Nosso amigo Busu é um cara enorme. Mas maior ainda é o seu coração. No estaleiro, recuperando-se da cirurgia de estômago que acabou de fazer para tratamento de obesidade mórbida, de que é portador, Busu, ao invés de ficar quieto e descansar
resolveu compartilhar com todos nós o seu problema e divulgá-lo para outras pessoas que possam precisar do mesmo tratamento. Ele postou em seu blog um texto fantástico, super didático, sobre o que é obesidade mórbida, os tratamentos possíveis, a cirurgia que fez, seus riscos e o pós-operatório.
Cláudio Busu:
Em primeiro lugar quero agradecer as centenas de ligações, orações, mensagens, email-s e telegramas. Graças ao apoio de todos, essa primeira semana ficou menos difícil e o tratamento continuará dando certo. Meu primeiro post, pós-operatório é de utilidade pública, aqui procuro resumir um pouco de todas as perguntas que me foram feitas. Assim que me recuperar, volto para firme e forte para a política. Tenho muito a fazer por Sete Lagoas e principalmente pelas pessoas que passam pelo mesmo problema que eu.
Forte abraço a todos,
Porque você operou?
É porque eu sou portador de obesidade morbida. Isso significa que o excesso de peso em mim é tão grande que causa efeitos negativos para a minha saúde. Esses efeitos acabam por dificultar e encurtar a vida. O índice de massa corpórea (IMC) é útil para se avaliar a gravidade do excesso de peso. IMC maior ou igual a 40kg/m² fala a favor de tratamento cirúrgico da obesidade. Já o IMC igual ou maior a 35 kg/m², só quando existirem doenças associadas. Ao operar fiz 3 opções: optei por qualidade de vida, optei por liberdade e optei por minha família.
Porque você chegou a esse peso?
Desde pequeno fui gordinho. É natural da minha família uma constituição robusta. Além disso todos aqui são “bons de prato”. Apesar disso sempre fui atleta. Jogava no náutico, basquete, volei, natação, handeball, tênis, etc… Então a conta era mais ou menos assim “Comida – Esporte = Pouco peso”. Porém em 2003 eu tive uma crise de hipotireoidismo, onde fiquei 1 ano de tratamento e engordei 90 kilos, vindo tornar impraticavel a prática esportiva. Com isso a conta ficou “Comida + sedentarismo = Ganho de Peso”. Desta forma acabei chegando aos peso que fui operado.
Quem é candidato para a Cirurgia ?
Com algumas exceções, são candidatos a cirurgia:
1. Quem fez diversas tentativas de redução de peso com orientação médica sem sucesso.
2. Ausência de doenças graves, com riscos inaceitáveis para cirurgia.
3. Estar com índice de massa corpórea de 40 Kg/m² ou mais.
4. Ter passado por avaliação psicológica.
* Pessoas com IMC menor de 40 Kg/m², poderão ser submetidos a cirurgia em casos especiais.
O que é Índice de Massa Corpórea (IMC) ?
É o peso em quilos dividido pelo quadrado da altura em metros.
Peso
IMC =_______________________
Altura x Altura
De acordo com o IMC pessoas são consideradas:
de 25 a 30 kg/m² | pesadas |
de 30 a 35 kg/m² | obesidade grau I |
de 35 a 40 kg/m² | obesidade grau II |
mais de 40 kg/m² | obesidade grau III |
Quais os modelos de operações para obesidade mórbida ?
Há basicamente três tipos de técnicas cirúrgicas para o tratamento da obesidade: restritiva, má absortiva e, combinações das duas. A técnica de Capella (na qual eu fiz), é a combinação da restritiva e da má absortiva, chamada gastroplastia vertical com bandagem e bypass. Esta técnica cirúrgica é realizada desde 1982, apresentando perda 35 a 42 % do peso inicial no primeiro ano e, mantendo-se o peso dai em diante. Pode ser realizada através de um corte no abdome superior com 10 a 15 cm de comprimento, ou através da vídeolaparoscopia (6 pequenos cortes na barriga). No meu caso foi feito o pequeno corte.
Outras combinações de restrição e má absorção são as chamadas técnicas de Scopinaro e o “duodenal switch”, em que a pessoa pode comer uma maior quantidade de alimentos, pois o estômago fica maior. Mas a absorção dos alimentos é bem menor. Se por um lado é vantagem poder comer mais, por outro, há uma maior tendência a diarréias, gases com odores fétidos e eventualmente tendência a desnutrição.
A técnica puramente restritiva, é a chamada banda gástrica, que transforma o estômago em uma ampulheta, sendo a parte superior muito pequena, dificultando assim ingerir grandes volumes de alimentos. A banda gástrica requer regulagens do estreitamento. A perda de peso geralmente não chega aos índices das cirurgias anteriores.
Como a sua Cirurgia (Capella) vai ajudar a perder peso ?
A cirurgia cria uma sensação de “estômago cheio” e satisfação, porque a capacidade do estômago fica muito pequena (cerca de 100ml de capacidade). Ingerindo-se uma pequena porção de alimento há a sensação de se ter comido uma grande quantidade. O “estômago pequeno” mantém a inervação, levando ao cérebro, a informação de saciedade. Além disto desvia-se o alimento de uma pequena parte do intestino fino, fazendo com que haja um pouco de má absorção, que também ajuda na perda de peso.
Após a cirurgia pode-se comer de tudo em pequenas quantidades, porém, uma “mordida” além do necessário causa náuseas e vômitos. A perda de peso em 1 ano varia de 30 a 40 % do peso inicial.
Quais os riscos da Cirurgia da Obesidade ?
O risco é o mesmo de qualquer outra cirurgia de grande porte (mortalidade < 0,5%), mas existe e deve ser considerado, principalmente porque o obeso, normalmente, já possui alterações respiratórias, circulatórias e cardíacas. Deiscência (abertura) dos grampos ou das costuras podem ocorrer numa minoria, podendo exigir uma reoperação. Embolia pulmonar (sangue coagulado nos pulmões) é também uma complicação temível, às vezes mortal. Por enquanto me sinto ótimo e não tive qualquer problema.
Há algum preparo na véspera?
Somente deverá fazer jejum, a partir da meia noite do dia anterior, inclusive de água. No dia da cirurgia, foi raspados (tricotomia) os pêlos do meu abdome. Recebi cerca de 2 horas antes da operação uma injeção de anticoagulante (aplicada na gordura da barriga) e na noite anterior.
Qual o tempo de duração de uma operação?
Cerca de 2 a 3 horas.
Como foi logo após a cirurgia?
Quando terminou a operação, fui levado ao CTI, por estar muito acima do peso, mas apenas por excesso de zelo, não significando que houve qualquer complicação. Chegando ao quarto, fiquei deitado, levantando para fazer pequenas caminhas, com ajuda. Não pude ingerir nada por boca durante as primeiras 48 horas. por isso fiquei ligado ao soro, para as medicações e hidratação
Como será sua alimentação no primeiro mês?
Minha alimentação nos 30 primeiros dias após a cirurgia, será apenas de líquidos pouco calóricos, usando sempre adoçantes.
Tenho que tomar pelo menos 1,5 litros de líquidos por dia, incluindo caldos salgados, evitando assim a desidratação e a formação de “pedras” nos rins.
Minha alimentação é basicamente:
- Água (sem gás) e chás.
- Refrescos de frutas, coados.
- Caldos coados e não batidos (legumes, carne magra, frango sem pele, peixe), temperados normalmente.
- Água de coco ou gatorade® (até 300ml por dia).
- Gelatina dietética.
- Leite e iougurte natural, desnatados. (batidos com frutas e coados).
Você sente fome ou dor?
Nenhuma.
Quem foram seus médicos e onde operou?
Cirurgião – Dr. Eduardo Nacur Silva
Psicologa – Dra. Luciana Camelo
Endocrinologista – Dr. Jader Pereira
Cardiologista – Dr. Celso Paiva
Pneumologista – Dr. Luiz Camelo
Plano de Saúde – PLANSEG (cobriu toda a cirurgia)
Hospital – São Lucas
Laboratório – Laboranálise