Padre Evandro Alves Bastos, nascido em Pequi, na região Oeste de Minas, é padre há três anos e atualmente é o responsável pela Paróquia de Nossa Senhora do Carmo. Homem de posições contundentes, recentemente fez declarações polêmicas sobre a mídia de Sete Lagoas durante uma missa. Padre Evandro é uma pessoa conhecida por expor suas convicções.
Confira a entrevista feita pelo SeteLagoas.com.br:
Recentemente, ao final de uma celebração o senhor disse que a mídia de Sete Lagoas estava nas mãos da prefeitura. Por que o senhor acredita nisso?
Acredito que a mídia da cidade tenha sido induzida pela Prefeitura. Aquilo que é divulgado não é real, os problemas não aparecem, só se vê falsas verdades. Temos problemas sociais, falta de estrutura e desorganização do poder público.
O senhor poderia apontar isso de forma mais concreta?
Um exemplo é a Secretaria de Assistência Social, que fica dentro da paróquia. Chegamos a entregar cestas básicas para a Secretária, quando na verdade era ela que deveria estar apoiando os mais necessitados.
Eu conheço as pessoas que trabalham na Assistência Social e vejo a angustia delas, diante da falta de estrutura de trabalho. E onde esta a mídia? Nada disso é dito.
Certa vez levei um dependente químico até a Secretaria de Assistência Social e eles não tinham o que fazer com ele. Muitas vezes as famílias dos dependentes químicos vão até a secretaria e voltam pra casa sem solução.
O problema é mais grave em relação ao lixo, parece que não temos uma política de limpeza urbana. Toda a cidade se encontra suja, com exceção da área próxima ao shopping. Nossa Campanha da Fraternidade deste ano é voltada a questão do meio ambiente e o lixo em nossa cidade é um problema grave.
Mas minha crítica é a todos nós e não só a mídia. A administração da cidade está terrível e não vemos isso nos meios de comunicação.
Nestes últimos tempos a Secretaria de Assistência Social desenvolveu algumas novas ações, como por exemplo, a instalação de rampas e banheiros adaptados nas residências de pessoas carentes com dificuldade de locomoção. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Fico feliz em saber que este trabalho existe, mas acho que deveria ser melhor divulgado. Mas não acho que o básico deva ser deixado de lado em virtude do novo.
Em relação à questão do lixo, recentemente foi iniciado um mutirão de limpeza na cidade. Como o senhor vê isto?
Espero que isso traga um resultado positivo. Tenho muita esperança de que algo seja feito pela prefeitura para melhorar a vida das pessoas. Pena que tivemos que esperar 2 anos para que algo seja feito.
Voltando a questão da mídia, o que o senhor fez quanto ao problema da mídia em relação a prefeitura em Sete Lagoas. Quais providências o senhor tomou em relação a isso?
Estamos tentando uma participação mais direta pela Rádio Musirama, no programa “O Povo na Rádio” onde o Geraldo Padrão, leva perguntas e demandas das pessoas para o poder público e elas são respondidas.
Por que pelas rádios sempre ouvimos coisas bonitas sobre a cidade, me pergunto se as pessoas não estão vendo os problemas de Sete Lagoas.
Também temos um grupo de padres em que produzimos cartas abertas e distribuímos para a população para conscientizar as pessoas. Queremos conscientizar as pessoas para participar mais da vida pública.
Acredito que esta deva ser a função das igrejas, não só a católica, mas também de todas as outras instituições.
A prefeitura e também o ex-presidente da Câmara Municipal alegam que houve uma queda muito grande na arrecadação do município em 2009 em função da crise econômica mundial e que isso dificultou os trabalhos. Como o senhor percebe esta situação?
Não tenho os dados referentes a isso, mas acho altamente contraditório. Durante esta crise o governo federal manteve suas funções. E Sete Lagoas, que cresceu com a chegada de novas empresas e a construção do shopping justamente no auge alega falta de recursos. Eu espero que a Câmara tenha dados precisos sobre isso.
E como o senhor avalia o trabalho da Câmara Municipal?
É um marasmo muito grande e existe um jogo de interesses lá dentro. A Câmara é muito ausente e distante do povo. Falta interação, principalmente com os mais pobres. Os vereadores parecem viver em um outro mundo.
E como o senhor explica a eleição do ex-presidente da Câmara Municipal, Duílio de Castro, para Deputado Estadual?
Os tramites de uma eleição são bem diferentes das ações políticas.
Não existe ai uma contradição?
A questão é como as pessoas conseguem fazer avaliações críticas. Mas a falta de informações sobre os tramites políticos geram decisões mais acaloradas na hora de votar.
E quem é o responsável por isso? A mídia, os políticos ou o povo?
O problema é uma falta de consciência política como um processo educativo, como algo salutar. A eleição do Tiririca foi um símbolo destas eleições. As pessoas estão frustradas com os processos políticos. E todos nós temos responsabilidades na formação desta consciência.
Os votos no Tiririca foram um desabafo, mostrando que precisamos de mais ousadia na política. Precisamos de vencer esta imaturidade política. Por isso a mídia, as igrejas como um todo e também outras instituições devem se voltar para conscientizar os cidadãos.
Seria interessante se tivéssemos a Câmara nos bairros, para ter um contato maior com as pessoas. E a igreja deveria ser a primeira parceira neste tipo de ação. Com isso os vereadores veriam os problemas de perto. E esse movimento poderia começar nas cidades e depois se estender até o nível nacional.
O senhor já foi a Câmara Municipal acompanhar o processo político?
Fui algumas vezes, mas depois parei. Não faço uma crítica à estrutura, acho que a Câmara deveria fazer como a Igreja, sair de suas paredes para entender melhor a necessidade do outro.
Como o senhor avalia a política do Governo Estadual?
É um processo tão enganador que passamos a achar que o estado esta uma maravilha.
E o Governo Federal?
Tenho muita esperança na mulher, mas vejo com maus olhos a equipe que a acompanha. E tenho uma avaliação positiva do governo Lula.
Como o senhor avalia a atual gestão da prefeitura em comparação às gestões anteriores?
É uma gestão fraca, mas é bom destacar que estamos em um outro momento histórico e as políticas administrativas mudaram. Esta administração deveria ser mais incisiva junto ao povo, ter mais ousadia. O momento político do país permite isso.
Eu tenho muita esperança que o novo secretariado venha a ajudar a cidade. E quero deixar claro que nossa paróquia sempre esteve ao lado da atual administração. Acolhemos um posto de saúde, sempre estivemos ao lado da Secretaria de Assistência Social e outras paróquias receberam várias escolas ao longo dos últimos anos.
O prefeito é nosso paroquiano e durante o processo eleitoral estivemos ao lado dele. Demos apoio e orientação espiritual e fizemos até uma missa em ação de graças pela sua eleição. Mas acho que ele esteve muito ausente ao longo do mandato.
Fotos e entrevista Felipe Castanheira