O professor e pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, USP, Vanderlei Bagnato é físico e um dos especialistas sobre o uso do laser na medicina e odontologia. Bagnato faz parte da equipe que desenvolveu um equipamento para o diagnóstico e tratamento de um tipo de câncer de pele e também é membro da Academia de Ciências do Vaticano.
O físico foi um dos palestrantes do workshop “Modernas técnicas ópticas para a saúde” realizado pela Facsete em Sete Lagoas. A visita do cientista também serviu para marcar o início das negociações para a realização de pesquisas para o tratamento do câncer com o uso de laser na cidade.
SeteLagoas.com.br: Quais os avanços que o laser trouxe para a medicina e a odontologia?
O laser é um instrumento que no seu início, era um instrumento praticamente cientifico, era um instrumento que ficava dentro dos laboratórios. A medida que ele foi sendo testado em muitas situações ele se mostrou um instrumento em que a aplicabilidade transcendia as suas aplicações cientificas iniciais. Então, na medicina, na odontologia, no controle ambiental e nas telecomunicações, porque hoje fibra óptica é a laser, ele foi se mostrando um aparelho inteiramente útil, para uma vasta variedade de aplicações.
Em particular na medicina ele se mostrou ser muito bom primeiro como instrumento de corte em substituição ao bisturi, com a vantagem por que não tem sangramento de local, ele se mostrou um equipamento terapêutico adequado para você num pós-cirúrgico estimular a recuperação, tratamento da dor, tratamento das artrites, artroses. Ele se mostrou um equipamento muito bom para a terapêutica, na fisioterapia, se usa muito, quase em tudo, até em crises respiratórias nós usamos o laser, porque ele é instrumento muito interessante que pode agir a nível molecular e interagir e estimular determinadas coisas que as vezes até medicamento estimularia.
Na odontologia, porque o que acontece na odontologia, tudo que você faz é ou tratar a dor ou é tratar coisas que causam dor. Mas o tratamento acaba tendo dor. Então ele é um aparelho que veio, faz parte hoje da rotina de muitos dentistas que utilizam o laser como uma pré-preparação do tecido para que não tenha dor, libera endorfina, é uma pré-anestesia.
Ele funciona para ATM (articulação temporomandibular) e para controle biológico, com o laser hoje consegue matar os próprios microorganismos que causam a cárie ou infecções complicadas que não teriam como ser tratadas de outra forma. Na oncologia o laser é fundamental no tratamento do câncer tanto no diagnóstico quanto no tratamento, então foi abrindo, as aplicações foram aumentando. Claro que ainda tinha a questão do preço, mas com a tecnologia aumentando hoje há equipamentos cujo o preço está bem acessível aos trabalhadores da área da saúde. A ciência desenvolveu aplicativos e a indústria os tornou acessível.
SeteLagoas.com.br: Como a ciência tem ajudado, na opinião do senhor, a vida do homem?
A ciência tem que trabalhar em prol do homem e tem que trabalhar desenvolvendo técnicas acessíveis. Não adianta você desenvolver uma técnica em um aparelho que você vai ter que tomar um avião e ir pra Nova York receber uma aplicação. Isso não torna uma técnica disponível para toda a sociedade. Então a nossa preocupação hoje é utilizar a ciência, utilizar o conhecimento para produzir técnicas que possam estar amplamente disponíveis a sociedade. Isso significa que aqui em Sete Lagoas você deveria ir ao hospital e eles deveriam ter o que há de mais moderno para tratar vocês ao invés de começar a ver como eu vou mandar você pra São Paulo, para o exterior. E isso a ciência pode fazer. Além disso nós estamos vivendo um momento em que a população deixou de viver uma expectativa de vida de 50 anos e começar viver uma de 80. Então hoje tem que viver até 80 anos. E inevitavelmente nós vamos estar desenvolvendo doenças e aí o tratamento tem que estar disponível. Mas nós sabemos que não está né, nós sabemos o caos que é. Então você tem que ter tecnologia que trate rapidamente e de forma barata a doença que vai aparecer. Isso envolve desde técnica de diagnóstico, então, eu tenho que começar a diagnosticar você rapidamente. Você foi no médico com a suspeita que você tem dengue você teria que em minutos saber o resultado. Não como agora que coleta o sangue e semana que vem você vir receber, pode ser tarde demais.
SeteLagoas.com.br: Como é o trabalho realizado pela Agência USP de inovação?
A Universidade de São Paulo é uma grande Universidade, e não é patrimônio de alguns é um patrimônio da sociedade brasileira. É um patrimônio que gasta mais ou menos cinco bilhões por ano, o que é muito dinheiro. Muitas capitais brasileiras não tem esse dinheiro. Então ela tem uma responsabilidade social, ela tem uma responsabilidade com a sociedade brasileira de pegar tudo isso que a sociedade colocou nela e tornar isso benefício para a própria sociedade. E hoje nós entendemos que saúde e educação são coisas fundamentais. Nós temos sim que contribuir muito para avançar nessas áreas para que as pesoas tenham chance de resolver os outros problemas. Enquanto a gente tiver problemas de saúde e de educação os outros não vem automaticamente. Não adianta eu te dar emprego, mal pago, e você tem problemas de saúde e problemas de educação. Sem educação boa e sem saúde boa as pessoas não podem se cuidar elas vão sempre depender de alguém. Então a universidade tem feito programas para identificar problemas sociais e atuar em cima dessas necessidades.
SeteLagoas.com.br: Como o senhor observa a iniciativa da Facsete em realizar palestras sobre inovações na saúde?
De nada adianta a pregação sem o exemplo do pregador. Todo bom cristão não pode só falar ele tem que praticar, nós cientistas temos que de fato mostrar, fazer, executar e levar para todo cidadão. Todo mundo tem o direito de saber o que o setor público traz para o próprio beneficio. Então, sempre que dá a gente faz palestra para mostrar o que está sendo feito, mostrar os programas, mostrar o quanto é importante investir no conhecimento para que o conhecimento ajude a resolver os problemas da sociedade. Todo mundo tem o direito de saber que nós já estamos preparados para tratar algumas doenças e tem o direito de saber inclusive que tem o direito ao tratamento.
Por Nayara Souza.