Uma reportagem da revista Piauí, publicada nesta sexta-feira (4), trouxe à tona detalhes sobre os bastidores da gestão de Ednaldo Rodrigues na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A matéria expõe estratégias utilizadas pelo presidente para garantir sua reeleição, incluindo altos gastos financiados pela entidade para parlamentares, artistas e integrantes do Judiciário.

Viagens luxuosas bancadas pela CBF
De acordo com a publicação, a CBF financiou a viagem de 49 pessoas sem vínculo direto com a entidade durante a Copa do Mundo no Catar, cobrindo passagens em primeira classe, hospedagem em hotel cinco estrelas e ingressos para os jogos da seleção brasileira. Entre os beneficiados estavam políticos, magistrados, empresários, jornalistas e artistas, além de familiares. O custo total da “cortesia” teria chegado a R$ 3 milhões.
Aumento expressivo nos salários de dirigentes
Outro ponto abordado pela reportagem foi o aumento significativo nos salários dos presidentes das federações estaduais ao longo da gestão de Ednaldo. Antes de ele assumir o comando da entidade, em 2021, esses dirigentes recebiam R$ 50 mil por mês. Atualmente, os vencimentos estão em R$ 215 mil, um reajuste de quase 200%, além do direito ao 16º salário.
Vale destacar que a reeleição de Ednaldo foi unânime, com apoio das 27 federações estaduais e dos 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro.
Benefícios pagos pela CBF a dirigente e família
A reportagem também cita o caso de Roberto Góes, presidente da Federação Amapaense de Futebol e vice-presidente da CBF. A confederação arcou com as despesas de sua estadia em um hotel de luxo em São Paulo, além de passagens aéreas para que ele viajasse com a esposa, a irmã e a filha. O motivo oficial era um procedimento cirúrgico da esposa do dirigente, a advogada Gláucia Costa Oliveira. Após a operação, Góes pediu para permanecer por mais dez dias na capital paulista, o que foi autorizado por Ednaldo.
O custo total desse benefício foi de R$ 114 mil. Questionado sobre o caso, Ednaldo afirmou que as despesas pessoais dos familiares dos dirigentes são custeadas por eles próprios.
CBF cortou verba para treinamentos de arbitragem
Apesar dos gastos elevados com dirigentes e convidados, a CBF suspendeu o financiamento de viagens e hospedagens para árbitros da Série A, que realizavam treinamentos quinzenais no Rio de Janeiro. Segundo a entidade, a justificativa foi uma restrição orçamentária, e a avaliação dos árbitros passou a ser feita virtualmente.
A decisão gerou críticas dentro da confederação, especialmente porque o então chefe da Comissão de Arbitragem, Wilson Luiz Seneme, havia proposto a criação de um centro de treinamento exclusivo para árbitros, com alojamentos, campos de futebol e tecnologia para simulação de jogadas. O projeto, estimado em R$ 60 milhões, chegou a ser aprovado por Ednaldo, mas não saiu do papel. Seneme acabou deixando o cargo após uma série de polêmicas sobre o desempenho da arbitragem na temporada passada.
Pagamento milionário a ex-rival e polêmicas jurídicas
A revista também revela que a CBF efetuou um pagamento de R$ 2,5 milhões a Gustavo Feijó, ex-dirigente da federação de Alagoas e antigo adversário de Ednaldo na disputa pelo comando da entidade. Feijó chegou a ser cotado para liderar uma chapa rival, mas desistiu após receber o valor, supostamente referente a uma ação judicial movida contra a confederação.
Além disso, a reportagem destaca um pagamento de R$ 10 milhões feito pela CBF à advogada Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro, ex-representante de Arthur Lira (PP-AL), atual presidente da Câmara dos Deputados, e hoje ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Denúncias de assédio e abuso de poder
Outro caso polêmico revelado pela revista envolve a arquiteta Luísa Xavier da Silveira Rosa, que entrou com uma ação trabalhista contra a CBF. Inicialmente contratada para coordenar a construção de centros de treinamento, Luísa teve um pedido de demissão negado por Ednaldo, que a nomeou diretora de patrimônio. Segundo sua advogada, a decisão foi apenas uma jogada de marketing, já que Luísa sofreu retaliações, foi isolada de suas funções e recebeu um salário menor do que seu antecessor.
Além disso, a arquiteta denunciou casos de assédio moral e sexual dentro da entidade. Segundo ela, era comum a contratação de prostitutas para eventos organizados pela CBF, além de comentários misóginos e abordagens inadequadas de dirigentes. Dois nomes citados foram Rodrigo Paiva, ex-diretor de comunicação, e Arnoldo de Oliveira Nazareth Filho, da Federação Amazonense de Futebol. Ambos foram alvo de processos judiciais movidos por Luísa.
Em resposta, Paiva afirmou que sempre trabalhou contra a cultura do assédio. Já Nazareth Filho não se manifestou sobre as acusações.
com informações do Portal Terra e Revista Piauí