O futebol brasileiro vive o chamado período de pré-temporada antes do início das principais competições nacionais e estaduais. Várias são as negociações para que atletas se transfiram de um clube a outro e no noticiário surgem informações como “o jogador chega para fazer exames médicos antes da assinatura do contrato”. Mas quais são esses exames? Um atleta pode não ser contratado a partir deles? Para conhecer mais sobre o tema, conversamos com o Dr. Cláudio de Melo Baptista, especialista em Medicina do Esporte e médico do Democrata Futebol Clube de Sete Lagoas.
Segundo o especialista, antes da assinatura do contrato os clubes adotam um protocolo estabelecido pela FIFA quanto aos exames obrigatórios a serem feitos. “Fazemos uma anamnese, ou seja, uma coleta do histórico de questões de saúde tanto familiar quanto dele [atleta] e suas lesões prévias. Além disso, fazemos um exame físico completo cardiovascular, pulmonar, osteomuscular”, conta. Dr. Cláudio Baptista complementa que o mesmo protocolo estabelece para todos os atletas, independentemente da idade e de outros exames feitos, a realização de um eletrocardiograma de doze derivações.
Devido às diferentes realidades estruturais e financeiras, os exames podem ser feitos nos próprios clubes ou em clínicas externas. O Democrata, por exemplo como revela Dr. Cláudio Baptista, tem realizado eletrocardiogramas em parceria com a Faculdade de Medicina Atenas e exames de sangue no Laboratório Monsenhor Messias, ambas instituições presentes em Sete Lagoas
Cada clube pode adotar exames adicionais caso tenha recursos disponíveis. “O próprio protocolo da FIFA recomenda a possibilidade de acrescentar exames de sangue como hemogramas, análises de colesterol, exames para ver a função renal, carências nutricionais e de vitaminas” diz Dr. Cláudio Baptista.
Porém, segundo o médico, é mais comum que a complementação dos exames se dê por necessidade a partir das informações coletadas durante as consultas e exames físicos iniciais: “A partir do momento em que verificamos alguma alteração no exame físico ou durante a coleta de dados e percebemos algum risco de doença ou lesão, avançamos nos exames. Pode ser pedido, por exemplo, o teste ergométrico (“teste da esteira”) ou ainda ergoespirométrico que é o mesmo teste mas avaliando também a composição de gases. Também outros exames de imagem como ressonância nuclear magnética, tomografia, ecocardiograma”.
O tempo gasto entre a avaliação dos exames e a liberação do contrato tenta ser o mais rápido possível. Além da parte médica, os clubes também avaliam condições físicas e psicológicas dos atletas durante a pré-temporada. O entrevistado revela que esse tempo pode variar de dois a três dias em média, salvo alguma necessidade de exames complementares.
A maioria dos atletas é aprovada durante essas análises e liberada para assinatura dos contratos. No entanto, impedimentos podem acontecer. “O principal motivo da não contratação por alteração dos exames médicos é com certeza alguma alteração cardiológica. Isso traz um pouco mais de preocupação e faz com que a gente pelo menos postergue a assinatura de contrato ou até mesmo não a realize”, diz o Dr. Cláudio Baptista.
Outras situações que podem impedir a contratação dizem respeito ao tempo de recuperação de lesões não tratadas, sequelas musculares e articulares, alterações cognitivas ou psicológicas identificadas pelos psicólogos: “Pode ser, às vezes, uma contraindicação principalmente para clubes que vivem uma temporada muito curta como aqui no Democrata. Contratar um atleta na fase de pré-temporada com uma lesão ou doença grave vai exigir um tratamento prolongado e isso pode, infelizmente, inviabilizar sua presença em campo durante a competição”. No caso democratense, a equipe disputará o Campeonato Mineiro Módulo II, competição que dura cerca de três meses.
O médico explica que em casos mais raros, também podem ser identificadas deficiências nutricionais e de massa muscular que são mais fáceis de tratar. A depender do grau de interesse do clube no atleta, pode-se investir no tratamento com posterior contratação do jogador.
Todas as avaliações não são apenas formalidades, e sim conferem muita responsabilidade ao departamento médico como declara o entrevistado: “Apesar dessa avaliação completa da equipe multiprofissional, a responsabilidade final da assinatura do contrato é do médico. Ele tem que estar ciente de toda essa avaliação e da possibilidade ou não de fazer a assinatura”, finaliza.
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Dr. Cláudio de Melo Baptista (CRM 50904, RQE 36033) é, além de Médico do Esporte pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Médico do Democrata, também Médico da Família pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Médico da Federação de Taekwondo do Estado de Minas Gerais e Médico das clínicas Salte, Cicatrizare e da Fundação Zerrenner (Ambev). Também é professor da Faculdade de Medicina Atenas de Sete Lagoas e Diretor-Presidente da Associação Médica de Sete Lagoas para o período 2024-2026.