no número de incêndios florestais. Só em Minas Gerais, de janeiro a agosto o número de focos de incêndio já é o maior dos últimos cinco anos de acordo com levantamento do Corpo de Bombeiros Militar. Isso representa um aumento de mais de 50% se comparado ao mesmo período do ano passado.
Diante dessa realidade, equipes de combate muitas vezes formadas por militares e brigadistas profissionais ou voluntários enfrentam um trabalho desgastante e cheio de riscos. Conversamos com Anderson Favorito, brigadista da Brigada BH atuante na Serra de Santa Helena em Sete Lagoas para contextualizar um pouco dessa árdua rotina.
Anderson Favorito é formado em Tecnólogo em Meio Ambiente e Gestor Ambiental. Ele começa dizendo que no campo as equipes precisam se manter hidratadas, atenta às mudanças de vento e ao piso que andam. Além disso, outros detalhes demandam alerta:
“Perigo temos o tempo todo devido ao desgaste, à fumaça intensa, locais de difícil acesso, grutas, buracos.”
Segundo Anderson, a coordenação da equipe de combate fica responsável por analisar o cenário do fogo diante dos profissionais e também avaliar quando é preciso revezar os combatentes. “Às vezes os mais cansados revezam-se buscando alimentos, água, abastecendo o caminhão pipa”, complementa.
O brigadista conta que, especificamente na Serra de Santa Helena onde atua, características geográficas também colocam a equipe em atenção. O relevo é acidentado, há risco de quedas e muitas vezes eles são surpreendidos por buracos feitos por garimpeiros que buscam cristais.
A população pode ajudar os combatentes. Além de ser peça fundamental na prevenção a incêndios não colocando fogo em matas, lotes vagos e campos abertos, Anderson destaca que ela pode contribuir fornecendo informações úteis. Ele explica que, mesmo que os brigadistas não estejam sendo vistos, o trabalho estará sendo planejado:
“Muitas vezes algumas pessoas acham que a brigada não está atuando em alguma ocasião. Isso acontece porque temos que analisar o momento em que podemos chegar no foco sem risco de acidente para equipe. Esse ano alguns brigadistas perderam a vida em combate em outros locais do Brasil”, pontua.
Os casos fatais a que Anderson se refere são as mortes de Uellinton Lopes, 39 anos, brigadista encontrado morto em 26 de agosto após combate às chamas no Parque Nacional do Xingu em Mato Grosso e Saulo Oliveira (48) e Gerci Junior (30), ambos vítimas durante combate a incêndio num pasto no interior de São Paulo, em 23 de agosto.
O tempo favorável à propagação de incêndios ainda deve permanecer nas próximas semanas, até que a época das chuvas retorne como mais uma aliada no trabalho dos brigadistas e militares. Até lá – e para todo o sempre – contribua não provocando incêndios florestais.