“Ar-ras-caeta! Ar-ras-caeta!”. Durante quatro anos, esses gritos ecoaram inúmeras vezes das arquibancadas do Mineirão graças a um uruguaio tímido em entrevistas, mas talentoso com a bola nos pés. Com arrancadas, dribles, assistências e gols, ele encantou a torcida do Cruzeiro e teve participação decisiva em três títulos recentes do clube: Copas do Brasil de 2017 e 2018 e Campeonato Mineiro de 2018.
Só que a idolatria dos torcedores ao ex-camisa 10 se transformou em repulsa por causa da saída conturbada dele de Belo Horizonte, em janeiro. Com proposta do Flamengo e influenciado por seu empresário, Daniel Fonseca, Arrascaeta decidiu não se reapresentar na Toca da Raposa II, forçando a diretoria mineira a negociá-lo. No fim, o rubro-negro teve de desembolsar 18 milhões de euros, sendo 13 milhões (R$ 55,25 milhões) exclusivamente pela fatia de 50% dos direitos econômicos que cabiam à Raposa, em parceria com o Supermercados BH.
Nas redes sociais, Arrascaeta foi duramente criticado pelos cruzeirenses, que o chamaram de “traidor” e “mercenário” em virtude de sua postura. Houve, inclusive, comparação a Judas Iscariotes, apóstolo responsável por entregar Jesus Cristo aos soldados romanos, de acordo com evangelhos da Bíblia. Discreto, o uruguaio se limitou a agradecer ao ex-clube em um print de WhatsApp, para, em seguida, confirmar seu acerto com o Flamengo.
Depois de início um pouco apagado, Arrascaeta evoluiu no Rio de Janeiro e hoje é um dos principais destaques do grupo rubro-negro em 2019. No Campeonato Brasileiro, ele marcou oito gols em 11 jogos, além de colaborar com sete assistências. Na temporada, contabiliza 12 tentos em 35 apresentações. Certamente, é um dos adversários que mais preocupam o sistema defensivo do Cruzeiro para o jogo de sábado, às 17h, no Mineirão, pela 20ª rodada da Série A.
Será a primeira vez em que Arrascaeta pisará no gramado do Gigante da Pampulha desde que deixou o Cruzeiro. Os números dele no estádio enquanto atleta do clube foram expressivos: 30 gols em 94 jogos. Na final do Mineiro de 2018, contra o Atlético, o meia marcou o primeiro gol da vitória por 2 a 0, suficiente para o título. No Mineirão, ele também participou da decisão da Copa do Brasil de 2017, empatada por 0 a 0 com o Flamengo no tempo normal e vencida pelo Cruzeiro nos pênaltis, por 5 a 3.
No geral, Arrascaeta se tornou o maior artilheiro estrangeiro do Cruzeiro, com 50 gols, e também o que mais atuou, com 188 jogos. Outro dado relevante do uruguaio é em relação ao “peso” dos gols com a camisa azul. De 47 partidas em que ele foi às redes, o time ganhou 32, empatou 10 e perdeu apenas cinco, com aproveitamento de 75,17%.
“É um jogador que nos deu muita alegria quando esteve aqui conosco. Nos ajudou em conquistas e em momentos difíceis também. Foi um jogador importante, mas saiu de uma forma que, no futebol, não foi tão legal. Mas isso é escolha de cada um, e acho que ele sabe muito bem da repercussão. Agora tem o reencontro, é um atleta de altíssimo nível, estava até pouco tempo conosco, já nos enfrentamos lá no Rio”, disse o volante Henrique, ressaltando em seguida a importância de a equipe buscar bom resultado para sair da zona de rebaixamento (atualmente em 17º, com 18 pontos).
“Acho que será um grande duelo, não somente nosso, mas também deles. Eles também respeitam o Cruzeiro. Vamos com tudo para buscar o resultado, independentemente de quem esteja do outro lado”.
Arrascaeta ainda renderá dinheiro ao Cruzeiro. Em dezembro, o Flamengo pagará a última parcela da compra de seus direitos, de 3 milhões de euros (R$ 13,5 milhões, na cotação atual). Por sua vez, a diretoria celeste chegou a acordo com o Supermercados BH para quitar dívida de 2 milhões de euros (mais de R$ 9 milhões) em 24 parcelas, até dezembro de 2022. O empresário Pedro Lourenço, dono da rede varejista e conselheiro do clube, havia emprestado dinheiro para a aquisição do jogador ao Defensor do Uruguai, em janeiro de 2015.
Com Superesportes